por Vanessa Martina Silva
Não foi notícia na Colômbia nem em qualquer outra parte do mundo, muito menos no Brasil, mas na última terça-feira (7), uma comissão no Senado colombiano debateu, na presença do ministro da Defesa do país, Diego Andrés Molano, a situação do chamado Clã do Golfo, maior fação criminosa colombiana e a extradição de seu líder máximo, Otoniel, para os Estados Unidos.
Apesar do silêncio midiático, foram levantados pontos importantes a respeito de como a outrora chamada “narcopolítica” colombiana se reorganizou em torno dessa organização, no país chamada de Bacrim, cuja tradução mais aproximada para o português seria facção criminosa.
O senador pelo Partido da Aliança Verde Antonio Sanguino denunciou, durante a sessão, que a extradição de Otoniel tem o objetivo de omitir a verdade. Além disso, a atual vinculação entre o narcotráfico e a política é uma “versão mais degradada” do que foi a parapolítica nos tempos do ex-presidente Álvaro Uribe (2002 – 2010).
“O clã do Golfo é o maior e mais poderoso exército do país. É uma dissidência do fragmentado processo com as AUC [Autodefesas Unidas da Colômbia], uma herança do governo Uribe que permitiu falsas desmobilizações e falsas entregas de armas”, afirmou o senador Iván Cepeda, do Partido Pacto Histórico Alternativo em uma série de publicações no Twitter. Ele participou com Sanguino da sessão de terça-feira no Congresso.
Otoniel
A primeira questão que é preciso esclarecer é: quem é Otoniel? Batizado como Dairo Antonio Úsuga David, ele também já usou Mauricio e Mao como “nomes de guerra” e era o homem mais procurado da Colômbia.
Em 23 de outubro de 2021, Otoniel foi capturado no estado de Antioquia em uma ação conjunta entre a Polícia Nacional, a Força Aérea e o Exército da Colômbia. De acordo com a Revista Semana, foram utilizados 500 homens das forças especiais, 150 unidades de inteligência, 22 helicópteros e agências de inteligência de Estados Unidos e Reino Unido.
O presidente colombiano, Iván Duque, afirmou naquele momento que a captura de Otoniel “é um golpe somente comparável à queda de Pablo Escobar, nos anos 1990”.
Contra o “capo dos capos” pesam, em território colombiano, mais de 120 ordens de captura por crimes como: narcotráfico; recrutamento de crianças; crimes sexuais; extorsão; homicídio; deslocamento forçado de pessoas; tráfico de armas; criação de grupos armados e crimes de lesa humanidade.
Além dos temas com a Justiça colombiana, o chefe dos chefes também tinha mandados de busca na Interpol e um pedido de extradição para os EUA por delitos de narcotráfico. Foi este que gerou mais controvérsias.
Isso porque em 4 de maio deste ano foi realizada a extradição, em tempo recorde, sendo que apenas um dia após sua captura, o Ministério da Defesa já havia declarado que o fato seria consumado. Nos Estados Unidos, ele pode pegar pena de 20 anos à prisao perpétua.
Clã do Golfo
O Clã do Golfo não é um grupo paramilitar apenas. “É uma organização de extrema-direita contrainsurgente e que está muito ligada ao Exército”. Essa foi a definição dada pelo historiador, economista, professor titular da Universidade Pedagógica Nacional de Bogotá, Renan Vega Cantor, em entrevista à ComunicaSul, concedida em maio, em Bogotá.
Ele destaca que entre seus membros estão militares ativos e até de alta graduação, “há pessoal militar na folha de pagamento e que seguem recebendo pagamento extra do Clã do Golfo”.
Comprova essa declaração outra dada em seu Twitter por Cepeda, que ressaltou que “defensores do povo e sacerdotes têm denunciado que o Exército não está atuando ‘com a mesma contundência’ quando se trata de atacar o Clã do Golfo, como o faz com a guerrilha: ‘nas aldeias se sabe quem são uns e outros e são vistos juntos’”, diz, citando a declaração dada pelo sacerdote Albeiro Parra, presidente da Coordenação Regional do Pacífico em abril desde ano.
A Igreja Católica tem muita incidência nessas pequenas comunidades e tentou reportar, no começo do ano, as evidências de que o Exército estava vinculado à facção criminosa Clã do Golfo.
Moradores e lideranças pediram mais presença do Exército na região, pois em fevereiro, cinco comunidades foram obrigadas a abandonar seus territórios no Sul do estado de Chocó por enfrentamentos entre o ELN e o Clã do Golfo, evidência do que é classificado como “deslocamento forçado”.
