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A fruta que se come, por Maíra Vasconcelos

A fruta que se come

por Maíra Vasconcelos

A idade como o tempo que já vivemos
todos sabemos depois dos trinta
aparece claramente tudo 
o que neles se apoiam
idiomas, algumas ruas
as amizades fortificadas, certa nostalgia
respirações conjuntas, cuidados e desmazelos 
todos com o corpo também
algumas crianças e a sua própria.

O amadurecimento ao que corresponde
terá seu tempo a brotar nas mãos 
entre as linhas uma a uma 
a comer as frutas e as sementes
depois tudo isso mostrará a que veio 
– se estatelam à terra 
pedindo a exata noção de tempo. 

Herberto Helder escolheu suas frutas
laranjas e pêras, estou certa disso –
mas não saberei quantas frutas se tem por indivíduo
abra, veja as cores e a consistência
e talvez poetas sejam agraciados com mais 
águas e ilustrações fantásticas
mas cada um terá sua fruta preferida
ou mesmo conquistada por aptidão.

O tempo e a idade precisam de respaldo luxuoso
para demonstrarem sua existência.

*escrito no início de outubro, 2017.

Maira Vasconcelos

Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).

Maira Vasconcelos

Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).

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  • A fruta que me devora

    A idade que me corrói

    O passado que me dói

    O encanto que já se foi

    Com momentos que se perderam

    Escolhas que não tiveram volta

    Renúncias que se foram

     

    Quantas frutas não se colheram

    Águas que se escorreram

    Risos, doçuras, saudades e poemas

    Tudo que me atormenta e não me perdoa

     

    Ai! A idade e a nossa desistência 

    O desencantos da sobrevivência

    O emaranhado da vida e seus segredos

    O amor e seus brinquedos 

    Fazem todo sentido de se viver

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