A falta de legado da infraestrutura nacional

Jornal GGN – Os problemas de infraestrutura no Brasil não são novos. A fragilidade de ter um sistema totalmente dependente do modal rodoviário é um assunto que sempre vem à tona. Basta um movimento qualquer de alta do preço do petróleo para que o frete fique mais caro e pressione as margens dos produtores.

A solução acaba sendo óbvia. Investir em outros modais, principalmente o ferroviário. O problema é que os investimentos são altos e de longo prazo. Assim, o retorno é questionável. A mídia diz que o modelo escolhido pelo governo gera exposição fiscal. Especialistas do setor dizem que o que gera exposição fiscal é o próprio negócio.

De todo modo, a iniciativa privada não aceita assumir sozinha os riscos. O governo precisa participar com investimentos ou encontrar maneiras de compensar o investidor. E no momento de ajuste fiscal essa possibilidade fica mais distante.

O assunto foi abordado, no 64º Fórum de Debates Brasilianas.org, pelo idealizador e primeiro presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo.

Ele lembrou um estudo que a EPL entregou em 2013, compilando todos os relatórios de déficit do setor de transportes de diversas fontes. O trabalho demonstrou que o Brasil tem um atraso de investimentos na ordem de R$ 700 bilhões para o setor. E só está realizando R$ 15 bilhões de investimento por ano, volume incapaz de zerar o passivo.

Para ele, o Brasil tem outro problema sério, que é a ausência de um projeto de longo prazo, acima dos radicalismos partidários, do qual a sociedade se aproprie e faça acontecer. “A gente sempre é um país do futuro. O futuro só vai ser presente se a gente, no presente, começar a construir o futuro”.

Leia também: A praga da descontinuidade administrativa, por Luis Nassif

Os problemas de sempre, ainda

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“Os problemas que a gente tem hoje são os mesmos que a gente tinha em 70, quando o preço do petróleo teve uma elevação muito rápida e todo mundo ficou preocupado porque o transporte rodoviário não seria mais a modalidade adequada para nossas cargas. E hoje continua sendo a modalidade que transporta todas as nossas cargas. A gente continua com os mesmos problemas. E basicamente porque a gente não faz no dia a dia o que tem que fazer para que os problemas mudem, ou para que as soluções sejam construídas”.

Leia também: Avanços e desafios da infraestrutura logística

A cumplicidade da sociedade na execução da agenda nacional

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“Eu vejo muito as pessoas falarem: ‘precisa investir, precisa investir, precisa aumentar o investimento’. Mas não é. Nós não precisamos fazer qualquer investimento. Nós não temos condição de fazer todos os investimentos. A gente precisa saber onde é que quer chegar com esse tanto de investimento. E é preciso ter um consenso. A sociedade precisa se apropriar disso. O que nós queremos para o futuro não muda. O que nós precisamos fazer de logística não pode mudar. A gente tem que continuar construindo. Porque pra eu fazer um sistema ferroviário desses eu gasto dez, quinze anos. Então, não é o horizonte de um governante. A sociedade tem que se apropriar disso e exigir que cada governante dê continuidade”.

Leia também: A crise econômica e os investimentos em infraestrutura

As falhas regulatórias que viabilizam o rodoviário na longa distância

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“A gente fez uma lei para limitar a jornada do motorista em dez horas e ela não pegou. E não pegou porque se ela pegasse ia ser um desastre. Porque o frete ia ser impagável. Porque ia aumentar o custo de todo mundo.  Então, a gente precisa ver os problemas, ver porque eles acontecem, e criar uma solução estrutural que resolva os problemas sem gerar outros problemas. O fato de andar com excesso de carga, com caminhão velho, e o motorista dirigindo 19 horas por dia é que permite que o transporte rodoviário ainda seja competitivo na longa distância”.

Leia também: A necessidade de diversificação na matriz de transportes

Ferrovias do século passado para uma economia do século passado

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“Nós temos segmentos de ferrovia que são as mais produtivas eficientes e modernas do mundo. São aquelas que transportam minério. A gente fala que tem 28 mil quilômetros de ferrovia. Temos nada! O que nós temos que é explorado são oito mil. 20 mil estão abandonados. Não passa um trem por dia. Por quê? Porque são ferrovias que foram construídas há mais de 100 anos para uma economia que é uma economia de 100 anos atrás, que não tem nada a ver com a economia de hoje”.

