“Deus e o Estado”, livro de Mikhail Bakunin

Sugerido por Doney

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Deus e o Estado – Mikhail Bakunin

Editora: Domínio Público

Opinião: regular

Páginas: 132

“Ouvi dizer que a necessidade de ar, como sensação irresistível, é mais intensa que a sede de água. Só por alguns minutos, garanto. Passados esses minutos, a gente morre e o desconforto da asfixia desaparece. Ao passo que a sede é um negócio demorado. Veja bem: o Cristo na Cruz morreu sufocado, mas a única coisa de que Ele se queixou foi de sede. Se a sede pode ser tão insuportável a ponto de o próprio Deus encarnado se queixar dela, imagine o efeito que exerce sobre um ser humano comum.”

“Os fatos têm primazia sobre as ideias.”

“A Bíblia, que é um livro muito interessante, e aqui e ali muito profundo, quando o consideramos como uma das mais antigas manifestações da sabedoria e da fantasia humanas, exprime esta verdade, de maneira muito ingénua, em seu mito do pecado original. Jeová, que, de todos os bons deuses adorados pelos homens, foi certamente o mais ciumento, o mais vaidoso, o mais feroz, o mais injusto, o mais sanguinário, o mais despótico e o maior inimigo da dignidade e da liberdade humanas, Jeová acabava de criar Adão e Eva, não se sabe por qual capricho, talvez para ter novos escravos. Ele pôs generosamente à disposição deles toda a terra, com todos os seus frutos e todos os seus animais, e impôs um único limite a este completo gozo: proibiu-os expressamente de tocar os frutos da árvore de ciência. Ele queria, pois, que o homem, privado de toda consciência de si mesmo, permanecesse um eterno animal, sempre de quatro patas diante do Deus “vivo”, seu criador e seu senhor. Mas eis que chega Satã, o eterno revoltado, o primeiro livre-pensador e o emancipador dos mundos! Ele faz o homem se envergonhar de sua ignorância e de sua obediência bestiais; ele o emancipa, imprime em sua fronte a marca da liberdade e da humanidade, levando-o a desobedecer e a provar do fruto da ciência.

Conhece-se o resto. O bom Deus, cuja presciência, constituindo uma das divinas faculdades, deveria tê-lo advertido do que aconteceria, pôs-se em terrível e ridículo furor: amaldiçoou Satã, o homem e o mundo criados por ele próprio, ferindo-se, por assim dizer, em sua própria criação, como fazem as crianças quando se põem em cólera; e não contente em atingir nossos ancestrais, naquele momento ele os amaldiçoou em todas as suas gerações futuras, inocentes do crime cometido por seus ancestrais. Nossos teólogos católicos e protestantes acham isto muito profundo e justo, precisamente porque é monstruosamente iníquo e absurdo. Depois, lembrando-se de que ele não era somente um Deus de vingança e cólera, mais ainda, um Deus de amor, após ter atormentado a existência de alguns bilhões de pobres seres humanos e tê-los condenado a um eterno inferno, sentiu piedade e para salvá-los, para reconciliar seu amor eterno e divino com sua cólera eterna e divina, sempre ávida de vítimas e de sangue, ele enviou ao mundo, como uma vítima expiatória, seu filho único, a fim de que ele fosse morto pelos homens. Isto é denominado mistério da Redenção, base de todas as religiões cristãs.”

“Esmagado por seu trabalho quotidiano, privado de lazer, de comércio intelectual, de leitura, enfim, de quase todos os meios e de uma boa parte dos estímulos que desenvolvem a reflexão nos homens, o povo aceita, na maioria das vezes, sem crítica e em bloco, as tradições religiosas.”

“Deus sendo tudo, o mundo real e o homem não são nada. Deus sendo a verdade, a justiça, o bem, o belo, a força e a vida, o homem é a mentira, a iniquidade, o mal, a feiura, a impotência e a morte. Deus sendo o senhor, o homem é o escravo. (…)

Eles dizem de uma só vez: Deus e a liberdade do homem, Deus é a dignidade, a justiça, a igualdade, a fraternidade, a prosperidade dos homens, sem se preocupar com a lógica fatal, em virtude da qual, se Deus existe, ele é necessariamente o senhor eterno, supremo, absoluto, e se este senhor existe, o homem é escravo; se ele é escravo, não há justiça, nem igualdade, nem fraternidade, nem prosperidade possível. De nada adiantará, contrariamente ao bom senso e a todas as experiências da história, eles representarem seu Deus animado do mais doce amor pela liberdade humana: um senhor, por mais que ele faça e por mais liberal que queira se mostrar, jamais deixa de ser, por isso, um senhor. Sua existência implica necessariamente a escravidão de tudo o que se encontra debaixo dele. Assim, se Deus existisse, só haveria para ele um único meio de servir à liberdade humana; seria o de cessar de existir.”

“Amoroso e ciumento da liberdade humana e considerando-a como a condição absoluta de tudo o que adoramos e respeitamos na humanidade, inverto a frase de Voltaire* e digo que, se Deus existisse, seria preciso aboli-lo.”

