Fiel da balança

Governabilidade do país depende do apoio das lideranças de Minas Gerais
Otávio Dulci, Cientista Político, professor do Departamento de Relações Internacionais da PUC Minas
Foto: Reprodução, Otávio Soares Dulci
 
Jornal GGN – O peso de Minas Gerais no cenário nacional está na importância da sua bancada no Congresso Nacional e do eleitorado que influenciam a escolha presidencial, como ocorreu em 2014, assim como nos três golpes – de 1930, 1964 e 2016. Essa é a avaliação do cientista político mineiro Otávio Soares Dulci, professor do Departamento de Relações Internacionais da PUC Minas.
 
Em sua centralidade espacial no desenho do Brasil, a política mineira começa com a descoberta das minas de ouro e diamante, no período colonial. Na formação da Capitania das Minas, com a necessidade forte controle estatal, mais do que o exercido no restante do Brasil. “Vassalos rebeldes, difíceis de organizar e de controlar”, como bem definiu a historiadora Carla Anastasia, no seu livro Vassalos rebeldes – Violência coletiva nas Minas na primeira metade do século XVIII (C/Arte, 2. ed.), lembra Dulci.
 
O sistema político desde a colônia fundamenta-se no municipalismo, inspirado na tradição portuguesa, que tinha como pilares os poderes das famílias governamentais. Assim, o governo do estado somente poderia governar se contasse com as lideranças regionais. Já no Império, Minas tinha a maior representação no parlamento e primazia na formação ministerial.
 
Otávio Dulci destaca que a posição de Minas Gerais no sistema republicano foi de um isolamento inicial, nos primeiros 15 anos, até ingressar no poder nacional com Afonso Pena, em 1906 e prosseguiu até 1930, quando ocorreu uma ruptura parcial com o poder central e abertura para uma fase nova.
 
Outra mudança política em Minas foi a cisão da elite política, “antes muito coesa, em face do regime autoritário do Estado Novo: a maioria com o regime, mas minoria significativa contra ele, que lançou o Manifesto dos Mineiros de 1943. Essa cisão foi importante e se refletiu no cenário da abertura de 1945-1946 e na reorganização dos partidos”.
 
No novo arranjo partidário, após 1946, observa-se a tendência gradual de declínio dos partidos e centro ou conservadores: “O poderio do PSD se viu em xeque com a eleição de 1947, ganha pela UDN, em função da divisão do PSD”.
 
Segundo o professor da PUC Minas, nas décadas seguintes emergem máquinas estaduais/municipais, lideranças e influência de famílias políticas, mas também ideias e projetos novos, com planos econômicos e iniciativas empresariais impulsionadas pelo governo.  Nesse contexto, foram criados vários órgãos para conduzir a política econômica, como o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), em 1962, e a Cemig (1952).
 
Durante o regime militar, a partir de 1964, com a política em suspenso, segundo o professor, “a economia se dinamiza enormemente, e a atuação do estado ganha relevo nesse terreno, com novas iniciativas e com os novos órgãos de fomento”. Houve a ascensão da tecnocracia, com a reiteração da tese do patrimonialismo em novas circunstâncias, agora urbano-industriais.
 
O tempo passou e na Assembleia Nacional Constituinte de 1988, a bancada mineira foi expressiva nos debates, com pluralidade da representação, em termos de classes e setores. Isso indicava um novo perfil dos quadros políticos, com a recomposição de setores antigos e novos.
 
A bancada federal de Minas e também a composição da Assembleia Estadual em várias legislaturas foi se adaptando aos novos tempos, com ascensão das mulheres, ainda que lenta; ingresso de representantes do funcionalismo público, professores e policiais, representantes das classes trabalhadoras, tendência que veio dos anos 1960 e se expandiu com o surgimento de novos partidos trabalhistas, como o PT.
 
A evolução dessa trajetória mostra avanços e retrocessos, como o movimento atual de fortalecimento da bancada mineira BBB – bíblia, bala e boi, com representantes de origem religiosa, evangélicos e católicos em menor proporção; ruralistas, cada vez mais organizados; e deputados policiais, civis e militares. Um novo quadro que, segundo o professor, deve ser cuidadosamente analisado. 
 
*Apresentação de Otávio Dulci realizada no Seminário Minas e seus caminhos, promovido pelo BDMG Cultural, com curadoria do historiador Caio Boschi, em Belo Horizonte, maio de 2018, em comemoração aos 30 anos da entidade vinculada ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).
 
Redação

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