A Igreja destaca, como evidenciado por Cepeda, que a mão armada do governo combateu apenas a guerrilha. “Nas aldeias eles sabem quem são uns aos outros, e os vêem juntos [Clã do Golfo e Exército], em Puerto Meluk eles estão juntos, nos rios há postos de controle, que eles chamam de ‘pontos’, então o Exército sabe onde eles estão, por que não faz nada?”, questiona o padre.
A visão é corroborada pelo major Jorge Arévalo Cardoso que, durante informe de apreciação da segurança da região apontou que os membros da facção criminosa contam com “treinamento, tendo em conta que, em sua maioria, são reservistas ou soldados profissionais retirados”.
Ainda de acordo com o major, a estratégia utilizada pelo grupo, que detém a rota do narcotráfico naquela região, tem sido enviar futuros combates para o serviço militar e uma vez concluído, “ingressam à estrutura armada, assim como soldados profissionais que se retiram da força”.
Seguindo as pistas desse entrelaçamento, Iván Cepeda menciona, ainda, a apreensão, em julho de 2019, de um caminhão do Exército carregado com 200 mochilas com o emblema da Polícia Nacional e duas mil camisetas verde-oliva, de uso exclusivo das Forças Armadas.
No mesmo ano, o coronel do Exército Elkin Argote Hidalgo foi encontrado dando cobertura ao narcotraficante Miguel Antonio Bastidas Bravo, conhecido como Gárgola, que foi detido em um veículo oficial da corporação.
De acordo com a organização não governamental Corpo Jurídica, em 12 estados e 70 municípios do país foram realizados grafites e entregue panfleitos “respaldando” os protestos que estavam sendo realizados no país. O mesmo havia sido feito com as AUC em seu momento.
De acordo com a polícia colombiana, o Clã do Golfo trafica, em média, 20 toneladas de cocaína por mês. Para efeitos de comparação, o mexicano El Chapo Gusmán, condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos mais 50 anos traficou, durante três décadas, 528 toneladas de cocaína. O ganho estimado é de 11,81 bilhões de dólares (54,8 bi de reais). Pela produtividade, o Clã do Golfo atingiráessa meta em pouco mais de dois anos.
A droga colombiana é enviada a 28 países por meio de intermediários e outros cartéis internacionais. Ainda que a produção pareça absurda, estima-se que o grupo controle apenas 30% do narcotráfico na Colômbia.
A ação mais dramática realizadas pela organização, que existe desde meados dos anos 2000, foi uma paralisação armada, realizada no último dia 5 de maio, após a extradição de Otoniel, quando em 178 municípios de 11 dos 23 estados do país, foi proibido abrir o comércio e locomover-se por qualquer meio de transporte.
De acordo com a JEP, 24 civis e dois membros das forças públicas morreram nos quatro dias de ação criminosa. Foram bloqueadas 26 estradas, 138 comunidades ficaram confinadas, 180 veículos foram queimados, incluindo 100 tratores e foram registrados 22 ataques ao Estado nos quatro dias de ação dos criminosos.
A partida de futebol entre Jaguares e Medellín, que seria realizada em 7 de maio, não ocorreu porque o último clube não encontrou condições para se deslocar em segurança. O jogo ocorreria em Montería, capital do estado de Córdoba, no Norte do país. Imagens mostram apenas um time em campo:
A avaliação é de que a ação custou, em termos financeiros, 623,5 milhões de reais por dia, de acordo com estimativas do observatório fiscal, da Universidade Javeriana.
A esse respeito, o senador Iván Cepeda foi taxativo ao dizer que, apesar das advertências, o ministro Diego Molano não fez nada para prevenir a ação e “deixou os colombianos à sua própria sorte”.
Renan Vega considera que esses acontecimentos foram um recado político diante da possibilidade de vitória da coalizão progressista Pacto Histórico, liderada por Gustavo Petro e Francia Márquez. “isso é simplesmente uma antecipação do que vai acontecer [caso Petro vença as eleições]. Estão sendo colocados todos os elementos para tornar esse país ingovernável e criar um governo alternativo”.
Extradição
Otoniel tem, na Colômbia, seis condenações vigentes, que oscilam entre 40 e 50 anos. Com a extradição, ele vai responder pelo crime de narcotráfico nos EUA e, portanto, as vítimas colombianas ficarão sem reparação e o país não poderá conhecer os meandros da organização e buscar formas de neutralizá-lo.
Citando o Ministério da Justiça, o senador Sanguino afirma que a ação do governo Duque corresponde ao que foi feito na gestão Uribe. De 2006 a 2018, foram extraditados 32 paramilitares desmobilizados das Autodefesas Unidas da Colômbia, 30 deles na gestão de Uribe e dois no governo Juan Manuel Santos (2010-2018).