*: “Se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo”.

“Numa palavra, rejeitamos toda legislação, toda autoridade e toda influência privilegiada, titulada, oficial e legal, mesmo emanada do sufrágio universal, convencido de que ela só poderia existir em proveito de uma minoria dominante e exploradora, contra os interesses da imensa maioria subjugada.

Eis o sentido no qual somos realmente anarquistas.”

“Proclamar como divino tudo o que se encontra de grande, de justo, de real, de belo, na humanidade, é reconhecer implicitamente que a humanidade, por si própria, teria sido incapaz de produzi-lo; isto significa dizer que abandonada a si própria, sua própria natureza é miserável, iníqua, vil e feia. Eis-nos de volta à essência de toda religião, isto é, à difamação da humanidade pela maior glória da divindade.”

“O Estado não se chamará mais monarquia, chamar-se-á república, mas nem por isso deixará de ser Estado, isto é, uma tutela oficial e regularmente estabelecida por uma minoria de homens competentes, gênios, homens de talento ou de virtude, que vigiarão e dirigirão a conduta desta grande, incorrigível e terrível criança, o povo. Os professores da Escola e os funcionários do Estado chamar-se-ão republicanos; mas não deixarão de ser menos tutores, pastores, e o povo permanecerá o que foi eternamente até agora: um rebanho. Os tosquiados que se cuidem, pois onde há rebanho há necessariamente pastores para tosquiá-lo e comê-lo.

O povo, neste sistema, será eterno estudante e pupilo. Apesar de sua soberania totalmente fictícia, ele continuará a servir de instrumento a pensamentos e vontades, e consequentemente também a interesses que não serão os seus. Entre esta situação e o que chamamos de liberdade, a única verdadeira liberdade, há um abismo. Será sob novas formas, a antiga opressão e a antiga escravidão; e onde há escravidão, há miséria, embrutecimento, a verdadeira materialização da sociedade, tanto das classes privilegiadas quanto das massas.”

“A força do sentimento coletivo ou do espírito público já é muito séria hoje. Os homens com maior tendência a cometer crimes raramente ousam desafiá-la, enfrentá-la abertamente. Eles procurarão enganá-la, mas evitarão ofendê-la, a menos que se sintam apoiados por uma minoria qualquer. Nenhum homem, por mais possante que se imagine, jamais terá força para suportar o desprezo unânime da sociedade, ninguém poderia viver sem sentir-se apoiado pelo consentimento e pela estima, ao menos por certa parte desta sociedade. É preciso que um homem seja levado por uma imensa e bem sincera convicção, para que encontre coragem de opinar e de marchar contra todos, e nunca um homem egoísta, depravado e covarde terá esta coragem.”

“Ao nos falarem de Deus, eles creem, eles querem nos educar, nos emancipar, nos enobrecer e, ao contrário, eles nos esmagam e nos aviltam. Com o nome de Deus, eles imaginam poder estabelecer a fraternidade entre os homens, e, ao contrário, criam o orgulho, o desprezo; semeiam a discórdia, o ódio, a guerra; fundam a escravidão. Isto porque, com Deus, vêm os diferentes graus de inspiração divina; a humanidade se divide em homens muito inspirados, menos inspirados, não inspirados. Todos são igualmente nulos diante de Deus, é verdade; mas comparados uns aos outros, uns são maiores do que os outros; não somente pelo fato, o que não seria nada, visto que uma desigualdade de fato se perde por si mesma na coletividade, quando ela não se pode agarrar a nenhuma ficção ou instituição legal; mas pelo direito divino da inspiração: o que constitui logo em seguida uma desigualdade fixa, constante, petrificada. Os mais inspirados devem ser escutados e obedecidos pelos menos inspirados, pelos não inspirados. Eis o princípio da autoridade bem estabelecido, e com ele as duas instituições fundamentais da escravidão: a Igreja e o Estado.”

“Até o presente momento toda a história humana nada mais foi senão uma imolação perpétua e sangrenta de milhões de pobres seres humanos a uma abstração impiedosa qualquer: Deus, Pátria, poder do Estado, honra nacional, direitos históricos, liberdade política, bem público. Tal foi até agora o movimento natural, espontâneo e fatal das sociedades humanas. Nada podemos fazer para mudar isso, devemos suportá-lo em relação ao passado, como suportamos todas as fatalidades atuais. Deve-se acreditar que esta era a única via possível para a educação da espécie humana. Não devemos nos enganar: mesmo procurando informar amplamente sobre os artifícios maquiavélicos das classes governamentais, devemos reconhecer que nenhuma minoria teria sido bastante poderosa para impor todos estes horríveis sacrifícios às massas, se não tivesse havido, nelas mesmas, um movimento vertiginoso, espontâneo, levando-as a se sacrificarem sempre, ora a uma, ora a outra destas abstrações devoradoras que, vampiros da história, sempre se nutriram de sangue humano.”

Redação

1 Comentário

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  1. Jeová e os fatos. É mais fácil entrar entendidos de Estado.

