Lula: “O senhor que grampeou o Youssef, poderia saber mais de corrupção que eu”

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Moro quis saber se Lula não se sentia responsável pela corrupção na Petrobras. Juiz também deu indícios de que a participação do ex-presidente – que admitiu reunião com Renato Duque para falar de propina – era vital para o esquema

Jornal GGN – No quarto vídeo do depoimento de Lula a Sergio Moro, o ex-presidente foi questionado pelo juiz se sabia da existênca do esquema de corrupção na Petrobras durante sua passagem pelo governo. Lula respondeu que não tinha conhecimento e nem responsabilidade pelas ações dos ex-diretores que corromperam a estatal. E disparou contra Moro: “Todos nós só ficamos sabendo quando foi pega no grampo a conversa de Alberto Youssef com Paulo Roberto. (…) O senhor que soltou o Youssef e mandou grampear. O senhor poderia saber mais do que eu.”

O embate começou quando Lula disse que nenhuma autoridade, institutição ou mesmo a imprensa havia levantado indícios do petrolão à época dos acontecimento. Entre 6’37” – 7’06”:
 
Lula: Entenda, doutor Moro, que coisa engraçada. Todos os diretores que indiquei passaram pelo crivo do GSI [gabinete que avaliava as indicações de partidos], foram indicados, não houve um voto contra do Conselho de Administração, nenhuma denúncia de qualquer trabalhador, nenhuma denúncia da Policia Federal, nenhuma denúncia do Ministério Público, nenhuma denúncia da imprensa. E isso aconteceu em 2003 e 2004. Como não posso grampear ninguém e não tinha Youssef na minha vida, eu não tinha como saber.
 

https://www.youtube.com/watch?v=n3-YrzipetA]

Mais à frente, o assunto voltou à tona, e Moro até perguntou se Lula não achava que era responsável, ainda que indiretamente, pela corrupção na Petrobras. Entre 25’30” e 26’50”:

Moro: O senhor ex-presidente tendo nomeado ou dado a palavra final para indicação ao Conselho de Administração da Petrobras de Paulo Roberto Costa, Renato Duque, Nestor Cerveró, Jorge Zelada, o senhor não tinha conhecimento dos crimes por eles praticados ou desse esquema?

Lula: Não, nem eu, nem o senhor, nem o Ministério Público, nem a Petrobras, nem a imprensa, nem a Polícia Federal. Todos nós só ficamos sabendo quando foi pego no grampo a conversa de Alberto Youssef com Paulo Roberto.

Moro: Eu indago porque foi o senhor que indiciou o nome deles ao Conselho de AdM da Petrobras, é uma situação diferente da minha, que não tenho nada a ver com isso, eu nunca participei dessas negociações. 

Lula: O senhor que soltou o Youssef e mandou grampear. O senhor poderia saber mais do que eu.

Moro: Eu decreti a prisão do Alberto Youssef, é bem diferente. Mas enfim, o senhor tendo indicado não tinha nenhum conhecimento disso?

Lula: Nada, eu indiquei tanta gente…

Moro: O senhor tendo nomeado todas essas pessoas, o senhor entende que o senhor não tem nenhuma responsabilidade pelos fatos que eles praticaram na Petrobras?

Lula: Nenhuma. 

A CONFISSÃO SOBRE RENATO DUQUE

Neste trecho do depoimento, Moro explorou a cadeia de corrupção na Petrobras, dando sinais de que, para ele, Lula tem papel predominante no esquema, porque foi responsável por dar a “palavra final” sobre todos os diretores indicados para o Conselhor de Administração da Petrobras.

Em particular, o juiz quis saber da relação de Lula com Renato Duque, apontado pela Lava Jato como o diretor que abastecia o caixa do PT junto a João Vaccari Neto.

Duque, pretenso delator, disse a Sergio Moro que se encontrou com Lula, já depois da Lava Jato, para falar da existência de contas no exterior. Segundo Duque, que ainda está preso, Lula teria dito que “não pode ter” nenhum indício de conta. Duque afirmou que mentiu e disse que não tinha conta nenhuma.

