O que Dean Acheson teria a ensinar ao Judiciário brasileiro

Em junho de 1952 o Rio recebeu a visita do Secretário de Estado norte-americano Dean Acheson.

Dean G. Acheson era uma figura portentosa, da melhor tradição de Yale.  Ele havia sido discípulo do grande constitucionalista Louis D. Brandeiss, primeiro juiz judeu da Suprema Corte americana, de 1916 a 1939. Recém-formado, chegou a trabalhar com Franklin Delano Roosevelt, em seu primeiro governo. Pediu demissão quando Roosevelt resolveu manobrar com ouro para desvalorizar o dólar.
Serviu como assistente de secretário de quatro Secretários responsáveis pela política externa norte-americana: Cordel Hull, Edward R. Stettimius Jr.,  James F. Byrnes e o General George Marshall.

A relação de feitos era enorme. Em 1939 chefiou uma comissão incumbida da desburocratização do judiciário. Em janeiro de 1941 o relatório foi classificado pelo “New York Times” como “um marco na história da reforma administrativa”. Também ajudou a criar a UNRRA – a gde organização incumbida de realocar refugiados de guerra, responsável pela colocação de 8 milhões de pessoas.  Chefiou a delegação americana na conferência de Atlantic City, e depois foi eleito por unanimidade presidente do Conselho.

Em 1944 foi um dos representantes dos Estados Unidos na Conferência de Bretton Woods, autor do relatório Acheson-Lilenthal, que serviu de base para o Plano Baruch de controle da proliferação nuclear.

Acheson foi melhor apreciado postumamente. Foi o principal redator do plano Marshall, da doutrina Truman, e mentor da intervenção no Líbano. Ditou a política externa americana de janeiro de 49 a 52. Mas nos tempos do macartismo era considerado de esquerda.
Sua visita ao Rio, trazido pelo embaixador Walther Moreira Salles, foi uma celebração da melhor tradição democrata norte-americana.
O diário “A Noite” celebrou com uma edição especial. Nas páginas internas, sob o título “Uma Carta dos Direitos dos Estados Unidos”.
No Brasil da Lava Jato, uma boa lição esquecida:


 

Luis Nassif

14 Comentários

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  1. O Supremo está em falta com o

    O Supremo está em falta com o Brasil. Usou firmemente de prerrogativas que seriam duvidosas, mas não usa de prerrogativas legais para combater o mesmo pecado. O povo não entenderá isso, mesmo que os leitores da Veja fiquem muito mfelizes com isso. Mandou prender um corrupto petista, quando o maior corrupto do país é deixado livre para fazer planos.

  2. Dean Acheson foi um dos Six

    Dean Acheson foi um dos Six Wise Men, itulo de um livro celebre de Walter Isaacson e Evan Thomas onde são narradas as carreiras interligadas de seis personagens que criaram o poder imperial americano no Seculo XX, Acheson é um deles, juntamente com John Mc Cloy, Robert Lovett, George Marshall, Averrel Harriman, Charles Bohlen e George Kennan.

    Essas grandes personalidades serviram ao seu Pais com grande visão e inteligencia, Acheson tive importante papel no começo da Guerra Fria, tenho suas memorias PRESENT AT THE CREATION – My Years in the State Department, editora W.W.Norton de 1969, quase 800 páginas.

    Eram homens sábios que sabiam balancear principios e necessidades, uma percepção pratica sem fanatismos ou olhar estreito. Homens dessa qualidade fazem hoje muita falta nos Estados Unidos, hoje um viveiro de mediocridades no governo,

    uma baixa de qualidade impressionante e que parece ser universal.

    1. Mac Carthy X Acheson

         Conflito interessante, entre um oportunista midiático, contra um jurista/diplomata de elevada capacidade de visão estratégica.

          Acusado pelo criminoso Mac Carthy , de ter sido ” o homem que perdeu a China para o comunismo ” – uma acusação sem pé nem cabeça – mas bastante repercutida a época, em nada atingiu a reputação de D. G. Acheson.

