Por Sebastião Nunes
Breve perfil de brasileiros ilustres – João CBF-FIFA Havelange
Empurrado pelo enfermeiro e bem agasalhado em sua cadeira de rodas, o velho de 100 anos cochila. Da boca aberta, descendo pela camisa branca, um fio de baba ensanguentada escorre. O velho não vê nem ouve. O enfermeiro empurra, ele cochila.
De repente, sobressaltado, acorda. “O que foi?”, se pergunta. Abre os olhos azuis e pisca para a suave claridade do mar do Leblon. São cinco horas da tarde, hora de toureiro morrer, de poeta compor elegia, de debandada das colegiais em flor.
Uma garota de 16 ou 18 anos, parada na esquina, encara tanta feiura franzindo a testa. É muito bonita. Tem pele dourada e olhos azuis como ele. Mas não sorri, apenas olha, espantada, aquele velho enrugado numa cadeira de rodas. Ele tenta sorrir para ela, mas não tem coragem. Sabe que está muito velho, muito feio e muxibento. “Quando foi que tudo terminou?”, se pergunta de novo. “Quando deixei de ser um homem poderoso e atraente para me tornar esta ruína?”.
AS BENESSES DA CORRUPÇÃO
Filho de um belga comerciante de armas, Jean-Marie Faustin Goedefroid Havelange declarou no antigo programa “Histórias com Galvão Bueno”, do SporTV, que após a morte do pai recusou convite para continuar no comércio de armas, não aceitando o convite, disse ele, por ter verdadeira aversão a armas, um instrumento de violência e morte. Declarou também que nunca possuiu uma arma.
Segundo o jornalista Roberto Pereira da Silva, Havelange, “de mãos dadas com ditadores do mundo todo, exercitou com sucesso sua vocação de mercador de armas, conseguindo clientes até no Sri Lanka e na África. A entrada no mercado das armas teve um estímulo emocionante: US$ 500 milhões, supostamente de paraísos fiscais”.
Ainda segundo Pereira da Silva, “em 1958 Havelange chega à presidência da Confederação Brasileira de Desportos (que reunia todos os esportes) e, generoso com os generais da ditadura, se mantém no cargo com um trabalho de blindagem bastante eficiente. Seus assessores eram militares ou civis apaixonados pela ditadura”.
“Sua administração na CBD foi marcada por desvios contábeis, que só foram conhecidos em 1974, quando o general ditador Ernesto Geisel recebeu informes do SNI. O escândalo era enorme: uma montanha de dólares desaparecera dos cofres da CBD nos dezesseis anos em que o dirigente presidiu a entidade. Havelange nunca explicou o paradeiro de US$ 13,4 milhões (segundo correção monetária feita até 1994), repassados pelos generais ditadores aos cofres da confederação esportiva”.
“Quando o ditador Geisel descobriu a fraude da CBD, Havelange já estava eleito presidente da FIFA e o ministro Mário Henrique Simonsen foi instruído a tapar o buraco. (…) Enquanto o dinheiro sumia dos cofres da CBD, Havelange usava a imagem de Pelé para se projetar na África. Dali sairiam os 16 votos que o elegeriam presidente da FIFA, na vitória contra o candidato inglês Stanley Rous, em 1974”.
Havelange dirigiu a FIFA entre 1974 e 1998, em seis mandatos consecutivos. Durante seus mandatos, cerca de US$ 150 milhões foram usados para subornar burocratas do futebol em todo o mundo e generalizar a corrupção no mundo da bola.
DE SOGRO PARA GENRO
Quem conta agora é o jornalista Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo.
“Havelange, na CBF [que substituiu a antiga CBD], forjou uma aliança extremamente lucrativa com a então jovem Globo, de Roberto Marinho.”
“A parceria, a partir de certo momento, incluiu não só a CBF como a FIFA. É documentado o escândalo dos direitos de transmissão da Copa de 2002. Havelange foi subornado para que uma emissora brasileira transmitisse a Copa. Quem transmitiu a Copa para o Brasil foi a Globo, como sabemos.”
