A fruta que se come
por Maíra Vasconcelos
A idade como o tempo que já vivemos O amadurecimento ao que corresponde Herberto Helder escolheu suas frutas O tempo e a idade precisam de respaldo luxuoso
todos sabemos depois dos trinta
aparece claramente tudo
o que neles se apoiam
idiomas, algumas ruas
as amizades fortificadas, certa nostalgia
respirações conjuntas, cuidados e desmazelos
todos com o corpo também
algumas crianças e a sua própria.
terá seu tempo a brotar nas mãos
entre as linhas uma a uma
a comer as frutas e as sementes
depois tudo isso mostrará a que veio
– se estatelam à terra
pedindo a exata noção de tempo.
laranjas e pêras, estou certa disso –
mas não saberei quantas frutas se tem por indivíduo
abra, veja as cores e a consistência
e talvez poetas sejam agraciados com mais
águas e ilustrações fantásticas
mas cada um terá sua fruta preferida
ou mesmo conquistada por aptidão.
para demonstrarem sua existência.
*escrito no início de outubro, 2017.
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A fruta que me devora
A idade que me corrói
O passado que me dói
O encanto que já se foi
Com momentos que se perderam
Escolhas que não tiveram volta
Renúncias que se foram
Quantas frutas não se colheram
Águas que se escorreram
Risos, doçuras, saudades e poemas
Tudo que me atormenta e não me perdoa
Ai! A idade e a nossa desistência
O desencantos da sobrevivência
O emaranhado da vida e seus segredos
O amor e seus brinquedos
Fazem todo sentido de se viver