Denunciando Alckmin depois de Haddad, MP acentua a interferência eleitoral disfarçada de isenção

Foto: Edson Lopes Jr/ALESP
Jornal GGN – Depois de usar a mesma causa para denunciar Fernando Haddad três vezes – sendo duas delas dentro do intervalo de 8 dias – o Ministério Público de São Paulo agora investe contra o candidato à Presidência do PSDB, Geraldo Alckmin.
Ao que tudo indica, a estratégica contra o tucano é a mesma empregada contra Haddad: a Promotoria resgata uma delação já conhecida de outras investigações, acrescenta uma narrativa (inspirada na Lava Jato) que dê base para uma ação por improbidade e anuncia à imprensa e à Justiça.
Dessa vez, o promotor do caso seguiu os ensinamentos dos procuradores da Lava Jato em Curitiba à risca e convocou uma coletiva de imprensa, para a tarde desta quarta (5), com a presença do “maior número possível de promotores”, “para demonstração de união” do MP contra a classe política que disputa a eleição de 2018.
A atitude do promotor Ricardo Manuel Castro foi classificada pela defesa de Alckmin como uma tentativa de “fazer barulho”. À Folha, a campanha do tucano afirmou, em nota, que não há nada de novo na denúncia por improbidade administrativa apresentada contra o presidenciável.
A delação da UTC (que diz que a empresa pagou uma dívida de campanha de R$ 2,3 milhões junto a uma gráfica) já rendeu a Haddad uma ação por caixa 2 em tribunal eleitoral. Com o mesmo material, o MP-SP abriu outras duas acusações: uma cível, por improbidade administrativa – como agora fazem com Alckmin – e outra na área penal, acusando o petista de corrupção, lavagem e formação de quadrilha.
O GGN teve acesso à segunda denúncia contra Haddad e expôs a análise neste artigo aqui.
A ação do Ministério Público é uma violação ao princípio do Direito que diz que um mesmo réu não pode responder pelos mesmos fatos em mais de uma denúncia ou tribunal, para evitar sentenças contraditórias.
INTERFERÊNCIA NA ELEIÇÃO
As investidas do Ministério Público têm soado a muitos analistas como uma clara tentativa de interferir na eleição de 2018.
Nesta quarta (5), o jornalista Kennedy Alencar até ironizou a atuação do Ministério Público no caso Haddad, indicando que só falta ele ser denunciado na Vara da Família.
Para o jornalista, os promotores devem se decidir: tem corrupção ou caixa dois na delação contra Haddad? É uma coisa ou outra, diz o colunista da CBN.
Além disso, a ação desmedida do MP contra a classe política é “prejudicial” ao País.
“É preciso mais responsabilidade para formular acusações contra qualquer político, sobretudo em época eleitoral. A demonização da política favorece a candidatura de Jair Bolsonaro, do PSL. A agenda política no Ministério Público é prejudicial ao Brasil. No caso de Haddad, que deverá ser o candidato do PT à Presidência da República, parece que há exagero”, acrescentou.
O PT, no caso da segunda denúncia contra Haddad, tratou a iniciativa como uma operação boca-de-urna para desgastar o ex-prefeito em meio à eleição presidencial e anunciou que vai acionar o promotor Wilson Tafner no Conselho Nacional do Ministério Público.
A terceira denúncia por corrupção, lavagem e formação de quadrilha – com base exatamente nos mesmos fatos, a delação da UTC – foi apresentada na segunda (4), um dia antes da representação contra Alckmin. Leia mais aqui.
Folha destacou que as denúncias do MP em várias esferas atingem não só candidatos do PT, mas do PSDB também – e até Bolsonaro – numa tentativa de mostrar isenção.
ALCKMIN
A ação apresentada pelo promotor Castro afirma que a Odebrecht financiou campanhas do tucano em troca de “manter o bom relacionamento” com o governo de São Paulo, “mantendo benefícios em licitações fraudadas, contratos, privatizações e parcerias público-privadas”.
“A intenção da Construtora Norberto Odebrecht S/A era manter o projeto de concessões e privatizações do Estado de São Paulo, bem como acobertar diversas fraudes à lei de licitações, tais como formação de cartel e superfaturamento de obras”, anotou o promotor.
Segundo os investigadores, Marcos Monteiro (então tesoureiro de Alckmin) pediu uma doação de R$ 10 milhões para a campanha de Alckmin, em 2014. Cerca de R$ 8,3 milhões foram aprovados nos Benedicto Júnior, executivo que comandava o setor de propina da Odebrecht, mas R$ 7,8 milhões foram efetivamente pagos. O MP atualizou o valor pela inflação, indicando R$ 9,9 milhões em favor de Alckmin.
O promotor Ricardo Manuel Castro pede, assim, que o ex-governador “seja condenado à suspensão dos direitos políticos, à perda de eventual função pública e à perda dos valores ilicitamente acrescidos a seu patrimônio”. Ele também solicita o bloqueio de bens dos acusados e quer que a Odebrecht seja multada em um valor de 0,1% a 20% de seu faturamento bruto no ano passado e condenada à dissolução compulsória.
Em nota, a campanha de Alckmin escreveu: “Para além do barulho almejado pelo promotor, não há fato novo, apenas uma conclusão equivocada. O promotor, inexplicavelmente, sugere algo que não existe e que jamais alguém tenha sequer cogitado, nem mesmo os ditos delatores. Nunca houve qualquer relação com atos de governo.”
Leia a coluna de Kennedy Alencar aqui.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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  • A "pequena" diferença é que

    A "pequena" diferença é que petista é culpado até prova em contrário. Ja tucano é inocente MESMO com prova em contrário.

  • Quem é o candidato do PT à Presidência atualmente ?
    "HADDAD conhece muito bem os meandros do poder e 'como o jogo era jogado'. Certamente, não por sua ingenuidade e não por sua insciência do jogo político que o cerca, que novamente é escolhido como candidato do Partido na chapa ao cargo mais elevado do país!" - Trecho de uma das denúncias contra o Haddad. Quando a denúncia foi feita, o escolhido do PT como Candidato a Presidente era e continua sendo o Lula, enquanto a cabeça da chapa não for alterada.

  • Esse é o Judiciário brasileiro

    Nassif: a canalha tá à solta. Essa de denunciar Xuxu faz parte do joguinho. É pra dizer-se isento. A manobra é a seguinte. Denuncia o ex Prefeito, com efeito imediato e enlameamento na grande mídia, jogo combinado de antemão. Enquanto isso os criminosos do bando, tambem ditos denunciados, vão pro arquivo geral e la ficam esquetando até a prescrição do crime. Não foi assim que fizeram com o Príncipe de Paris, o Carcamano da Moóca e AluisinOdebrecht? (mencionados só por mencionar; a lista é longa).

    Enquanto isso a Polícia do Princípe de Paris busca até pelo em ovo. As Pocilgas Geradoras, local e federal, por sua vez, se não tiverem provas inventam. Passada a elição volta tudo dantes no quartel d'abrantes. O holerit recheadinho. Dizem até que há possibilidade de um favorzinhos por fora.

    E se precisarem de ajuda, os de farda tão querendo ação maior que as do Morro do Alemão, no RJ. Já que não têm conflito externo, pau nos da casa.

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