Gilson Dipp, que indicou Moro para Rosa Weber, desaprova suas atitudes, por Luis Nassif

"Como é que se pode conceber um Ministro telefonando para autoridades comunicando grampos, como se lhes prestasse um favor?", diz

Gilson Dipp é um magistrado que fez história na luta anticorrupção. Como Ministro da Controladoria Geral da União (CGU) definiu as bases de um amplo processo de fiscalização, que chegou até os municípios e permitiu montar uma rede interministerial de combate aos mal feitos.

Coube a ele, também, uma decisão que se mostrou, posteriormente, decisiva para a história política do país: a indicação do então juiz Sérgio Moro como assessor da Ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento do mensalão. Dipp considerava Moro muito técnico em suas sentenças.

Foi de Moro a máxima de Rosa Weber, no julgamento de José Dirceu:

– Não tenho prova cabal contra Dirceu – mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite.

Essa mesma manobra foi utilizada na Lava Jato, exposta no famoso Power Point de Deltan Dallagnol.

Conversei com ele há pouco, depois de ler declarações suas para a Folha, sobre as manobras de Sérgio Moro no caso dos hackers de Araraquara.

Aqui, suas principais declarações.

Sobre a Operação Spoofing

Parece muito mais como uma tentativa de desviar o foco das acusações que pesam sobre os grampeados pela Intercept.

Sobre os hackers

Não há nenhuma evidência que tenham levantado o mesmo material usado nas reportagens. Lá, havia trabalho focado, de meses de esforços. Como é possível a dois hackers, inexpressivos, grampear todas as autoridades da República?

Sobre Sérgo Moro avisando autoridades sobre os grampos

A Folha me perguntou sobre o caso e respondi. Depois, achei que a notícia da conversa de Moro com o presidente do Superior Tribunal de Justiça pudesse ter sido mal interpretada, tal o absurdo. São duas pessoas com conhecimento técnico. Como é que um Ministro liga para o presidente do STJ, fala sobre informações de uma investigação sigilosa e comunica que vai destruir as provas.

Sobre a intenção de Moro com os telefonemas

O Ministério da Justiça é o mais antigo da República, um dos mais importantes. Como é que se pode conceber um Ministro telefonando para autoridades comunicando grampos, como se lhes prestasse um favor?

Sobre a Polícia Federal

Certamente não vão se expor a esse jogo. Ontem mesmo a Polícia Federal soltou uma nota dizendo que não iria destruir as provas encontradas. É impossível que não tivessem sido informados, antes, dos telefonemas do Ministro. É a comprovação de que não irão se dobrar a jogos políticos.

Luis Nassif

8 Comentários

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  1. Como já observaram…..o tal hacker não invadiu o celular de ninguém da oposição?????

    Era um hacker seletivo, só invadiu celular de quem é da direita, bem conveniente……..bem a cara do marreco…….

  2. Então o juiz Dipp indicou o Moro pra Rosa Weber porque era “técnico”. Só se for técnico em criação de bode. Porque onde ele põe a boca seca. Parabéns juiz Dipp: no seu Judiciário juiz técnico condena porque pode.

    1. Fosse um técnico o Moro, não teria sugerido a patética Rosa Weber o “não tenho prova cabal contra Dirceu, mas vou condena-lo porque a literatura jurídica permite”.

  3. Uma correção: o Dipp nunca foi Ministro da CGU. Se não me engano, foi Corregedor do Conselho Nacional de Justiça e membro do Conselho de Ética Pública da Presidência da República. Talvez tenha sido membro do Conselho de Transparência e Combate à Corrupção da CGU.

  4. Senão houverem provas, eu as fabrico, se elas não valerem eu condeno mesmo assim, baseado em que eu posso fazer quase tudo, pois sou “Juiz”, mas se acharem provas contra mim eu as destruo… no fundo sou o poderoso chefão desta republiqueta de cegos e por isso estou acima da lei. Que se danem o mundo todo, os cegos me apoiam e eles são a maioria.

  5. “Moro usa o cargo, aniquila a independência da Polícia Federal e ainda banca o chefe de quadrilha ao dizer que sabe das conversas de autoridades que não são investigadas”, disse disse GelipeSanta Cruz, presidente da oab

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