Prisão de ex-presidente de Honduras reforça tendência de prisões na direita latino-americana

Victor Farinelli
Victor Farinelli é jornalista residente no Chile, corinthiano e pai de um adolescente, já escreveu para meios como Opera Mundi, Carta Capital, Brasil de Fato e Revista Fórum, além do Jornal GGN
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Juan Orlando Hernández foi detido nos Estados Unidos e aguarda seu julgamento, enquanto a boliviana Jeanine Áñez, o guatemalteca Otto Pérez Molina e os peruanos Alberto Fujimori e Pedro Pablo Kuzcynski estão presos em seus respectivos países

Ex-presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández (foto: Twitter)

A Justiça dos Estados Unidos confirmou nesta quarta-feira (16/2) a detenção do ex-presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández, acusado de participar de uma rede internacional de tráfico de drogas.

O porta-voz do Poder Judiciário estadunidense, Merlin Duarte, afirmou que o político centro-americano será mantido provisoriamente em prisão domiciliar, enquanto aguarda uma definição da Suprema Corte dos Estados Unidos sobre uma possível extradição ao seu país natal, onde seria julgado pelos crimes de conspiração, associação ilícita para o tráfico de drogas e de armamento militar, entre outros.

O obstáculo para a extradição de Hernández é que ele também enfrenta denúncias similares nos Estados Unidos: a Justiça local o acusa dos crimes de importação de substâncias proibidas; fabricação, posse e distribuição de drogas; uso ilegal de metralhadoras e dispositivos destrutivos em apoio ao tráfico de drogas; entre outros. Se estima que uma definição sobre sua possível extradição deverá ser conhecida até meados de março.

No entanto, a sua prisão não parece ser uma notícia tão surpreendente, já que, antes dele, a América Latina já tinha quatro ex-presidentes de direita presos, por diferentes situações. Veja a lista dos demais casos:

Jeanine Áñez

O caso mais recente antes de Hernández é o da boliviana Jeanine Áñez, que governou seu país durante exatamente um ano: de 12 de novembro de 2019 a 12 de novembro de 2020. Foi instalada no poder pelas Forças Armadas, após o golpe de Estado contra Evo Morales – Áñez era a vice-presidenta do Senado, e assumiu o poder depois que os militares forçaram a renúncia, não só de Morales, mas também do vice-presidente Álvaro García Linera, da então presidenta do Senado, Adriana Salvatierra, e do então presidente da Câmara dos Deputados, Víctor Borda.

A Justiça boliviana decretou a prisão preventiva de Áñez em março de 2021. Ela é acusada dos crimes de sedição, conspiração e terrorismo de Estado, o que inclui sua responsabilidade no assassinato de 22 manifestantes que protestaram contra o golpe de Estado nas cidades de Senkata e Sacaba. A prisão da ex-presidenta ocorreu no dia 12 de março passado, quando ela foi encontrada escondida dentro do fundo falso de uma cama, em sua residência.

Alberto Fujimori

Metade dos casos anteriores ocorrem no Peru, que também tem o exemplo mais conhecido, já que se trata de um ex-ditador: Alberto Fujimori (1990-2000) está na prisão desde 2007 – suas diferentes condenações, por crimes de corrupção e violações aos direitos humanos, acumulam mais de 30 anos de pena. Em termos de política econômica, seu governo foi conhecido por instaurar os preceitos do Consenso de Washington em seu país, impulsionando uma política de privatizações e concessões de exploração de recursos naturais a empresas estrangeiras.

Sua filha, Keiko Fujimori, concorreu três vezes à presidência do país, sempre com uma plataforma que incluía o indulto a seu pai. Em todas elas, terminou derrotada no segundo turno – o último desses fracassos ocorreu em junho de 2021, quando perdeu para o atual presidente Pedro Castillo.

Pedro Pablo Kuczynski

O outro ex-presidente peruano que se encontra preso é Pedro Pablo Kuczynski, economista com histórica passagem pelo Banco Mundial, e que governou seu país natal entre 2016 e 2018.

Foi preso em abril de 2019, acusado de receber propinas em contratos da Odebrecht com o governo peruano. O processo no qual está envolvido se chama Caso Odebrecht Peru e conta com documentos enviados pela Força Tarefa da Operação Lava-Jato. Atualmente, cumpre sua pena em prisão domiciliar.

Otto Pérez Molina

O ex-militar Otto Pérez Molina, líder do Partido Patriótico (extrema direita) foi presidente da Guatemala entre 2012 e 2015. Renunciou ao cargo no penúltimo ano de mandato, após ser revelado o seu envolvimento em uma rede de propinas instalada em todo o sistema alfandegário do país.

Pérez Molina se encontra preso desde aquele mesmo ano de 2015, mas não é o único da família nessa situação: seu filho, Otto Pérez Leal, foi preso em agosto de 2021, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Ele era prefeito da cidade de Mixco.

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