“Na CBF, Havelange tratara de deixar, ao ir para a FIFA, seu genro, Ricardo Teixeira, para que o esquema com a Globo não fosse interrompido. A Globo, com Teixeira na CBF, continuou a desfrutar das mamatas nas transmissões de futebol.”
“As coisas se complicaram, pessoalmente, num determinado momento, entre Havelange e Teixeira. O motivo não poderia ser mais comum nas rupturas entre sogros e genros: Teixeira se divorciou da filha de Havelange.”
“Mas a Globo não perdeu nada com a briga entre seus dois aliados no futebol. O saldo de tudo pode ser resumido assim: Globo, Havelange e Teixeira ganharam barbaramente com o futebol brasileiro. E o futebol brasileiro ficou em ruínas: campos precários, gramados parecidos com pastos, arquibancadas vazias. E um terrível êxodo dos melhores jogadores.”
A ROUBALHEIRA CONTINUA
Depois de Ricardo Teixeira (ameaçado de prisão se deixar o Brasil), vieram José Maria Marin (preso nos EUA), Marco Polo Del Nero (que morre de medo de sair do país), o coronel Antônio Nunes (de cujo rabo não se sabe o comprimento) e, agora, para continuar a dinastia e perpetuar a comilança, com o apoio da totalidade das federações estaduais cúmplices na mutreta, foi “eleito” o até então secretário-executivo e candidato único escolhido por Del Nero: Rogério Caboclo (diga-me com quem andas etc.).
O futebol, no Brasil, é administrado como empresa privada ou propriedade particular de meia dúzia de charlatães, que usam os clubes, muitas vezes, para lavar dinheiro da compra e venda de atletas. O fato de todas as federações estaduais aprovarem, por unanimidade, um presidente imposto, sugere o que deve estar por trás da trinca FIFA-CBF-GLOBO: sujeira grossa.
Todas as tentativas de moralização, profissionalização e regulamentação foram tímidas e não deram em nada, nem na cúpula da CBF nem na cúpula das federações estaduais, que não disfarçam interesses dúbios. Nem os clubes de futebol, a maior mina de ouro do país, escapam: seus dirigentes fecham os olhos e seus votos são de cabresto, elegendo quem seu rei mandar. E o rei, embora expulso da FIFA e banido do futebol (para inglês ver?), continua sendo Marco Polo Del Nero, não se sabe até quando.
A merda, como é óbvio, vai continuar fedendo.
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É A FACE MAIS EXPLICITA DESTES 88 ANOS DE ESQUERDO FASCISMO
Havellange é o produto do Período Militar. Não há dúvida. Consegue sua ascenção no meio da década de 1970. Mas em poucos anos já temos a Anistia em 1979. A redemocratização em 1982. Uma nova Constituição, ilusória Cidadã, em 1988. A partir daí 30 / 40 anos entre uns tais Progressistas, Democratas e Socialistas. Imaginavámos, seus Opositores. E o que acontece? Sua extinção, sua degeneração, seu retrocesso? NÃO !!! Acontece maior ascenção, agora meteórica. O ‘Abutre’ encontra seu lugar, expande suas fronteiras, seus parceiros, sua dinastia. A farsa cai por terra. Usemos o exemplo da Viação Cometa, que levamos anos, para descobrirmos de sua Propriedade, comandada por algum ‘Testa de Ferro’. Presente da Parceria com o Governo Militar. Estrutura Monopolista privilegiada pelo Estado Absolutista Fascista perpetuado desde 1930. Viação, esta, dona das melhores linhas do Transporte InterMunicipal e InterEstadual existentes no país. O que acontece após a Redemocratização a respeito destes Monopólios? Das Viações Monopolistas que fazem este tipo de Transporte? Sua extinção, sua degeneração, seu retrocesso? O Monopólio continua firme e forte, mais intenso que nunca, depois de 40 anos Redemocráticos. E a farsa mais explícita que nunca. E alguns queriam transparência e liberdade no Futebol? Se isto é uma farsa absoluta dentro do Estado Brasileiro. O Brasil é de muito fácil explicação. (P.S. Copa do Mundo e Olimpíadas, fomentada entre Tucanos e Petistas, foi a glorificação de quais Elites? Diz para nós, Ricardo Teixeira? Sabe de alguma coisa, RGT?)