Temer tenta evitar fuga de aliados para se manter na Presidência

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Por Hylda Cavalcanti

Temer tenta ganhar tempo para evitar pedido de impeachment

Parlamentar próximo do presidente diz que “muita coisa pode mudar” e que “ainda não é o momento de se jogar a toalha”

Da RBA

A oposição diz que obstruirá qualquer votação no Congresso Nacional até o acolhimento de algum dos oito pedidos de impeachment do presidente Michel Temer. Aliados e empresários consideram o governo “no fim da linha” e o julgamento da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve se realizar no dia 6 de junho. Mesmo assim, várias pessoas se perguntam os motivos pelos quais Michel Temer resiste e ainda não renunciou.

Podem até estar certos os argumentos de que tudo consiste em birra pessoal. Mas o presidente da República, segundo alguns assessores e políticos mais próximos a ele, faz uso de uma verdadeira estratégia de guerra junto aos ministros da sua equipe política, advogados e assessores mais antigos com o intuito de manter a base aliada e evitar a debandada de deputados e senadores. Ele acredita que, se conseguir isso, terá forças para se segurar no cargo.

Um líder ligado ao governo, com quem a RBA conversou esta manhã em reservado, afirmou que apesar de não ter como negar o desânimo da equipe, a principal intenção agora é fazer o Executivo ganhar tempo até o curso da investigação contra Temer e tentar evitar um processo de impeachment em caráter imediato – que dependeria, em parte, da força do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que não tem a liderança observada em alguns dos seus antecessores.

“Tudo pode mudar a qualquer instante. Não sabemos o teor das próximas delações que vêm por aí, que partidos e políticos vão atingir, se as informações a serem reveladas não podem reduzir o tamanho da crise. Na quarta-feira (17) o clima era de fim de jogo, ontem houve um certo alívio. Ainda não é o momento de se jogar a toalha. O negócio é trabalhar porque nada está perdido”, disse.

O trunfo apresentado por esse parlamentar e também por assessores de Temer – e que tem sido utilizado como discurso – é que o governo conseguiu reverter a saída dos ministros do PSDB depois das conversas realizadas ontem e, com isso, tende a evitar a debandada de outras siglas da mesma forma. O que não anima integrantes do governo espalhados pela Esplanada dos Ministérios, uma vez que se sabe que os tucanos estão divididos. Além disso, já anunciaram a retirada da base aliada os partidos PPS e Podemos (ex-PTN).

Neste xadrez, a avaliação de oposicionistas é que pode ser retomada a cultura de oferecimento de novos cargos nos estados e até de reforma ministerial numa renegociação com os partidos. O presidente também vai, conforme contaram assessores, chamar governadores com quem mantém bom relacionamento para pedir a eles ajuda junto às bancadas.

Melhor ou pior opção?

A versão oficial no Palácio do Planalto e entre peemedebistas do círculo mais próximo do presidente é de que os conselhos a Temer para que renuncie do cargo cessaram depois das recusas dele. Já no Congresso, o que se diz em reservado é que a base está rachada e muitos aliados continuam achando que a renúncia é a melhor opção, insistindo em tratar sobre o tema com Temer.

Uma dúvida que paira entre os caciques do governo, internamente, diz respeito à postura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) – também diferente do pensamento que tem sido manifestado por Temer. “O presidente tem dito que confia amplamente em Maia e acha que, sendo bem orientado, ele será capaz de segurar o acolhimento de algum pedido de impeachment e conversar com os parlamentares. Considera que a batalha é política e tem que partir da Câmara, mas muitos têm ponderado que Maia não terá força suficiente para tanto”, disse esta fonte.

No Congresso, o clima entre os oposicionistas é de não permitir que isto aconteça. O senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou durante a manhã de Recife, onde se encontra, que “o governo se esgotou”. Segundo ele, “não há muito o que fazer”. “Temos uma crise política talvez na dimensão da de 1964. A solução é criarmos um mecanismo jurídico para convocarmos eleições gerais”, disse.

O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) afirmou que depois que ouviu o áudio das conversas entre Temer e o empresário Joesley Batista considerou a situação “mais grave do que esperava”. “O que vimos foi um presidente que tem conhecimento jurídico orientando um dos maiores empresários do país a continuar cometendo crimes e dando-lhe alguns cuidados para não ser preso. Isso é gravíssimo, não há dúvidas de que é um caso para impeachment”. Molon avalia ainda que “a cada dia que permanece à frente do país, Temer vai aprofundar a crise econômica e a instabilidade política”.

Sangramento da nação

O líder do PV no Senado, senador Álvaro Dias (PR), por sua vez, disse considerar que “a não renúncia tem o sentido da preservação desse guarda-chuva protetor do foro privilegiado”. “É ruim para o país e faz a nação continuar sangrando”, ressaltou.