Lula admitiu o encontro, mas negou que tenha solicitado a destruição de provas.

18’45” a 22’10”:

Moro: Esteve pessoalmente com Renato Duque alguma vez?

Lula: Estive uma vez, no aeroporto de Congonhas, se não me falha a memória, porque tinham vários boatos de corrupção e de conta no exterior. Eu pedi para o Vaccari, porque eu não tinha amizade com o Duque, trazer o Duque para conversar.

Moro: Isso foi quando?

Lula: Não tenho ideia. Sei que foi no hangar lá em Congonhas e a pergunta foi simples: ‘Tem matéria nos jornais, têm denuncias de que você tem dinheiro no exterior. Você tem conta no exterior?’, e ele falou: ‘não tenho’. Falei: ‘acabou’. Ele não mentiu para mim, mentiu para ele mesmo.

Moro: Por que fez isso, procurar Vaccari para chegar ao Duque?

Lula: Porque o Vaccari conhecia ele. Só isso. Que tipo de relação eles tinham, eu não sei.

 

Lula ainda disse que procurou Duque porque sabia que ele foi indicado pela bancada do PT. E queria saber se os “boatos” publicados pela imprensa após a prisão de Youssef, sobre o esquema na Petrobras, eram reais.

[video:https://www.youtube.com/watch?v=QjECjTqsZZ0 height:395

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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

11 Comentários

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  1. Encontro com Renato Duque

    Por caso Lula disse: “Nunca me encontrei ou mantive contato com Renato Duque”? Não! Ele não disse isso… Ele admitiu ter eocnotros com Renato Duque 🙁 Por que Lula encontrou-se com Renato Duque?

    1. Lula: Não tenho ideia. Sei

      Lula: Não tenho ideia. Sei que foi no hangar lá em Congonhas e a pergunta foi simples: ‘Tem matéria nos jornais, têm denuncias de que você tem dinheiro no exterior. Você tem conta no exterior?’, e ele falou: ‘não tenho’. Falei: ‘acabou’. Ele não mentiu para mim, mentiu para ele mesmo.

      Qual foi a parte disso que você não entendeu cara?

  2. O sapo barbudo se entregou no

    O sapo barbudo se entregou no interrogatório. Basta ter sido alfabetizado em português para apreendê-lo. Daqui a 30 dias, Moro vai setenciá-lo culpado, obviamente. Agora, é torcer para que o recurso da parte seja julgado na segunda jurisdição hirárquica bem antes das eleições do ano que vem. Bora.

  3. Incrível ou hilariante, é que

    Incrível ou hilariante, é que os procuradores enfiaram recortes de jornais e documento sem assinatura no “processo”. O “juiz” não só parece que aceitou como ainda citou tais coisas para fazer perguntas. Eu não entendo como funciona um processo, mas me parece que foi mais ou menos isso. Se este “juiz” trabalhasse num banco, será que ele descontaria um cheque sem assinatura ou o aceitaria em depósito? Apenas dois tipos de pessoas ainda concordam com este circo: os que estão cegos pelo fanatismo e os absolutamente tapados. Esta, do documento sem assinatura, foi a pá de cal nesta m_rda de história do triplex.

  4. O que doutor Moro parece ter esquecido

    Paulo Roberto Costa entrou na Petrobras em 1979, quando participou da instalação das primeiras plataformas de petróleo na Bacia de Campos (RJ).

    Suas primeiras indicações políticas dentro da estatal ocorreram quando o PSDB ganhou a presidência da República.

    Em 1995, logo no primeiro ano da presidência de FHC, ele foi indicado como gerente geral do poderoso Departamento de Exploração e Produção do Sul, responsável pelas Bacias de Santos e Pelotas.

    Nos anos seguintes, sempre sob gestão dos tucanos, Paulo Roberto Costa foi beneficiado por várias indicações políticas internas da Petrobras. Em 1996 foi gerente geral de Logística. De 1997 a 1999resdpondeu pela Gerência de Gás. De maio de 1997 a dezembro de 2000 foi diretor da Petrobras Gás – Gaspetro. De 2001 a 2003 goi gerente geral de Logística de Gás Natural da Petrobras. E de abril de 2003 a maio de 2004 (agora, sim, no início do governo Lula), foi diretor-superintendente do Gasoduto Brasil-Bolívia.