          Infelizmente o DofS , em seus quadros não tem, e faz tempo, diplomatas como ele ; imagine meu caro AA, se no periodo da “guerra fria ” (  Guerra da Coréia, China/Formosa, criação da NATO, Crise dos Misseis de Cuba ), o periodo “quase quente”, estovessem de plantão os diplomatas americanos de hoje, tipo Kerry, e demais aspones………

           Com certeza, não estariamos mais aqui, ninguem.

  3. Constituição Norte Americana

    Essa Carta dos Direitos foi um grupo de emendas, aprovadas em 1791, à Constituição dos Estados Unidos. Tão importantes que são usadas para legitimar a liberdade de expressão, bem como o direito ao uso de armas naquele país. Mas uma bela lição ao judiciário brasileiro que se preocupa em proteger sua “reputação”, ao invés de respeitar garantias legais de réus, mesmo em situações gravíssimas e dignas de reprovação, como a acontecida com o ainda senador Delcídio.

  4. Na Carta de Direitos, gosto

    Na Carta de Direitos, gosto muito do art. I:

    ” O Congresso não fará lei alguma relativamente ao estabelecimento de religião ou proibindo o livre exercício respectivo; ou limitando a liberdade de palavra ou de imprensa; ou o direito do povo reunir-se pacificamente e peticionar ao governo correção de injustiças. “

  5. REALMENTE ALGUÉM DEVIA CONTROLAR O JUDICIÁRIO

             O Jornalista Jânio de Freitas informa que o sr. Nertor Cerveró fez acordo com a Justiça da Suiça e pagou com o próprio  dinheiro que tinha roubado da Petrobrás. Todos sabiam disso, Dr.Janot, Delegados PF e Ministro do STF.

  6. Nunca vi falar em Dean

    Nunca vi falar em Dean Acheson, mas o que me chama a atenção nessas figuras referenciais americanas é o seu extremo patriotismo. Eles construiram não só a engenharia que fez do Estados Unidos o império como também agregaram a sua imagem referenciais de democracia e justiça. Democracia e Justiça em que eu não acredito nem um pouco visto o que foi feito no resto do mundo para estabelecer a geopolítca americana de poder mas que venceu a batalha ideológica mundial e deu argumentos para a propagação e defesa do império americano e seu capitalismo.

    E nossa referência Joaquim Barbosa diz com extremo prazer que a Petrobrás vai ser engolida lá fora pela justiça americana

    E nossa referencial república do paraná entrega todos os documentos para a justiça americana engolir a Petrobrás

    E nosso referencial senador Serra, eleito por São Paulo, teve como primeiro projeto o desmonte do pré sal (o idiota líder do governo foi junto mas se lascou KKK e o governo Dilma não fez nada)

    E nossa referencial imprensa desenvolve atualmente uma campanha feroz contra o BNDES, baseado nos referenciais ministros do TCU que tem Nardes e Cedraz como figurantes.

    Que país e nação resiste a tudo isso?

    1. RESPOSTA A VERA LUCIA VENTURINI

      Ótima a sua opinião! Acrescentaria que o ensino americano também contribui enormemente para o patriotismo dos EE.UU enquanto que aqui nada faz. A pergunta é qual o futuro de um país nestas condições? A salvação nossa está nos movimentos sociais, nos sindicatos, na FUP e congêneres cujos filiados defendem seus interesses e das empresas que trabalham, sua tecnologia. Quanto as universidades existem excessões como a UFMG, UFRJ. 

    2. Sentimentos

      E quando aparece alguém dizendo o contrário, enaltecendo o país não pelas suas praias, mulheres, futebol e Carnaval mas sim pela capacidade das pessoas brasileiras de instruírem-se, trabalharem e prosperarem, levando o país todo à prosperidade, apostando em esperança e igualdade de oportunidades, vêm as tais forças conservadoras através de outras pessoas e tratam de derrubar o otimismo. “A Esperança foi vencida”, dizem como que dando a vitória à desesperança.

      Por menos que desejem os “exatos”, um país se faz de sentimentos. Patriotismo é um sentimento. Que, com certeza, brasileiros como Joaquim Barbosa, José Serra, Carmem Lucia não têm. Pelo menos em relação ao Brasil, não.

