“Nem é Maduro. É o que resta do legado de Chávez”, avalia Janio de Freitas

Jornal GGN – Para Janio de Freitas o problema do desabastecimento na Venezuela, levando a população a uma crise aprofundado de acesso a alimentos e recursos básicos “não é obra Chávez nem do perplexo Maduro”.

“Não esqueçamos que o desabastecimento já foi vitorioso aqui, contra o Plano Cruzado do governo Sarney. Aqui foi o empresariado. Lá foram os governos americanos e alguns europeus”, pondera na coluna publicada nesta quinta-feira (28), na Folha de S.Paulo.

Isso explica porque, não apenas os militares, mas parte da população continua mantendo apoio ao governo Maduro.

“Hugo Chávez sabia o que queria. Maduro, não. Chávez, na luta de poder, estava no seu ambiente. Maduro é neófito, entrou logo no jogo pesado, que não entendeu ainda. Donald Trump sabe o que quer e está bem em qualquer ambiente que não seja de pessoas de bem”.

Janio lembra que a “miséria histórica do povo venezuelano recebeu de Chávez o que nunca lhe fora dado nem em pequena parte”.

“As primeiras grandes e terríveis favelas da América do Sul surgiram em Caracas, circundando a cidade. A grande riqueza concentrada no poder econômico era fruto do petróleo e de entrega do patrimônio mineral. Isso mudou com Chávez. Diminuiu”, pontuou.

Quanto ao apoio dos militares, Janio explica que, antes de Chávez, o país vivia uma fase de luta interna e a categoria se preocupa agora com um o possível retorno desse conflito.

“As atenções com a pobreza, embora insuficientes, reduziram esse risco —e por aí se entende parte da atual posição militar e se nega que Maduro só tenha apoio das Forças Armadas. Nem é Maduro. É o que resta do legado de Chávez”, explica.

Sobre a estratégia de Trump, o colunista retoma a necessidade de se fazer uma análise mais ampla, sobre a trajetória geopolítica norte-americana.

“Os Estados Unidos apoiaram todas as ditaduras de direita na América Latina. Suas reservas aos ditadores Getúlio e Perón não eram de oposição. Como complemento desse repúdio à democracia, jamais colaboraram para a instalação da democracia em país algum da AL”, pontua completando em seguida:

“Quando [os EUA] ajudaram a subida de novo governante, foi pela certeza de que teriam um títere (“laranja”, para a intelectualidade brasileira). E sempre que um governante insinuou pretensões de soberania, os governos dos Estados Unidos o combateram, por ações diretas e por via das suas redes de nacionais subservientes por interesse”.

O artigo de Janio começa destacando a reunião histórica realizada pelo papa Francisco na última semana, no Vaticano, reunindo quase 200 prelados para reconhecer, debater e expor os abusos sexuais no clero.

“[Esse] é, talvez, o mais importante ato no âmbito da Igreja Católica desde o rompimento de Martinho Lutero, a completar 500 anos daqui a 14 meses”, avalia Janio arrematando que “expor a instituição incomparável da Igreja Católica, e seus prelados de ares monárquicos e intangíveis”, “é algo sem precedente sequer parecido”.

O mais equivalente a isso seria os Estados Unidos expor e admitir crimes de guerra em Hiroshima, Nagasaki, Tóquio, Vietnã. “Além da destruição apenas vingativa, que até o obsessivo guerreiro Churchill denunciou, de cidades alemãs. E ainda a perversidade de sua dominação, direta ou indireta, de tantos países sem condições de enfrentamento”, continua Janio de Freitas.

Sua ponderação segue para a relação dos Estados Unidos com a América Latina, num modelo de relação autoritária que se mantém até hoje.

“Os nomes espanholados indicam a propriedade original e legítima: Califórnia, Colorado, Alabama, Texas, Nevada, Flórida. O major general Smedley D. Butler fez outra lista: em 33 anos de ações militares, participou de guerras dos Estados Unidos ao México (várias invasões e ocupações), Haiti, Cuba, Nicarágua, República Dominicana, Honduras e China. Em outra lista, relaciona aos países os interesses que moveram tais ações bélicas: petróleo, National City Bank, Banco Brown Brothers, produtores/exportadores de açúcar, companhias frutíferas (United Fruit, Chiquita Banana), Standard Oil (para nós, Esso ou Exxon)”. Para ler a coluna de Janio na íntegra, clique aqui.

Redação

Redação

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  • Que bom que o Jânio citou, entre tantas informações históricas, o plano cruzado e o quanto ele poderia ter dado certo sob o ministro Dilson Funaro se as correções aconselhadas fossem aplicadas no tempo certo.
    Ninguém mais cita, ou talvez não se lembre da nossa venezualização dos finais anos 80.
    Todo mundo fica escandalizado com os rapazes falando mal de Maduro na boca do caminhão do lixo, mas o brasileiro que rasga os sacos de lixo no centro da cidade pra tirar os restos da comida antes do caminhão passar, esse, ninguém mostra, e quem vê, acha natural.
    Acho interessante como a nossa história recente se não é soterrada, ignorada ou distorcida, se repete como portentosa novidade.
    O que o brasileiro tem de excelente é a sua elite - mais hipócrita, perversa e impatriótica que qualquer outra.
    Digo isso assistindo ao garoto que improvisou uma quadra no quintal da favela em que mora, nos arredores de Brasilia, e foi por isso "descoberto" e convidado para aparecer na tv e fazer uma reportagem com o Guga.
    Se Chavez deixou algum legado, que Maduro tenta desesperadamente manter, no Brasil, nenhum respirar de direito social deve ser mantido, que é para não dar vãs esperanças ao proletariado. Esse, deve saber o seu lugar e os latinos americanos, por sua vez, devem se contentar com o seu destino de periferia do mundo civilizado, conforme o planejado.

  • O meu amigo, ex-militar, diz que o Brasil tem 5.570 municípios. Eu digo a ele que eu achava que o Brasil tivesse mais Municípios, sugerindo-lhe que o Brasil deveria anexar alguns municípios da Venezuela. Ele discorda, afirmando que o Brasil deve tomar apenas a PDVSA. Depois ele desiste da idéia, porque se o Brasil tomasse a PDVSA o Trump iria bombardear o Brasil e não mais a Venezuela.

  • Parece que o jornalista Jânio de Freitas não entendeu, ou não quer entender, o que ocorreu no Plano Cruzado e na Venezuela. Quando o preço é tabelado, e custo de produção ou comercialização, mais o lucro, não são cobertos por aquele preço, a atividade econômica é interrompida, simplesmente. Ninguém trabalha para ter prejuízo. Não existe essa figura do empresário ganancioso escondendo mercadoria. Um comerciante jamais manteria seu estabelecimento aberto para não vender nada e esconder mercadorias. Isso é uma tremenda bobagem.

    • Ninguém trabalha para ter prejuízo mas ninguém precisa necessariamente trabalhar para ter lucro. Um filhinho de papai quemesmo sem nunca ter trabalhado na vida recebe uma fortuna de herança e investe na bolsa, lucra sem trabalhar. Se alguém lucra sem trabalhar, é porque alguém trabalha sem lucrar.

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