Destes, 12 foram excluídos da Lei de Justiça e Paz e 11 se mantêm extraditados ou postulados nessa lei. Porém, o governo admitiu que desconhece o paradeiro de oito dessas pessoas.
Entre os que têm “paradeiro desconhecido”, muitos retornaram à Colômbia, enquanto vários dos que foram extraditados entre 2008 e 2009 estão cumprindo pena por narcotráfico e outros “seguem vivendo nos EUA, foram sem passagem de volta, alegando que por ‘tema de segurança’ não podem voltar ao país”, afirma Sanguino.
“Um deles, Juan Carlos Serra, El Tuso, após cumprir pena de cinco anos, conseguiu um visto de trabalho para ficar nos EUA, sem arcar com as condições de verdade e reparação das vítimas”, destaca o senador.
Criticando o tratamento dado a esses extraditados, o senador cita ainda o caso de Fredy Castillo Carrillo, conhecido como Pinóquio. Ele voltou para a Colômbia sem que nenhum órgão do governo soubesse, se transformou em líder social na Serra Nevada de Santa Marta e passou a contar com proteção da unidade nacional de direitos humanos.
De acordo com Sanguino, em artigo publicado em 2020, Pinóquio se tornou o principal líder e financiador das Autodefesas Conquistadores da Serra. Em 19 de janeiro de 2022, ele foi detido em Madri, na Espanha, acusado pelos crimes conspiração para cometer crime e homicídio agravado e de dirigir a organização paramilitar Los Pancheca. A Colômbia pediu ao governo espanhol sua extradição.
Por fim, após cumprir pena nos EUA, os colombianos não são deportados para acertar as contas no país, aponta Sanguino. Ao contrário. Huber Aníbal Gómez, um dos oito “desaparecidos”, conhecido como Mello Rico, por exemplo, hoje é pastor evangélico e realiza pregações em prisões do país. Ao consultar seus antecedentes penais consta que ele “não tem assuntos pendentes com as autoridades de Justiça”.
“Esse tipo de conduta não pode ser aceita em um país soberano. A Colômbia não é uma República bananeira, ou o quintal dos EUA, mas uma nação com uma Constituição, com normas legais e com dignidade, que deve ser honrada para os seus cidadãos da Colômbia e para os que foram vítimas de graves violações aos direitos humanos”, afirmou o senador diante do ministro da Justiça.
O jornalista Daniel Coronell observa que a suspensão temporária da extradição de Otoniel, naquele momento ordenada pelo Conselho do Estado, poderia contribuir “para que a Colômbia conheça mais verdades”. O pedido foi feito por organizações de vítimas. Há uma omissão dos direitos das vítimas e um abuso dessa normativa de extradição, avalia Sanguino.
Já Iván Cepeda é taxativo ao apontar que a vinculação de membros do Exército com a facção criminosa faz não ser coincidência que “a mesma força pública tenha se dedicado a sabotar a declaração de Otoniel diante da JEP e da Comissão da Verdade. Houve impedimentos, sabotagens e pressões para que não contasse a verdade sobre o ocorrido durante o conflito armado”.
Ainda de acordo com o senador do Pacto Histórico Alternativo, a JEP e a Comissão da Verdade denunciaram “suspensão das diligências, presença policial que vulnerava o princípio de confidencialidade, ações intimidatórias da testemunha, limitação arbitrária do tempo de entrevista, furto do gravador com as informações coletadas, entre outras coisas”.
Clã do Golfo cresce
Em seu discurso, Sanguini denuncia que o Clã do Golfo cresceu durante o governo de Iván Duque e é a reinvenção de uma estrutura criminosa remanescente das Autodefesas Unidas da Colômbia. Recentemente, são chamadas também de Autodefesas Gaitanistas da Colômbia, com o objetivo de “atribuir-se uma natureza política”, ideológica.
Aqui, faz-se necessário um esclarecimento sobre o que é ser “gaitanista”. O termo se refere a Jorge Eliézer Gaitán, ex-candidato do Partido Liberal à presidência da República, com grande chance de ser eleito no pleito de 1949, mas assassinado em 1948, o que gerou ampla comoção nacional. A intensa onda de protestos ficou conhecida como Bogotaço e deu origem ao período conhecido como “La Violência”.
