Problema do governo Maduro é o tipo de liderança de Chávez

Por ArthurTaguti
 
Comentário ao post “Venezuela: ausência de modelo viável de desenvolvimento
 
O problema do governo Maduro reside justamente no tipo de liderança que Chávez forjou ao longo dos tempos.
 
Eu sou um grande admirador de Chávez, mas vamos combinar que o seu sucesso se creditou ao tom caudilhesco, quase messiânico de sua liderança. Ele se via imbuído de uma missão, cheia de simbolismos, cheia de retóricas grandiosas, e colocou-se acima das instituições venezuelanas. 
 
Verifique-se que eu não estou me referindo pejorativamente ao “colocou-se acima das instituições venezuelanas”. Na Venezuela, tanto quanto no Brasil, as instituições democráticas são um tanto antidemocráticas. Só ver o que aconteceu com o PT aqui, que tentou seguir direitinho as regras do jogo e parte cada vez mais para a centro-direita.

 
Ser “institucional” na maioria dos países da América Latina é isto: lidar com regras imobilizantes, com Congressos cheio de coronéis e semi-ditadores regionais, com uma grande mídia vinculada majoritariamente a um anti-projeto nacional, de subdesenvolvimento vinculado aos EUA mesmo, e o caminho mais fácil sempre foi “cair nas teias”, sob a justificativa de que nada poderia ser feito, como, de novo, vemos aqui no Brasil.
 
Ontem um texto de Slavoj Zizek, sobre Mandela, é claro: a celebração universal de sua liderança é um atestado que o líder sul-africano incomodou pouco as elites globais. Este mesmo adágio pode se referir a Lula e Chávez: um é celebrado pelo capitalismo financeiro transnacional com o seu Bolsa Família e seu desenvolvimentismo sem sair da linha que o mercado traçou, “The Man”, segundo Obama, enquanto o outro é detestado com o seu “socialismo do século XXI”.
 
O melhor de tudo é que Chávez não precisou ser um Mugabe, ou um Vargas, para promover as mudanças em seu país. Deixou a imprensa livre (só ver a ira e a virulência das TV’s venezuelanas para ver que Chávez nunca censurou a imprensa), mas ao mesmo tempo fomentou e transformou em governista a TV estatal; nunca se afastou do caminho das eleições, promovendo as eleições mais limpas do mundo, conforme Jimmy Carter, e as liberdades democráticas foram plenamente garantidas.
 
Então, o tom “acima das instituições” a que me refiro, é ter optado pelo apoio popular, por incentivar movimentos sociais, pela guerra retórica contra as elites, ao contrário do tradicional negociar e acomodar elites regionais no governo, em prol da estabilidade institucional. Sua escolha não foi fácil, levou uma tentativa de golpe, mas ao fim seu partido cresceu cada vez mais sob sua liderança. E se tornou um referencial contra o argumento dos que propalam que nada pode ser feito, se o partido não detém maioria no Congresso (e nem adianta argumentar que AGORA o PSUV tem maioria; estou falando de 1998, quando a realidade não era lá muito fácil para Chávez).
 
Porque digo, então, que o problema é o tipo de liderança que Chávez forjou?
 
Porque para tanto, é preciso de carisma, ter uma retórica muito boa, uma liderança incontestável, o que não vejo em Maduro. O maior desafio do Chavismo é sobreviver sem Chávez agora. Tanto que Maduro está enfrentando dificuldades para enfrentar o boicote que a elite faz ao seu governo, com o clássico da falta de suprimentos, coisa que Chávez contornava com um pé nas costas.
 
Então, é até compreensível a queda de votos que o PSUV teve. Creio que a maioria da população venezuelana ainda esteja com o partido, mas, já que não existe no horizonte nenhuma liderança carismática como Chávez, que se coloque acima das instituições, eles terão que começar desde já procurar modos de se institucionalizar mais, mas sem cair nas teias da governabilidade sem critérios, que conhecemos tão bem.
Redação

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