Pau-Brasil, malandra, por Sergio Saraiva

A revolução indicou apenas que a arte voltava para as elites. O contrapeso da originalidade nativa para inutilizar a adesão acadêmica. A reação contra todas as indigestões de sabedoria. Bárbaras, crédulas, pitorescas e meigas. Pau-Brasil.

Por Sergio Saraiva

A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.

A formação étnica rica. Comovente. Tudo revertendo em riqueza. A riqueza dos bailes e das frases feitas. Negras de Jockey. Odaliscas no Catumbi. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas selvagens.

País de dores anônimas, de doutores anônimos. A poesia anda oculta nos cipós maliciosos da sabedoria. Nas lianas da saudade universitária. A Poesia para os poetas. Alegria dos que não sabem e descobrem. A poesia Pau-Brasil.

Como a época é miraculosa, as leis nasceram do próprio rotamento dinâmico dos fatores destrutivos. Qualquer esforço natural nesse sentido será bom. