Chacina da Vila Cruzeiro foi minuciosamente planejada

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Moradores foram assassinados para que credibilidade do Supremo Tribunal Federal fosse comprometida; entenda

Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

A chacina cometida por policiais na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, foi minuciosamente planejada para ludibriar o Supremo Tribunal Federal e colocar suas decisões em xeque.

“Foi uma chacina planejada. Não foi algo ao acaso, e o planejamento foi minucioso para ludibriar o Supremo Tribunal Federal”, disse o jornalista Marcelo Auler na TV GGN 20 horas desta quarta-feira (25/05).

A participação da Polícia Rodoviária Federal no massacre também gerou questionamentos. Segundo Auler, “a Polícia Rodoviária Federal existe para policiar as rodovias federais. Se ela combate crime, tráfico, dentro das rodovias federais, perfeito. Não vou discutir isso”.

“Agora, ela sair da rodovia federal e ir a uma comunidade, distante quilômetros, de uma rodovia? A pretexto de que, o que eles foram fazer? Eles tinham mandado de prisão? Nenhum. Tinham mandado de busca e apreensão? Nenhum”, lembra Auler.

Segundo Auler, a justificativa dos agentes da PRF era de que iriam esperar “um suposto bonde do Comando Vermelho, que sairia da Vila Cruzeiro – que fica na Penha, na entrada da cidade – para a Rocinha, em São Conrado”.

De acordo com esses policiais, o bonde em questão “iria com traficantes de outros Estados”, e eles queriam prender esse pessoal.

“Daí porque eles fogem à Legislação mais uma vez, e chegam lá 4 da manhã. Pela Legislação essas operações só podem ocorrer a partir das 7 da manhã”, diz Auler. “Você não pode ir na casa dos outros antes das sete, a não ser em flagrante delito”.

Além disso, os policiais em questão não tinham mandado de busca e nem mandado de prisão. “(Eles) inventam que um bonde ia sair, e eles iam ficar na rua esperando o bonde sair e prender todo mundo na rua. E aí falhou. porque um grupo deles à paisana que estava ali vigiando foi descoberto, segundo eles”, diz Auler.

Citando reportagem do jornal O Globo, Auler aponta a explicação dada pelos militares: foi armada uma emboscada pelos criminosos, e o helicóptero blindado sofreu três disparos.

“Pelo jeito, eles estão confessando que a inteligência dos criminosos funcionou melhor que a inteligência deles, porque eles estão dizendo que toda essa operação foi um trabalho de inteligência, que eles iam pegar um bonde (…)”, afirma Auler.

“E aí eles foram percebidos antes, e aí houve reação – e o que eles tinham que fazer aquela hora da manhã? Recuar, não invadir”, diz Auler. “Mas eles invadiram atirando para o alto (…) Policiais atirando para o alto, sem mira nenhuma”.

O uso da operação para afetar o Judiciário ficou mais clara na citação ao tenente-coronel Uirá do Nascimento, que disse “que a responsabilidade disso tudo é do STF – na medida em que o STF impediu ações nas comunidades, atraiu para o Rio de Janeiro traficantes do Pará, do Amazonas, traficantes de não sei aonde, para ficarem escondidos na comunidade. Ora, tá proibido em qualquer comunidade (…)”.

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Narrativa busca afetar credibilidade do STF, diz Amadeus

Na visão do advogado criminalista Djefferson Amadeus, coordenador do Instituto de Defesa da População Negra (IDPN), a narrativa em torno do caso claramente tenta “descredibilizar” a decisão do STF de impedir a atuação policial nas comunidades.

“Não há dúvida que existe uma narrativa quando se observa, por exemplo, que a polícia disse o seguinte: que um dos objetivos dessa operação é justamente combater a migração de pessoas que eles estão dizendo que vieram de outros Estados por conta da decisão do STF”, lembra o advogado.

“É uma falácia, e a gente precisa de fato desses espaços para acabar com essa narrativa falaciosa que, de certa forma, acaba atraindo um senso comum autoritário que vige aqui nesse país (…)”, diz Amadeus ao falar sobre a “chacina” – “é preciso dar o nome correto às coisas”.

“Inclusive nós, de forma coletiva, juntamos na ADPF das Favelas, na qual a gente questiona justamente a ausência de responsabilidade em relação às pessoas que destruíram o memorial do Jacarezinho”, lembra Amadeus, que foi um dos organizadores da iniciativa ao lado das mães e moradores da favela do Jacarezinho.

“Trata-se, sem dúvida alguma, de uma chacina, que obriga que as instituições tomem alguma medida e assim esperamos que o façam a partir das provocações que estamos fazendo”, pontua Djefferson Amadeus.

Ao afirmar que o que houve na Vila Cruzeiro foi uma chacina, Amadeus lembra que “todo conceito é uma disputa de poder. Então, dar o nome certo à coisa é um papel que nós temos que fazer aqui”.

Veja mais a respeito do massacre na Vila Cruzeiro na íntegra da TV GGN 20 horas. Clique abaixo e confira!

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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