Entre os aliados do presidente, o discurso é de que é preciso fazer o país “continuar a andar”. O deputado Baleia Rossi (PMDB-SP) defendeu hoje o que chamou de “funcionamento das instituições democráticas em favor do povo”. “O que queremos é investigação célere sobre este caso, mas temos que continuar com as votações importantes”.

O líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), destacou a importância de se começar a discutir, a partir da próxima semana, a retomada das reformas – que tiveram tramitação suspensa pelos seus relatores nos últimos dias. E o vice-presidente do Senado, João Alberto de Souza (PMDB-MA), afirmou que serão mantidas as votações na Casa, conforme a agenda definida pela mesa diretora.

Os oposicionistas já deixaram claro: nem mesmo matérias que precisam de votação em segundo turno serão votadas. A intenção deles, tanto na Câmara como no Senado, é obstruir tudo. A briga será pelo acolhimento de um dos pedidos de impeachment. “Sobre um governo que não conseguiu estabelecer nenhuma melhoria para o povo brasileiro, que chegou ao poder por meio de um golpe e ainda por cima é pego nestas circunstâncias não há mais o que dizer. Este presidente da República já passou da hora de ir embora”, acrescentou o deputado Carlos Zarattini (PT-SP).

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

3 Comentários

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  1. A melhor do dia

    Chegou a cavalaria:

    Advogados entram com habeas corpus para Temer alegando que Joesley se aproveitou dele por ser “idoso”

    Postado em 20 de maio de 2017 às 9:21 am

     

    Um grupo de advogados do interior de São Paulo ingressou com pedido de habeas corpus no STF para arquivar inquérito contra Temer.

    Assim eles descrevem a reunião de Michel com o dono da JBS:

    “Por primeiro é importante repisar que se trata de um diálogo entre um homem de negócios esperto com 45 anos de idade e um idoso com 76 anos de idade. Não se quer dizer que o paciente não seja pessoa esperta, habilidosa, mas convenhamos que existe um desequilíbrio”.

    Se depender desse tipo de ajuda, MT já está na cadeia.

    http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/advogados-entram-com-habeas-corpus-para-temer-alegando-que-joesley-se-aproveitou-dele-por-ser-idoso/

     

  2. Um bando de macho pregado no

    Um bando de macho pregado no poder, fingindo não ser possível abandoná-lo. Na verdade, por meios escusos, tantas de suas ações ilegais ainda em andamento não podem ser relevadas assim, de qualquer jeito. 

    Ressurgiram Carlos Sampaio de Jereissate, das sombras, pois só faltavam perder a língua de tanto gritar contra Lula e Dilma na tribuna do Congresso, e ficaram pianinho, quietinhos nesses tempos sombrios por falta de argumentos. Agora, mesmo diante de batom na cueca, se arvoram em dizerem que não viram nada demais que pudesse comprometer Temer; quanto a Aécio, está tranquilo, e tal e coisa. “Fingem tão competamente que chegam a fingir que dor é a dor que deveras sente”.

    Álvaro Dias, dissidente do PSDB, que até hoje não sei porque mudou, sente-se tranquilo pra dizer o que pensa, ainda que guarde por seus antigos correligionários apreço e consideração. Estivesse no ninho, por certo seguiria os fingidores.

    O que não podemos admitir é que um governo decadente, que diz na lata do povo suas desnecessidade de apoio popular, como se já estivesse tramando nos bastidores sua permanência de ditador, se fartando com a compra das cabeças impensantes de seus cupinchas, conseguir por alguma malandragem a mais prosseguir determinando os destinos do nosso povo.

    Por via indireta, mesmo com o afastamento desse escorpião, é impossível a não-continuidade desses projetos em andamento, e aplicação das já sancionadas maldades. 

    O problemas das diretas já é o mesmo enfrentado por Lula em relação à Lava Jato, se o cara sobe nas pesquisas como u furacão. Aliás, o jurista Modesto Carvalhosa disse a Gamberini que esse negócio de diretas já é coisa de petista que continua tentando colocar seu ídolo novamente no poder. Anti-petista doente, pelo visto, que já está dando entrevista até na Globo

    Outro dia eu pensei comgo, ao ver aquele caos brasileiro, antes das delações atuais, que NO MEIO DO CAMINHO TEM UMA PEDRA, significando que nunca perco as esperanças de dias melhores, apesar de tudo. No outro dia a Globo deu a notícia extraordinária, mudando em seguida todo aquele quadro, sem que outro bacana ainda possa ser vislumbrado. Mas eu que não vou deixar a esperança morrer. 

     

     

  3. tá fú e tamos fú

    A eventual ajuda neste momento é o abraço do afogado, custa caríssimo e nada resolve.

    Dinheiro para comprar o apoio agora é a vista e nada de promessa de cargos, a não ser do banco central e por umas horas.

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