Em 2016, Gloria Gaitan, filha do ex-candidato, denunciou a falsificação histórica, sobre o tema que “nós gaitanistas lutamos para que a opinião pública faça a diferença entre gaitanismo e gaitanear, ou seja, o uso meramente oportunista da figura de nosso herói e ideólogo, e rejeitamos com raiva o fato de que, para alcançar o reconhecimento popular ou o reconhecimento oficial, as gangues criminosas se chamam ‘gaitanistas’, acrescentando assim outro crime à sua vida criminosa, contrariando a exigência de verdade e transparência que a nação merece e exige”.
Segundo Sanguino, nos últimos quatro anos, ao invés de o grupo reduzir sua capacidade criminosa, ele aumentou “no governo da segurança” de Duque. Citando dados oficiais, ele diz que segundo o Ministério da Defesa, “o Clã do Golfo tem 3.167 membros. Porém, o próprio ministério diz que entre 7 de agosto de 2018 a 31 de março de 2022, 7.921 homens foram capturados e 150 mortos em operação”.
“Se falamos de uma estrutura de 3.167 pessoas, não falamos de qualquer grupo, mas uma organização criminosa complexa, que aumentou sua complexidade nos quatro anos de governo Duque. Está presente em 13 departamentos, 147 municípios. Outras fontes falam que esta estrutura está em 17 departamento com tentáculos em 28 países”. acrescenta.
Esta reportagem não conseguiu confirmar os números apresentados pelo senador e, diante da total fala de transparência do governo colombiano, com base em dados e documentos oficiais, é possível ver que, de fato, houve um aumento na quantidade de integrantes da organização criminosa.
Documento do Ministério da Defesa de 2019, ou seja, já na gestão de Duque, registra que a quadrilha tinha mais de 1600 homens armados “junto a um número superior de pessoas vinculadas a redes criminosas”.
Porém, no mesmo ano, a pasta informou que, de 1º de janeiro a 4 de julho foram capturados 1102 integrantes da organização e 26 morreram em combate. Uma conta simples dá a entender que o grupo chegaria a 2020 completamente desestabilizado, com menos de 500 integrantes. Só que não.
Entre 1º de janeiro e 20 de julho de 2020, mais de 637 membros foram capturados e 16 mortos, segundo a Defesa. Seria o fim total do grupo, mas outro documento, desta vez da Presidência da República, em informe ao Congresso, diz que entre 7 de agosto de 2018 a 31 de maio de 2021, 5.691 membros do Clã do Golfo foram neutralizados (desmobilizados, capturados ou mortos).
Já dados do Exército, no informe executivo Conquistas e Objetivos Missionais, de 2021, apontam que naquele ano foram neutralizados 1.187 integrantes do bando armado, contra 591, em 2020.
Por sua vez, a Procuradoria do país disse que, em 2020, apenas no estado de Chocó existiam 1.750 integrantes tanto da guerrilha Exército de Libertação Nacional (ELN), como do Clã do Golfo. Mais adiante, o documento diz que foram capturados 6.852 integrantes de diversas organizações criminosas — o Clã do Golfo é a maior delas.
Quadrilha Política
Com capacidade de exportação de dezenas de toneladas de cocaína por mês, o Clã do Golfo não se trata de um comércio de bairro, “é uma estrutura criminosa com grande rede de financiamento. Não é, tampouco, somente uma estrutura mafiosa, ou do narcotráfico. Tem uma variável política que estamos chamando de Bacrim [facção] política, semelhante ao que foi a parapolítica em tempos do governo Uribe”, adverte Sanguini.
“Assim como houve parapolítica nos tempos de Uribe com as Autodefesas Unidas da Colômbia, o que foi demostrado convincentemente pela Justiça, há também um entramado de estruturas armadas complexas, mercados ilegais e atores políticos, como é o caso de Otoniel e as Autodefesas Gaitanistas”, denuncia o político.
A vinculação da facção com a política foi revelada pelo próprio Otoniel que, nos dias 23 de março e 19 e 20 de abril, esteve diante da Jurisdição Especial da Paz (JEP) e mencionou pelo menos 63 pessoas, entre ex-senadores, ex-governadores; ex-deputados, além de funcionários, ex-funcionários e até entidades que supostamente tiveram vínculos com o Clã do Golfo.
Chama a atenção na lista o nome do ex-ministro do Interior e Justiça Sabas Pretelt, condenado pela compra de votos de parlamentares para garantir a reforma constitucional que permitiu a reeleição de Uribe, em 2006.
De acordo com o jornalista Daniel Coronell, que revelou a informação em sua coluna, Otoniel garantiu que no estado de Casanare e parte de Meta, 5% do orçamento de obras públicas eram entregues aos paramilitares. O “pedágio” era pago pelas prefeituras ou pelos contratistas tanto nos contratos municipais como governamentais.
