Palestinos temem morrer de fome e sede em Gaza

Militante palestino na Cisjordânia afirma que estratégia de falta de água, comida e remédios tem sido usada como arma de guerra por Israel

Imagem de hosny salah por Pixabay

Do Brasil de Fato

‘Mesmo que sobrevivam às bombas, palestinos temem morrer de fome e sede’, diz militante na Cisjordânia

O cerco israelense que estrangula há semanas a Faixa de Gaza faz seus mais de dois milhões de habitantes temerem, além da morte pelos bombardeios constantes, morrer por falta de água, comida e remédios, afirmou neste domingo Yasmeen El-Hasan, militante da União dos Comitês de Trabalhos Agrícolas na Palestina.

“Mesmo que sobrevivam às bombas, os moradores de Gaza temem morrer de fome e sede”, disse ela. “Israel usa claramente essa estratégia como arma de guerra.”

“Antes de 7 de outubro [data do ataque do Hamas que motivou a ofensiva militar israelense] a água já não era potável. Agora, a pouca que há não serve nem para banho ou lavar as mãos. É fonte de infecções.”

“Ainda assim, quem está lá é obrigado a beber qualquer líquido que conseguir.  Israel destruiu a maior parte da infra estrutura hídrica e sanitária, o plano é que os palestinos desistam de suas terras.”

“Suas vidas, seus sustentos, futuro, foram inviabilizados. É uma crise humanitária arquitetada por um governo contra uma população subjugada”, disse El-Hasan durante webinário realizado neste domingo pelo movimento popular Via Campesina, com a presença de representantes de entidades palestinas.

Sem anestesia

A decisão israelense de, ao mesmo tempo em que lança uma quantidade inédita de bombardeios, impedir a chegada de mantimentos ao pequeno território palestino, fez a Organizações das Nações Unidas  ONU prever o que chamou de  ‘avalanche sem precedentes de sofrimento humano’. Sem água potável, as pessoas vem recorrendo a água contaminada ou salgada.

Além de água, a falta de luz, gás e combustíveis fechou vários hospitais de Gaza. Muitas cirurgias emergenciais são feitas sem o mínimo de condições necessárias, incluindo anestésicos. O chefe da missão dos Médicos Sem Fronteiras, Léo Cans, disse à AFP que operações de amputação em crianças são feitas com pacientes sem sedação.

Para tentar brecar o massacre palestino, o Conselho De Segurança da ONU vai discutir nesta segunda-feira medidas para pressionar Israel. Os EUA – país com direito a veto e maior aliado israelense – é contra qualquer resolução neste sentido. As operações militares israelenses se intensificaram na última sexta (27) com a entrada de tropas por terra no território.

Contexto

O cerne da questão árabe-israelense é a forma como o Estado de Israel foi criado, em 1948, com inúmeros pontos não resolvidos, como a esperada criação de um Estado árabe na região da Palestina, o confisco de terras e a expulsão de palestinos que se tornaram refugiados nos países vizinhos.

A decisão pela criação dos dois estados foi tomada no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) e aconteceu sem a concordância de diversos países árabes, gerando ainda mais conflitos na região.

Ao longo das décadas seguintes, a ocupação israelense nos territórios palestinos – apoiada pelos EUA – foi se tornando mais dura, o que estimulou a criação de movimentos de resistência. Foram inúmeras tentativas frustradas de acordos de paz e, na década de 1990, se chegou ao Tratado de Oslo, no qual Israel e a Organização para Libertação da Palestina se  reconheciam e previam o fim da ocupação militar israelense.

O acordo encontrou oposição de setores em Israel – que chegaram a matar o então premiê do país – e de grupos palestinos, como o Hamas, que iniciou sua campanha com homens-bomba. Após a saída militar israelense das terras ocupadas em Gaza, ocorreu a primeira eleição palestina, vencida pelo Hamas (2006), mas não reconhecida internacionalmente. No ano seguinte, o Hamas expulsou os moderados do grupo Fatah de Gaza e dominou a região.

Em 7 de outubro de 2023, o Hamas lançou sua maior operação até então, invadindo o território israelense e causando o maior número de mortes da história do país, 1, 4 mil, além de fazer cerca de 200 reféns. A resposta israelense vem sendo brutal, com bombardeios constantes que já causaram a morte de milhares de palestinos, além de cortar o fornecimento de água e luz, medidas consideradas desproporcionais, criticadas e rotuladas de “massacre” e “genocídio” por vários organismos internacionais.

Redação

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