Luís Roberto Barroso, a liderança suave no STF

Luís Roberto Barroso assumiu o cargo de Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) como unanimidade nacional. Na condição de advogado, antes de se tornar Ministro coube a ele defender algumas das grandes teses modernizantes do STF.

Chegou em pleno burburinho da AP 470, sofrendo ataques preventivos da frente de difamação criada em cima do clima de linchamento.  E sofrendo também críticas de colegas e de jornalistas (como este aqui) incomodados com  seu ar algo blasé, de quem não se deixa comover com discussões e retóricas.

Foi um período tenebroso, com o STF sendo presidido por Ministros sem compostura e as grosserias campeando nas sessões. Restava a fortaleza suave de Ricardo Lewandowski e a ironia firme e sem retórica de Marco Aurélio de Mello colocando limites ao festival de grosserias emanados de Joaquins e Gilmares.

Aos poucos, de modo suave, Barroso foi construindo sua liderança em uma casa quase coagida pela truculência verbal de Gilmar Mendes, amparado por uma mídia vociferante e uma turba disposta a agressões públicas contra recalcitrantes, como aconteceu com Ricardo Lewandowski no julgamento do “mensalão”.

Na sessão histórica deste 17 de dezembro de 2015, sem rompantes, com absoluta racionalidade, Barroso desconstruiu um a um os argumentos do relator Luiz Edson Fachin, mas com tal fidalguia que Fachin saiu consagrado  da sessão – embora derrotado em todos os pontos relevantes.

Restaram a Dias Toffoli e Gilmar Mendes os berros, a retórica vazia, comportando-se como líderes secundaristas defendendo a democracia direta, por cima dos partidos e das “oligarquias partidárias” – conforme definição do mais oligárquico personagem jurídico do país, Gilmar.

Foram berros para a TV, não para um fórum qualificado. Pelo contrário, terminado o festival de berros salivados de Gilmar e Toffoli, a palavra voltou a Marco Aurélio de Mello para, com sua linguagem e raciocínios claros, trazer de volta os princípios elementares de democracia representativa, assegurando a indicação dos membros da comissão do impeachment aos blocos partidários.

Gilmar saiu bufando da sessão, avisando que iria viajar e merecendo, de bate pronto, um “boa viagem” de Levandowski, um presidente impecável, até nos elogios paternais às bizarrices adolescentes de Toffoli.

No final da sessão, ficava claro que há juízes no Supremo. E, mais que isso, uma liderança suave e firme, de um iluminista de modos fidalgos mas  sólido como a qualidade dos argumentos com que ilumina a Justiça.

 

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Impressionante a ironia, os

    Impressionante a ironia, os dois Ministros tido como mais proximos do PT foram seus algozes e pior, derrotados.

    • Eu não adiantaria que Fachin

      Eu não adiantaria que Fachin se bandeou para o lado de lá (o da não-justiça) creio eu que ele estava um pouco amendrontado pela estréia, com a responsabilidade que teve (estava defendendo o cargo de titular com uma banca hostil...). Além disso houve um assédio indevido por reaças à frente de sua residência.

  • Barroso me surpreendeu

    Barroso me surpreendeu POSITIVAMENTE!

    Quem é HONESTO só precisa da justiça justa!

    É simples...

  • Endosso!

    Assisti a sessão inteira e concordo com tudo. A serenidade e a clareza ao expor as divergências , me fizeram admirar ainda mais o ministro Barroso. Além de tudo, um texto elegante e sem rococós.

    Gostei de ver as caras de paisagem que os demais ministro fizeram durante os ataques apopléticos de Toffoli e Gilmar. Esse último, chegando ao destempero de acusar seus pares de manipulação e casuísmo ( ganha um doce quem adivinhar que parte o JN escolheu da fala de Gilmar para colocar na matéria hoje????).

  • O nobre jornalista Luiz

    O nobre jornalista Luiz Nassif, afeito às delicadezas que nem sempre se fazem necessárias à disputa política, escreveu o que eu gostaria de ter escrito. Falta-me a maestria com as palavras, típicas do Nassif.

    Sim, parece que a partir de hoje teremos no STF um Ministro à altura de rebater as diatribes e violências do giOmar.

    O Juiz Barroso foi provocado até o limite por um Ministro do STF sem nenhuma envergadura moral. Aquele mesmo amado pela imprensa que se pauta em bandidos para produzir as suas pautas.

    Não cedeu. 

    Mais que isso, a divergência aberta pelo Ministro Barroso ao voto do Ministro Fachin, orientou todo o plenário.

     

    Ao giOmar restou, de forma indecorosa, desrespeitosa e típica dos tucanos depenados, viajar.

     

    Lewandowski deu-lhe boa viagem.

     

     

  • Realmente não me importa quem

    Realmente não me importa quem 'ganhou' ou 'perdeu', desde o voto dos embargos infringentes na AP 470, passando por seu discurso de paraninfo e mais agora novamente ouvindo a qualidade do entendimento da Constituição eu fico realmente encantado com esse senhor, é muita distinção, convicção e classe no mundo em que vivo. Terei um ótimo final de semana, principalmente evitando parentes e amigos nesses próximos três dias. Felicidades a todos!

    • Obrigada pelos votos! Tenho

      Obrigada pelos votos! Tenho certeza que grande parte do povo brasileiro vai dormir hoje feliz e em paz. Obrigada Ministro Barroso.

  • Gilmar e Toffoli

    Gilmar e Toffoli, com todo respeito, são duas múmias paralíticas. Pra que e pra quem Toffoli fez aquela cena patética? Claro que foi para a TV e para a oposição, falou, falou e não disse nada. O  Gilmar todo mundo sabe  como ele é  ranzinza,  ele deveria viajar  pelo resto da vida porque ele é muito chato, só a mulher dele pra aguentar.  Não vou malhar o Fachin, pois ele opinou da forma que ele entendeu a constituição, ele é um homem educado e independente de como ele votou não merece ser criticado com ofensas. Estou satisfeita em saber que a votação volta a estaca zero acabando com palhaçada do Cunha e espero do fundo do coração que quando está votação acontecer ele já esteja  fora da presidência e de preferência preso.

  • Fachin saiu consagrado, sim, como pusilânime tipo Ayres Britto

    Fachin saiu consagrado, sim, como pusilânime tipo Ayres Britto

    E ainda confirmou isso, também no final do julgamento, quando mostrou pequenez ao pedir quorum de 2/3 para admissibilidade do processo no Senado. Por que ele resolveu aqui ‘ajudar’ a presidente, se todo o seu voto inicial vergonhoso foi para ajudar Cunha e o golpe. Contradição feia. Parece aqui ter sido apenas uma vingança contra Barroso, que votou por maioria simples, e que o humilhou com seu voto.

    Com a rapidez com que, poucos meses depois de nomeado, adotou a jurisprudência de Merval Pereira e da Globo, o ministro pode passar a ser conhecido como o Ministro Facin-Facin.

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