Comentário sobre uma obra literária de Alberto Lacet

Por Martim Assueros

Se fizera-se neblina qual espírito

Se embrenhara-se no mato feito um bicho

Se fingira-se de mito morto-vivo

Se metera-se ser tudo tal um nicho

Se furtara-se saber que não sabia

Se sabia-se um eterno inconclusivo

A jaculatória é um mistério gozoso (provérbio judaico-cristão-serrano-teixeirense)

A riqueza descritiva de sua mensagem me fez expurgar enrugadas lembranças. Eu era um arquétipo equivocado da Criação. Considerava-me um problemão para a mecânica quântica resolver. Sentia-me um respingo acidental da sopa cósmica primordial, uma nanopartícula virtual errante e sem nenhuma importância para o mundo, chacoalhando na espuma quântica do vácuo; tão incognoscível quanto o átomo e tão incerto quanto uma incógnita perdida de alguma equação do princípio da incerteza… de Heisenberg, vai!

Vez por outra me lembrava assim. Feito aquela vez. Eu tinha chegado a Teixeira há pouco tempo, de mudança, vindo de Princesa Isabel… Explico: nascera em Teixeira, na zona rural, mas mudei dali para Princesa quando tinha seis, sete anos; estava agora de volta, aos 13, desta vez como morador urbano. Foi quando soubera que uns conhecidos meus, de Princesa, estavam de passagem por Teixeira, com destino a Campina Grande, e senti-me na grata incumbência de dar-lhes boas-vindas, eu que fora tão bem acolhido pela cidade deles. Encontrei-os, eram três ou quatro irmãos, no Bar(sauro) Rex de Matilde. Na verdade, eu tinha conhecimento com apenas dois deles. Um, era-me mais chegado; o outro, apenas o suficiente para entabular conversa umas poucas vezes. Cumprimentei-os logo da porta – enquanto me dirigia à mesa onde estavam, mas a retribuição foi fria o bastante para que eu girasse no próprio eixo do meu constrangimento e embicasse, de cara lisa, de volta à minha mancada, sem antes não deixar de ouvir um deles balbuciar para os demais, com a sapiência de um… Heisenberg, vai! que eu era “um erro da natureza”, ou algo parecido. Disse isto enquanto inspecionava o meu esquelético biótipo que, a meu ver, com ou sem acento, paroxítona ou proparoxitonamente não parecia nem brevilíneo, nem longilíneo ou, menos ainda, normolíneo. Mas seu propósito não era que eu ouvisse o que dissera, pude perceber, o que não muda muito a correnteza e o sentido do rio, convenhamos.

Essas coisas me chateavam e cuidavam de alicerçar o estereótipo que eu tinha ou fazia de mim mesmo. O mais importante, contudo, é que não me lembro guardar mágoa de nenhuma outra pessoa de Princesa; ao contrário, tenho boas lembranças dali, onde fiz inesquecíveis amigos.

Dito isto, resta-me dizer que sua mensagem foi, apesar das fantasias bem-intencionadas (feito a que me coloca como referência para você), uma espécie de catarse. Afora o show (perdoe-me o termo, Ariano Suassuna) literário, pois você escreve muito bem.

 

Redação

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