    Sua indicação para diretor de Abastecimento, em 2004, por indicação do PP, na gestão Lula, era o caminho natural de alguém cujas funções internas lhe permitiram deter informações estratégicas da Petrobras.

    Renato Duque – Diretor de Serviços, 47 anos. Engenheiro Elétrico formado pela Universidade Federal Fluminense, com especialização em Engenharia do Petróleo e pós-graduação MBA na UFRJ. Engenheiro de Petróleo Sênior da Petrobras, onde ingressou em 1978. Assumiu diversas funções de gerência na empresa (plataformas, unidades de exploração, perfuração, operações especiais). Entre 1995 e1999, foi Gerente de Recursos Humanos da área de Exploração e Produção, coordenando todas as unidades operacionais nesta atividade. Foi também Gerente de Engenharia e Tecnologia de Poço do E&P. Desde novembro de 2000 é Gerente de Contratos da área de Exploração e Produção, onde coordena especificação técnica, análise de mercado e contratação de sondas de perfuração, embarcações e helicópteros, além da contratação de serviços de perfuração, embarcações especiais de lançamento de linhas e serviços submarinos.

    Jorge Zelada (2008): Engenheiro de carreira da Petrobras desde 1980, Zelada foi escolhido pelo deputado Fernando Diniz (PMDB-MG), então presidente do partido em Minas Gerais e deputado federal. Houve uma disputa entre as bancadas do PMDB da Câmara do Rio e de Minas pelos comandos de Furnas e da Diretoria Internacional da Petrobras. Os cariocas ficaram com Furnas, cuja indicação foi feita por Eduardo Cunha; enquanto Diniz bancou o nome de Zelada.

    No ano seguinte, Diniz morreu. Zelada ficou sem padrinho no cargo e passou a desconsiderar as demandas dos peemedebistas mineiros que se uniram para pedir internamente que alguém no partido com poder assumisse a “paternidade” parra mantê-lo no cargo.

    Foi aí, segundo relatos de integrantes do PMDB ao GLOBO, que Cunha passou a bancá-lo na diretoria da estatal.

    Cerveró: Funcionário de carreira da Petrobras desde 1975. O ex-senador Delcidio Amaral (então no PSDB) foi diretor de Gás e Energia entre 2000 e 2001 e Cerveró gerente dele, durante a administração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Só se fazendo de bobo para não ver que a quadrilha já existia antes do PT e quem são os verdadeiros culpados.

  5. Convenhamos, um réu condenado

    Convenhamos, um réu condenado e com delação em vigência, demorou 10 anos para que se descobrisse algo que até o reino mineral já sabia, que Alberto Youssef já era o maior doleiro em atividade no país.

    E isto, em uma Vara Especializada em Fraudes e Lavagem de Capitais, sendo que suas atividades tinham como centro, a cidade de Curitiba, no Paraná, sede da referida Vara.

    Então, a Justiça, o Ministério Público Federal e a Policia Federal, em todos esses 10 anos, nada desconfiaram ou souberam???

    Pelo menos tal indagação deveria servir para que se saiba que não é tão fácil assim, investigar indiciar denunciar e processar alguém, nem mesmo Alberto Youssef, – em plena vigência da delação premiada anterior.

    Se não é fácil, nem foi factível, para a Justiça, o Ministério Público e a Policia Federal, que são quem ao fim e ao cabo, detém os poderes necessários para tanto, o que dizer dos demais integrantes do poder público que não estão diretamente ligados a tais funções.

    Nestas perguntas deve estar a resposta para as indagações com que nos bombardeiam incessantemente, óbvio, quando os envolvidos são do PT.

    Sempre surge um dizendo.  – Há …não sabiam nada???

    https://jornalggn.com.br/noticia/lava-jato-e-a-delacao-de-youssef-no-caso-banestado-por-sergio-medeiros

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