Justiça

Áudios de Cid são convenientes para vitimizar Bolsonaro e fortalecer as Forças Armadas

“Eles já estão com a narrativa pronta, eles não queriam que eu dissesse a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam. E toda vez eles falavam: ‘Olha, a sua colaboração está muito boa’. Tipo assim, ele até falou: ‘Vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por 9 negócios de vacina, 9 tentativas de falsificação de vacina, vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá. Só essa brincadeira são 30 anos pra você”, afirmou Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL).

O áudio vazado levou Cid novamente à prisão na última sexta-feira (22), mas não deve comprometer a delação premiada realizada por Cid e nem mudar a situação dos inquéritos que miram o ex-presidente, pois as provas apresentadas pelo militar na delação estão comprovadas por diálogos de outras testemunhas. 

Mas para analisar os possíveis desdobramentos do caso, o programa TVGGN 20H recebeu o penalista André Lozano, que acredita que as declarações do ex-ajudante de ordens quebrou uma das regras da delação, que é a confidencialidade. “Isso faz a delação ficar, vamos dizer assim, capenga.”

“Não estou fazendo a defesa do Cid, mas acho que tem de verificar, de forma bem cuidadosa, quais foram os elementos que ele de fato trouxe e que auxiliaram de alguma forma a elucidar os crimes cometidos, seja pelo Bolsonaro, pelos generais ou por outras pessoas”, acrescenta Lozano.

Lava Jato bolsonarista

O penalista também ressaltou que não gosta da delação premiada, pois é uma legislação com muitas falhas e que privilegia aqueles que participaram do crime. Na avaliação de Lozano, testemunhas poderiam contribuir com as investigações, com a contrapartida de receber parte do dinheiro recuperado pelo Estado em casos de corrupção, a exemplo dos Estados Unidos.

“Do jeito que é a nossa lei, a delação deixa na mão do Ministério Público, da Polícia e até de alguns juízes um poder muito grande. Vamos ver quem que foi, nos últimos anos, a principal vítima das delações premiadas. Não foi o Bolsonaro, foi o atual presidente Lula na na Lava Jato”, emenda. 

O cientista político Thiago Trindade, também convidado do programa, concorda com Lozano. “Se você ler o que a Mônica Bérgamo [da Folha de S. Paulo] escreveu, verá a narrativa que os bolsonaristas estão produzindo. A repercussão que ele estão dando é basicamente a mesma que a gente falava da Lava Jato, quando a Lava Jato estava tentando fazer de tudo para prender o Lula. A narrativa pronta: o [ministro do STF Alexandre] Moraes é a lei, é só você trocar Moraes por [Sergio] Moro que você vai ver que tem uma uma narrativa muito semelhante.”

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Trindade ressalta ainda que o vazamento do áudio do Mauro Cid pode fortalecer o bolsonarismo e a popularidade de Jair Bolsonaro, uma vez que os aliados do ex-presidente vão acusar o Judiciário de ‘fazer o que fizeram com o Lula’. “Talvez se o Bolsonaro for preso e depois ele for libertado em outro contexto, ele pode sair na mais fortalecido.”

Esta narrativa apresentada por Cid é conveniente ainda para limpar a imagem dos militares. “Toda essa narrativa que está sendo construída é uma narrativa que limpa a barra do das Forças Armadas enquanto instituição, porque, na melhor das hipóteses, o que que eles vão alegar é que teve pessoas figuras isoladas que tentaram dar um golpe, que roubaram joias, que elaboraram minuta golpista. Mas quando isso chegou lá no topo da instituição, foi vetado”, emendou o cientista político. 

Assista ao programa completo e aproveite para seguir a TVGGN no YouTube:

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Camila Bezerra

Jornalista

Camila Bezerra

Jornalista

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  • No lava jato foi o procurador público e o juiz, pego nas gravações, agora é o bandido criando uma narrativa de vitimização, se isso for conveniente para justiça, todos serão inocentes e os policiais e juízes parciais. Não esqueçam que ele ainda comentou sobre o " PIX", onde o seu Jair ficou milionário.

  • Trata-se de delação premiada mas não pela Justiça e sim pela mídia. Cid, ao delatar o sistema judiciário, teria sua "pena", junto aos seus chefes e cúmplices e aos bolsonaristas, reduzida, talvez até um perdão total. Com a vantagem de que a condenação midiática e informal não prescinde de prova...

    Delação premiada invertida...

  • Entendo que a opção de fazer a delação, ou não, é do acusado. Entendo também que as autoridades policiais, durante o interrogatório, podem e devem alertar ao acusado (a) o que pode lhe acontecer, em caso de decidir ou não pela delação.
    Até aí, nada demais. Os registros mostram que vários interrogatórios aconteceram na história policial de forma semelhante e o acusado responde ou não se quiser. Não li nada sobre ele ser coagido ou ameaçado. A narrativa pronta que ele cita me parece ser um alerta do que pode lhe acontecer, sobre a gravidade dos crimes que é acusado de ter cometido. Depois de participar ativamente de um gravíssimo atentado a república, a democracia, ao estado de direito, entre outros, o acusado e réu confesso querer se passar por vitimado é um escabroso deboche contra as instituições da justiça, da polícia, da República e em especial contra a instituição
    das Forças Armadas, que não treinam, que não educam e que não formam militares para passarem pelo vexame de se mostrarem como fracos, traidores e covardes.
    Mesmo no erro e no desvio ético, moral e comportamental, são preparados para assumirem e reconhecerem seus desvios, seus erros, suas fraquezas e seus crimes cometidos.

  • Não se deve descartar a hipótese desse delator estar agindo sob fortes ameaças da máfia golpista, sobre sua família, pois a patuscada junto a revista Veja agravou sobremaneira sua situação.

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