  7. Nas suas memórias, “A

    Nas suas memórias, “A lanterna na popa”, editora Topbooks se não me falha a memória, Roberto Campos conta uma história muito boa com o Acheson (aliás, há muitas boas histórias em A lanterna na popa).

    Por ocasião da visita ao Brasil em 1952 Roberto Campos participou do grupo que assessorou o Governo Vargas (salvo engano chegou a participar como tradutor para o próprio Vargas).

    Num dos dias da visita, após a última reunião de trabalho, ainda no meio da tarde, Acheson indaga aos brasileiros onde se poderia relaxar um pouco e beber alguma coisa e é contestado por Pio Correa  (outro diplomata brasileiro, conhecido pelo conservadorismo), que disse: – “A gentleman never drinks before the sunset”.

    Roberto Campos disse que foi um constrangimento geral na ocasião e que anos depois, quando ele Campos foi Embaixador em Washington, Acheson, então já aposentado, sempre ia às recepções promovidas pela Embaixada e que quando cumprimentava Campos sempre indagava ” – Where are that son of a bitch who never drinks before the sunset?…”

    A propósito, Pio Correa ficou depois conhecido como um dos diplomatas mais ligados à ditadura e ligado à repressão. Foi também acusado de ser agente da CIA pelo norte-americando Philip Agee (ex-agente, que rompeu com a CIA).

  8. Dean Acheson

    Com muita imaginação foi possível resolver a questão do ”pecado original”: um pombo deitou com uma virgem e dessa união, condenada pela fisiologia e pela razão, nasceu um cordeiro, o cordeiro de Deus. Como o absurdo passou batido, sacaram que atribuir direito divino ao rei seria fácil como chutar uma galinha morta. Foi então que aconteceu o ”problema original”: a contraposição da humanidade (em pretender viver do próprio trabalho) com a pretensão dos reis (de viverem do trabalho da humanidade).

    Não importa se rei, raça ou elite oligárquica empresarial, essa contraposição de princípios, no tempo, justificou escravidão, tirania, holocaustos , ”guerras humanitárias e o direito de proteger”. Ainda não foi possível resolver o problema e post como esse do Nassif, vendendo a imagem de um rola-bosta belicista enfronhado nas altas rodas como «figura portentosa da melhor tradição de Yale», certamente não ajuda e fere a minha sensibilidade. Importantes analistas como Noam Chomsky (para ele Acheson nada tinha de portentoso e não passava de um ”mané” ao lado do G. Keenan) concordam que há décadas, o objetivo principal, superior, dominante da política exterior da Casa Branca é o de modelar a história, controlar o mundo inteiro, fazê-lo cópia perfeita dos valores dela e forçá-lo a trabalhar a favor dos seus interesses  –  uma história segundo a qual toda e qualquer nação do planeta é teoricamente ”nossa”; só não será, se nós a ”perdermos”. Essa visão de política ainda é o unico exemplo de perfeita sintonia entre membros da elite e da política dos EUA. A ”mission” do Acheson era essa: os demais países não podem controlar suas respectivas economias, por que isso conflita com aspirações da elite dos EUA, que é quem – não os cidadãos, nem os eleitores, nem, sequer, os eleitos! – domina a política nos EUA. Para muitos estadunidenses (mas não para o resto da humanidade), essa narrativa não reflete húbris, arrogância ou intoxicação pelo poder imperial. É normal: é senso comum. No coração da mitologia nacional dominante sempre houve, assumida, a ideia de que os EUA eram “a locomotiva do mundo” e todas as demais nações eram “o reboque” como Dean Acheson gostava de dizer. A razão é simples (para os estadunidenses): os EUA eram a primeira e a maior nação fundada sobre verdades morais universais que seriam autoevidentes até para qualquer boçal dos quatro cantos da Terra.

    Se a Lava Jato tivesse que aprender alguma coisa com Dean Acheson o Moro não seria o leva-e-traz que é. Aprender com Acheson está além da sua capacidade humana e inteletiva. Moro e PGR reconhecem seus lugares e trabalham ao serviço da ”visão dos Dean Achesons, dos Paul Nitze e de outros portentos”.

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