    Como é fácil escrever livros.
    Jeová é mesmo para muitos um zé ninguém, alguém patéticamente dado a acessos de ira descontrolada, um barbáro sanguinário, um sádico que tendo predestinado suas criaturas, sabe que estas vão pecar e então as joga num inferno eterno…
    Mas quem é Jeová mesmo? Não é Yahweh? Ou Javé? ou YHWH? Não sabe mesmo a procuncia original exata desse obscuro nome então acho que ele nem tem nome. YHWH só mais num nome como senhor,  e doutor, meritissimo são nomes próprios….
    Esse deus sem nome próprio não tem direito, nem capacidade nem boas intençõe para governar a humanidade,  nem a humanidade quer saber desse  deus.

    Na verdade a Biblia explica que esse Jeová Deus no Jardim do Edem fez homem sem que nada de bom lhe faltasse. Mas alguém, não uma “cobrinha falante”, fez sua voz ser ouvida questionando a legitimidade da sobreania de Jeová. Foi esse pensador livre e descoladão que gostava de brincar de ventriloco usando uma serpente. Ele recebeu a elogioa alcunha que agora serve de nome diabo que significa mentiroso. O próprio Jesus não se referiu a este como uma figura mitologica, mas sim como o Pai da Mentira, e governante da humanidade. Sim. Ao contrário do que diz o texto acima conforme a Biblia o homem tentou ser independente de Jeová e governar a si mesmo. Mas o Mentiroso tinha sede de poder e desde então ele governa o homem.
    E Jeová? Ele teve chilique de criança amaldicoando o pobre homem?
    Na verdade Jeová teve uma atitude serena de puro autocontrole e sabedoria. Jeová poderia ter destruido o casal humano e o Pai da Mentira ali. Por que será que não o fez?
    Anteirormente Jeová, ao contrário do que diz o texto acima, avisou ao homem a consequencia da desobediencia num assunto simples: “positivamente morrerás”. Ele não disse “positivamente agonizarás etenernamente num inferno de fogo”. Tormento eterno num Inferno de fogo na biblia non ecxiste!
    O homem por escolha própria  e egoista resolveu ser idependente da fonte da vida. Tal como um ventilador retirado da tomada, suas helices graduamente parariam. O homem voltaria a ser mero pó da terra.

    O ventriloco mentiroso naquele momento suscitou as mais importantes questões entre as criaturas inteligentes. Jeová tem direito, sabedoria, interesse amoroso para governar?
    O descoladão e “livre pensador”, o ventriloco mentiroso pos em dúvida também o interesse do homem em se submeter e a soberania de Jeová por amor. O homem não seria capaz de ama-lo e honra-lo, mas no máximo ter um grande medo dele.
    Eis que um tribunal universal se formou. Jeová o grande sábio deixou vivos o ventriloco mentiroso e o casal humano ingrato. Assim ele também dava uma esperança para toda a descedencia desse casal.
    E se o mundo se tornou o que é e o que foi desde então, a culpa é do ventriloco mentiroso (o Diabo), do casal egoista que achava não precisar ser guiado por Jeová.
    Desde então Jeová tem exercido grande autocontrole ao ver a injustiça na terra inclusive a difamação que seu nome sofre até mesmo pela religião. O registro histórico desde então é a prova  de que o sagaz ventriloco do Eden é um mentiroso pervertido e de que o homem não é capaz de governar a si próprio e viver sem a condução de Jeová.
    O longo registro histórico até hoje  provou tambem que há homens e mulheres que cultivam profundo amor por Jeová, baseado em conhecimento exato e progressivo. Essas pessoas, desde Abel servem nesse tribunal universal como Testemunhas de Jeová. Desde a antiguidade testemunharam sobre sua real personalidade e atos a favor da justiça e amor pela humanidade.
    Enquanto esse tribunal universal está em curso é Jeová que permite os governos humanos e toda diversidade de religião e ateismos e estilos de vida. Ele permite por exemplo que o Islã extremista cresça, derrame sangue e tente almege subistituir as democracias pela sharia, assim como permitiu clerigos da cristandade abençoar os exércitos e armas no front das 2 grandes guerras mundiais, mas ele não é o culpado por isso. A independencia do homem se mostrou um grande fracasso já muito bem documentado nesse tribunal e o mentiroso está humilhado.

    Embora alguns tratem Jeová com desdém ou como mero personagem literário, embora até mesmo religosos tentaram esconder o nome próprio, distintivo dele, até mesmo extinguir esse nome da memória humana, na verdade tem acontecido o contrário. 
    Seu nome é muito bem conhecido hoje. E nas paginas do livro do profeta Ezequiel por exemplo ele repete dezenas de vezes que “as nações terão de saber que meu nome é Jeová”. Sim elas saberão nao só o signo gráfico e fonético de seu nome como também seu significado e a veradeira reputação do Seu Dono. De fato já estão sendo muito bem informadas.
    Jeová é a única fonte de verdadeira esperança para a humanidade sofredora.

    Obs: esse meu texto embora possa ter algum erro e imprecisão é de minha iniciativa pessoal.
    Para informações exatas existe o site das Testemunhas de Jeová:  jw.org
     

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