Até as universidades entraram na “delação”. “A Universidade de Cartagena [pública, em Cartagena das Índias] e a Universidade Sergio Arboleda [privada, na capital, Bogotá] também tinham alguns contratos muito grandes, com o conhecimento de toda a organização (…) O hospital está lá e o governador o deu diretamente à organização [Clã do Golfo]. O contrato foi deixado para o Bloque Centauros [das AUC, grupo paramilitar que atua na região]. A Universidade de Cartagena o fez, mas os lucros eram da organização [Clã do Glofo]”, revelou Otoniel.
Ainda de acordo com o chefe da facção criminosa, paramilitares retribuíam o serviço com voto de cabresto: “Não foi financiado. Eles colaboraram nas áreas sobre a questão política para que as pessoas realmente votassem no governador que a organização via como o melhor”.
Iván Cepeda aponta que o fracasso da guerra às drogas no país se deve justamente aos múltiplos vínculos existentes entre o Clã do Golfo e oficiais da Força Pública, como mencionado acima.
Pior que a parapolítica
“Essas relações precisam ser estudadas tão profundamente no país como o foi a parapolítica”, assevera Sanguino. Hoje o uribismo está debilitado, após diversas denúncias de corrupção, o escândalo dos Falsos Positivos e as investigações em torno de Álvaro Uribe.
Veja também:
“É preciso que se conheça e desarticule essa nova versão mais degradada do que foi, em seu momento, a parapolítica”, arremata Sanguini.
Iván Cepeda, senador pelo partido Pacto Histórico Alternativo observa que “a política de segurança contra o Clã do Golfo, bem como a guerra às drogas, fracassou estrondosamente. O único caminho para a paz total e o fim do conflito armado é uma política de diálogo para submissão coletiva”.
Como recomendação para o próximo governo, que será eleito em 19 de junho, Sanguini recomenda “revisar o decreto de extradição de Otoniel e estabelecer acordos pertinentes com os EUA para garantir e estabelecer a compatibilidade com a Justiça colombiana e completar sua passagem de volta”.
Lei do tratado de extradição para corrigir esse problema para que nenhum governo aproveite a falha no tratado de extradição para ocultar a verdade e impedir que a Justiça colombiana faça o que lhe corresponde.
Renan Vega considera que ainda que a extrema-direita não vença as eleições, ela segue ativa no país porque tem seus exércitos privados. “Na Colômbia, a direita tem exércitos privados que estão ligados à mesma lógica contrainsurgente do Estado e das Forças Armadas, então não vão ficar com os braços cruzados”.
O professor considera que Petro terá, se eleito, como desafio maior eliminar a doutrina do inimigo interno presente na ideologia das Forças Armadas. Também terá que erradicar a contrainsurgência, bem como os acordos militares com os Estados Unidos.
Outro lado
O governo, na pessoa do ministro Molano, durante o debate no Senado, afirmou que a paralisação armada do Clã do Golfo foi realizada para se posicionar politicamente e obter perdão social.
Com relação ao questionamento quanto à extradição do chefe do Golfo, Molano reafirmou que “o melhor modelo para combater personagens como Otoniel é a extradição, para que a partir daí ele possa fazer reparações às vítimas, dizer a verdade e evitar a possibilidade de continuar matando”.
—
*Recentemente a Agência ComunicaSul esteve presente na Colômbia graças ao apoio das seguintes entidades: Associação dos/das Docentes da Universidade Federal de Lavras-MG, Federação Nacional dos Servidores do Poder Judiciário Federal e do MPU (Fenajufe), Confederação Sindical dos Trabalhadores/as das Américas (CSA), jornal Hora do Povo, Diálogos do Sul, Barão de Itararé, Portal Vermelho, Intersindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Sindicato dos Bancários do Piauí; Associação dos Professores do Ensino Oficial do Ceará (APEOC), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-Sul), Sindicato dos Bancários do Amapá, Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Sindicato dos Metalúrgicos de Betim-MG, Sindicato dos Correios de São Paulo, Sindicato dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp Sudeste Centro), Associação dos Professores Universitários da Bahia, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal do RS (Sintrajufe-RS), Sindicato dos Bancários de Santos e Região, Sindicato dos Químicos de Campinas, Osasco e Região, Sindicato dos Servidores de São Carlos, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal de Santa Catarina (Sintrajusc); mandato popular do vereador Werner Rempel (Santa Maria-RS), Agência Sindical, Correio da Cidadania, Agência Saiba Mais, Revista Fórum e centenas de contribuições individuais.
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.