Justiça

A estranha paralisação na correição do TRF4, por Luis Nassif

Há algo de estranho no comportamento do Ministro Luiz Felipe Salomão, corregedor do Conselho Nacional de Justiça. Montou uma correição extraordinária para analisar o comportamento do Tribunal Regional Federal da 4a Região, depois que, no seu curto período à frente da 13a Vara Federal de Curitiba, o juiz Eduardo Appio identificou uma montanha de irregularidades da Lava Jato, muitas delas endossada pelo TRF4.

De lá para cá, a primeira medida efetiva foi endossar o afastamento de Appio da 13a Vara. Agora, afasta a juíza Janaina Cassol Machado, que endossou as barbaridades contra professores e o ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier Olivo.

Nada se sabe sobre o TRF4. Nada se sabe sobre a 8a Turma, que endossou todas as barbaridades de Sérgio Moro e, no episódio em que aumentou a pena de Lula, agiu claramente em conluio com o juiz, e com uma sentença totalmente improvável.

Como se recorda, para incluir Lula em um de seus processos, Moro puxou o início para antes de 2010, quando Lula ainda era presidente, apesar do fato em si ter se dado anos depois. Ocorre que não se deu conta de que, com o aumento do prazo inicial, e com Lula com mais de 70 anos, a legislação permitia sair da cadeia. A 8a Turma, então, reviu a sentença e os 3 desembargadores aplicaram uma nova sentença, os três definindo o mesmo tempo de condenação – algo estatisticamente impossível.

No código penal, a dosimetria – isto é, a fixação da pena – é definida de acordo com as características do crime analisado. O Código Penal define uma pena mínima e uma máxima. Caberá ao julgador decidir entre esse intervalo. Os três desembargadores aumentaram a pena de Lula de 9 anos e 6 meses de reclusão para 12 anos e um mês, a ser cumprida em regime inicial fechado. Caso houvesse alguma divergência nos prazos, abriria espaço para os chamados embargos infringentes, recurso cabível quando não for unânime o julgado proferido em apelação e em ação rescisória.

Não apenas isso. O TRF4 atuou diversas vezes para impedir o aprofundamento de casos que expunham a parcialidade da Lava Jato – tanto do juiz Sérgio Moro quanto de desembargadores. Mais que isso, afrontou expressamente o Supremo Tribunal Federal. Tanto que obrigou o CNJ a abrir a correição.

E agora? O Ministro Luiz Felipe Salomão, no mínimo, deve explicações à opinião pública sobre um episódio que será central para a volta da Justiça à normalidade institucional.

A manutenção do afastamento do juiz Eduardo Appio é a prova inconteste de que há algo de muito errado no sistema de justiça.

Luis Nassif

Luis Nassif

View Comments

  • Já que despartidarizar o Judiciário por completo é tarefa impossível, pelo menos o TRF4 - o partido do "ferrar com o operário" (linguagem da redação de Veja, já no início dos 80) - poderia muito bem sinalizar que voltou a ser da justiça; isso é, deixou de um partido antipetista radical.

  • Lendo a matéria, eu me pergunto: o que mais podemos pensar sobre uma atordoada atitude, que se apresenta como um contorno explícito de quase confissão?
    Uma amadora trapalhada que podemos avaliar como uma clara demonstração de pavor e desespero?
    Podemos imaginar,sem exagero, que realmente pode existir coisas e casos de bastante gravidade, para justificar uma inexplicável reação de amadorismo suicida.
    Sim, é o que nos parece ser flagrante: um suicídio imaginar que estariam enganando alguém.
    Haja camisa de força!

  • Brasil, terra das máfias.
    Máfia militar, máfia da justiça, máfia do PIG, máfia das "zélites" entre outras.
    Existe inclusive a máfia dos não aceitos nessas citadas.
    Chama-se PCC e congêneres.
    Se isso não for corrigido por dentro do sistema, um dia, o povo se encarregará!

  • Precisamos de um controle externo do Poder Judiciário.

