Lula e o jogo de soma nula, por Fábio de Oliveira Ribeiro

No jogo neoliberal de soma nula instrumentalizado por Jair Bolsonaro apenas os banqueiros ganham. Todos os demais perdem, inclusive os ruralistas que ajudaram a derrubar Dilma

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

O estrago feito pela confusão entre o “jogo político” e o “jogo jurídico” (https://jornalggn.com.br/eleicoes/huizinga-e-o-jogo-perioso-dos-juizes-brasileiros/) está consolidado. E ele não poderá ser desfeito pelo STF ao julgar as ADCs sobre a prisão em segunda instância.

Um novo jogo entrou em cena. Refiro-me obviamente ao “jogo neoliberal”, em que a economia financeira lucra destruindo as instituições públicas e a economia real.

No jogo neoliberal de soma nula instrumentalizado por Jair Bolsonaro apenas os banqueiros ganham. Todos os demais perdem, inclusive os ruralistas que ajudaram a derrubar Dilma Rousseff e a impedir a vitória de Fernando Haddad (pois Bolsonaro jogou a China no colo de Donald Trump).

Os perdedores brasileiros do neoliberalismo não podem ter qualquer esperança. Eles continuarão desempregados ou não conseguirão empregos bem remunerados. Quando ficarem doentes, eles não terão o SUS. Envelhecidos ficarão sem aposentadoria ou receberão benefícios menores que o Salário Mínimo. Os filhos deles não estudarão em universidades públicas gratuitas.

Se a realidade imitasse a “pop culture”, os norte-americanos poderiam escolher entre Tomorrowland (2015) e Dreanland (2016). Mas os brasileiros seriam condenados a na Zombieland (2009) caso não fizessem um Bacurau (2019) em escala nacional. Perder muito ou perder mais. Essas são nossas opções.

As alternativas de Sérgio Moro não são diferentes. Ao ganhar o Ministério da Justiça ele perdeu a imagem de herói. A divulgação dos chats entre ele e Deltan Dellagnol destruíram a imagem que foi construída pela mídia enquanto ele criava as condições para a vitoria do neoliberalismo. Em pouco tempo ele foi obrigado a aceitar humilhações públicas porque tem medo de ser tratado como vilão se ficar sem foro privilegiado.

Conflitos entre o Executivo e o Judiciário. Entre o Legislativo e o Executivo. Entre Bolsonaro e os líderes de seu próprio partido. Enquanto o Brasil é literalmente destruído todas as atenções se deslocam para essas disputas. Muitas delas, entretanto, são irrelevantes e marginais.

Alguns dizem que o presidente vai renunciar. Outros afirmam que ele sofrerá um Impeachment. Os mais temerosos acreditam que ele tentará dar um golpe de estado.

A governabilidade do país está comprometida? Sim. Mas isso se tornou irrelevante, pois o neoliberalismo se fortalece enfraquecendo as instituições públicas e inibindo ou comprometendo a capacidade de ação do Estado.

Onde o neoliberalismo vence o país se torna ingovernável. A Grécia hoje é o Brasil amanhã. E assim como os gregos foram esmagados para salvar os Bancos franceses e alemães, os brasileiros serão escravizados para salvar a Boeing e, eventualmente, alguns Bancos norte-americanos.

A crise é a solução. Nossa derrota deve ser permanente e, se possível, amplificada. No jogo de soma nula, o vazio do poder é um programa de governo. Isso explica os vídeos cretinos divulgada pelo presidente e por seus ministros. Eles venceram e sabem que sua vitória depende da perpetuação da derrota de qualquer projeto político de Brasil.

Lula foi o único líder de esquerda que percebeu a mudança das regras do jogo. Num sistema projetado para glorificar externamente a derrota do nosso país frente os EUA e, internamente, a derrota de todos para garantir o crescimento do capital financeiro, ele não pode se apresentar como um vitorioso.

Derrotado e preso, Lula foi igualado às vítimas do neoliberalismo (o Brasil e a maioria do povo brasileiro). Mas o jogo de soma nula perdeu ao revogar a liberdade dele, pois foi justamente isso permitiu a Lula transformar a prisão em palanque.

Fora da prisão o ex-presidente petista era um problema. Dentro da prisão o “sapo barbudo” faz os vitoriosos tremer sempre que abre a boca.

Ciro Gomes disse que Lula não aprendeu nada na prisão. Em razão de tudo que foi dito aqui, me parece evidente que Lula está certo. Quem continua preso às regras da política que deixaram de existir em 2016 é o Barão de Sobral.

Os leitores de Ab Urbe Condita Libri, de Tito Lívio, entenderão porque escolhi fotos de moedas romanas para ilustrar esse livro. Nos primórdios de Roma, quando uma crise interna de endividamento dos plebeus sacudia a cidade os patrícios sempre faziam a mesma coisa: eles declaravam guerra a uma cidade vizinha. Os plebeus que não morressem em combate resolveriam seus problemas financeiros ao receber parte do butim ou seriam assentados em colônias romanas.

A guerra externa não garantia apenas a pacificação interna de Roma, mas também um aumento da riqueza e do poder dos patrícios que comandavam a cidade eterna. Guardadas as devidas proporções e particularidades, a política norte-americana não é muito diferente da romana. A última Flor do Lácio está sendo colonizada para pacificar o império romano-americano. Mas isso não vai resolver nossos problemas, apenas aumenta-los.

Fábio de Oliveira Ribeiro

1 Comentário
  1. A tática utilizada pela banca sempre esteve à vista de todos, e será impossível fazer com tal modus operandi venha a ser alterado ou mesmo retroaja, pois depois que o sistema consegue avançar um passo que seja, não perderá de jeito nenhum aquele espaço conquistado.
    Quando se tem PGuedes e o neto de RCampos, ambos do “mercado” e neófitos em gestão pública e , por isto, encaixados no ministério e no BC, quem foi que impingiu estes dois inertes ao governante tresloucado, “governante do vento” que faz que questão de dizer que não sabe nada de Economia ? Não, tais movimentos não acontecem por um acaso da vida, é o tal do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
    Neste quadro de expressiva dificuldade, os bancos tupiniquins conseguem o feito de, graças à extraordinária competência para demitir funcionários e também sapecar na turma as taxas de juros mais altas do planeta, superiores a 300% aa, serem os bancos que apresentam as maiores taxas de retorno.
    Como se pode ver, tem um setor da economia que não pode reclamar da tal crise que os brazucas percebem, quando o neto e RCampos mandou imprimir 600 bi este ano, aquilo significou mais 30 bi anuais para o bolso de quem não precisa e 30 bi a menos para investimento um pouco mais inteligente.
    O patropi é dominado pela banca há muitos anos, e assim continuará sendo, afinal, um PIB superior a U$ 1,5 tri com um sistema bancário constituído por, majoritariamente, 3 bancos privados, somente aqui é possível esta maluquice.

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