Imigração como estopim para o avanço da extrema-direita

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Receio leva políticos de centro para a direita nos Estados Unidos e Europa, e mexe com eleitorado em ambas as regiões

Foto de Humberto Chávez na Unsplash

Crimes cometidos por migrantes nos Estados Unidos e na Alemanha às vésperas de eleições voltaram a reacender debates junto ao eleitorado em torno de um tema espinhoso em ambas as regiões: a concessão de asilo sendo vista com receio entre o eleitorado, e apontada como fator para a migração descontrolada.

À medida em que as eleições gerais se aproximam nos Estados Unidos, Reino Unido e França, as políticas de migração são uma questão vista como fundamental e é um dos estopins para que a extrema-direita ganhe força em diversas regiões ao prometerem o fim da migração impulsionada pelo asilo – assim como as mudanças climáticas e os conflitos globais levaram o fluxo migratório para níveis recordes.

Para lidar com essas questões, os políticos de centro estão em busca de um equilíbrio que agrade à maioria do eleitorado, em torno de políticas mais restritivas, mas evitando uma retórica mais radical que comprometa os votos entre progressistas e de tendência de esquerda.

Ao mesmo tempo, as forças de extrema-direita estão aproveitando os receios causados pelo fluxo migratório recorde para alimentar os medos da maioria com retóricas e notícias falsas, retratando o impacto migratório em termos apocalípticos.

Um exemplo disso é a estratégia do republicano Donald Trump nos Estados Unidos, que em mais de uma ocasião declarou que os imigrantes estão “envenenando o sangue” norte-americano – usando uma linguagem de incitação ao ódio que poderia levar à prisão em outros países.

Sistema migratório quebrado

Como destaca reportagem do site Politico, grande parte do direito ao asilo é decorrente do passado nazista da Alemanha e do desejo de se prevenir a perseguição e o genocídio: a Convenção dos Refugiados de 1951 foi concebida para proteger os europeus deslocados após a Segunda Guerra Mundial, enquanto protocolo assinado por 147 países em 1967 expandiu as proteções a todas as pessoas que fogem de conflitos e perseguições em todo o mundo.

Contudo, muitos eleitores europeus e norte-americanos consideram que os sistemas de asilo estão totalmente falidos, gerando um fluxo migratório descontrolado: apenas nos Estados Unidos, foram registrados 478.885 pedidos de asilo no ano fiscal de 2023, com muitos apresentando seus pedidos após passarem pela fronteira sul.  Menos de 32 mil requerentes obtiveram asilo.

Pesquisa Gallup destacou que a imigração é o problema mais importante do país ao longo de três anos consecutivos, o período mais extenso em que a imigração liderou a lista ao longo de 24 anos.

Na Europa, o número de passagens nas fronteiras externas da UE no ano passado atingiu níveis nunca vistos desde 2016, quando a Europa viveu uma crise de refugiados sem precedentes: dentre os países da UE, a Alemanha recebeu de longe o maior número de pedidos de asilo, com 334.000 pedidos – e desde a crise dos refugiados de 2015 e 2016, quando os alemães foram elogiados pela sua “cultura de boas-vindas” sob a então chanceler Angela Merkel, os líderes europeus de centro se moveram para a direita de maneira considerável em matéria de imigração.

Em abril, o Parlamento Europeu aprovou uma série de leis para acelerar as deportações de requerentes de asilo recusados ​​nas fronteiras da UE. Embora essa manobra tenha sido adotada para travar o avanço da extrema-direita, ela foi criticada justamente por esses partidos não ir “suficientemente longe”, enquanto partidos e ativistas a criticaram por violar os direitos humanos.

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