O pensamento estratégico na logística e a concorrência internacional

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“Qual é a nossa questão? Nós temos que criar infraestrutura competitiva. Não dá pra você pegar uma ferrovia do século XIX e botar um trem circulando, igual eu vi na China, com 20 mil toneladas andando a 80 km/h. Um trem a cada cinco minutos. É assim que o nosso competidor opera. Eu sofri muito bullying por causa do trem de alta velocidade. Mas era um negócio assim: ‘Não. Vamos fazer um trem de média velocidade’. Então, vamos sair do final do século XIX para o meio do século XX. ‘Já está bom demais pra nós’. Não está não, gente. Nós estamos competindo com gente que está no século XXI. Nós temos que trazer o negócio para o século XXI”.

O diagnóstico ignorado da EPL para a logística nacional

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“Nós compilamos 4 mil projetos. Eliminamos 2208 porque era projetos duplicados ou que eram só ideias que não tinham nenhuma consistência. E selecionamos 1901 projetos que eram percebidos como prioritários pela sociedade como um todo, por todos esses agentes que fizeram esses estudos. Desses 1901 projetos, 698 estavam previstos de alguma forma no PAC e no PIL. E tinha 1203 que estavam descobertos. O PAC e o PIL encaminhavam investimentos de R$ 289 bilhões. Nós precisávamos botar mais R$ 370 para zerar o que todo mundo percebia como déficit. Como continua tudo mais ou menos igual, nós podemos falar que hoje nós temos um déficit da ordem de R$ 700 bilhões. São investimentos que a gente tem que fazer para cobrir o que deixamos de fazer. Não é nem para andar muito para a frente. É para não andar mais pra trás”.

Um modelo institucional para a logística integrada

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“O que a gente precisa fazer fundamentalmente para começar a ter eficiência no investimento público é trabalhar com previsão. Não tem mágica. Você gasta dois anos para pegar um projeto do zero e colocar ele em condições de ser implantado em regime de eficiência. A maior parte das coisas do TCU, Ministério Público, que fica parando obra é consequência de projeto mal feito, licenciamento mal feito, coisa feita depressa. A gente precisa trocar a pressa pela continuidade de trabalho. Eu consigo licitar R$ 100 bilhões todo ano, se eu começar a trabalhar cada ano dois anos antes”.

Bernardo Figueiredo, idealizador e primeiro presidente da EPL from Jornal GGN
Redação

9 Comentários

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  1. Por que o TCU vive atrasando as obras?

    Basta pesquisar no Google e verá que muitas obras atrasam por causa do TCU. Um exemplo foi o atraso na licitação das linhas de transmissão de energia que Belo Monte precisa. Ideli Salvatti responsabilizou anos atrás o TCU pelo atraso no aeroporto de Vitória. Olha o que a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários diz: “TCU demora em aprovar edital para concessão de ferrovia”:

    http://www.antf.org.br/index.php/noticias/4718-tcu-demora-em-aprovar-edital-para-concessao-de-ferrovia

    A reportagem em que Ideli Salvatti responsabiliza o TCU pelo atraso nas obras do aeroporto de Vitória:

    http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2013/04/ministra-responsabiliza-tcu-por-atraso-em-obras-de-aeroporto-no-es.html

  2. Aí, os donos das grandes

    Aí, os donos das grandes transportadoras, ao verem que o seu negócio de transporte de cargas a longas distâncias está ameaçado eles não pensam duas vezes. Tratam logo de contratar uns bandidos e colocá-los nas estradas para montarem piquetes a força. Por isso, o objetivo dos donos das grandes transportadoras é uma só: derrubar a Dilma. Assim, eles imaginam que irão parar com o processo de contrução de ferrovias:

    Vejam o depoimento deste caminhoneiro:

    https://www.youtube.com/watch?v=NEkTST5lJYo

  3. Infraestrutura no Brasil é

    Infraestrutura no Brasil é IGUAL OVNI!

    Muita gente já viu, mas NINGUEM ACREDITA QUE EXISTA!

    É preciso separar o que existe de infraestrutura, do que sendo feito e o que precisa SER FEITO!

    Ficar falando em nada, que não existe, NÃO DÁ MAIS….

    Discurso FURADO!

  4. Esive na polonia. Viajei de

    Esive na polonia. Viajei de varsovia p cracovia de trem. Um trem estilo russo, estilo ainda “sovietico antigo”, balancava bastante, entretanto, viajando uns 150 km/h depois de 3,5 h chegamos 4 min atrasados no destino.

    Viagem deliciosa, confortavel, um trem ate charmoso e muito eficiente ! Ah se o brasil tivesse um trem desses. Alias, nao esquecam q o brasil regrediu, tem uns 10 mil km a menos que na decade de 60.

  5. Hoje o Brasil é dos países

    Hoje o Brasil é dos países que mais tem obras de infraestrutura em andamento. Mesmo enfrentando a oposição da mídia e barreiras, devidas à oposição política, no TCU, MP e Judiciário. Há problemas seculares sendo enfrentados. Mas são problemas que não se resolvem todos em tão pouco tempo.

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