    O Poder Judiciário é o maior controle externo do país, aplicar punições
    em todos os outros poderes. Mas só tem o CNJ para punir falsos juízes
    e operações lesa-pátrica como essa da operação lava jato que operou
    usando a Lei políticamente, e com apoio irrestrito dos desembargadores
    do TRF-4. O CNJ é controlada por gente de dentro do próprio
    poder, então não é controle externo é controle interno.
    E isso não serve.

  • - Ié vérdadi, mestre. Ieu tô cum muitio medo dele querê acabá cum a própria vida. Nózis temo di incontrá una salução bem dépréssa, o tempo ruge nus nuóssos zuvido, clamando por uma saída.
    - Eu to mi alembranu qui calhou qui adispois di amanhã é o aniversário di Tuxo. Vamu fazê una grande fésta di anivérsário prele – disse Catarina.
    - Ié una grandi idéia. Tarvez eile queira ir pésca pá gente fazê um bom churrasco prele. Isso pódi ocupar a cabeça deile, fazendo cum qui se cure da depréssão. O que ucê acha dissso, mestre Bódim?
    - Num sei não, Catarina. Tenho a impressão de que eile vai refugar.
    Indaí, Jarirí teve una boa lembranssa. A Rosarva, aquela namorada di Tuxo qui deu um pé na bunda deile. Ela é prima de Catarina. Que tal trazê éila pra cá.
    - Sim, disse Catarina. Eu seio qui éila adorava Tuxo, maisi éila ficou muito ferida pela atitudi deile. Tuxo traiu ela com a prima déila.
    - Ucê, Catarina, acha qui éila vai refugar?
    - Tarvez não. Ela gotava muitio deile. A gente pódi ir falar com éila amanhã, vamu sair bem cedinho.

    • Índaí, ãinda num eram quatro hóras da manhãna quando Catarina acordou Jairirí.
      - Levanta lógo, Jarirí. A jienti tem una longa caminhada a vencer, mais de duas hóras e meia andando depressa e sem pará, indo o mais rápido possível. Vamos iguar cavalo brabo, deitando o cabelo de tanta velocidade.
      - Mas a jiente num vai tomar café da manhãna? Precisamos forrar o istômago, comer arguma coisa, senão nósis vai demorá maisi.
      Eu já preparei tudo, é só irmos pá cuzina e comer e sair.
      Entoncis, adispois de comerem e tumarem um café bem ajeitado, eiles partiram apressados. Adipois de andarem uns vinte minutos, perceram que arguma coisa tava siguindo eiles.
      - Vamos parar pra ver. Vamos esperar um pouquinho, pra discubrir quem nos segue, eu acho que sei quem é. Acho que é Cascatim.
      - Ieu tumém achano que é ele. Vou gritar e esperar pra que ele apareça.
      Maisi Cascatim num apareceu. Surgiu outra cousa.

Recent Posts

Comunicação no RS: o monopólio que gera o caos, por Afonso Lima

Com o agro militante para tomar o poder e mudar leis, a mídia corporativa, um…

1 hora ago

RS: Por que a paz não interessa ao bolsonarismo, por Flavio Lucio Vieira

Mesmo diante do ineditismo destrutivo e abrangente da enchente, a extrema-direita bolsonarista se recusa a…

3 horas ago

Copom: corte menor não surpreende mercado, mas indústria critica

Banco Central reduziu ritmo de corte dos juros em 0,25 ponto percentual; confira repercussão entre…

3 horas ago

Israel ordena que residentes do centro de Rafah evacuem; ataque se aproxima

Milhares de pessoas enfrentam deslocamento enquanto instruções militares sugerem um provável ataque ao centro da…

4 horas ago

Governo pede ajuda das plataformas de redes sociais para conter as fake news

As plataformas receberam a minuta de um protocolo de intenções com sugestões para aprimoramento dos…

4 horas ago

As invisíveis (3), por Walnice Nogueira Galvão

Menino escreve sobre menino e menina sobre menina? O mundo dos homens só pode ser…

7 horas ago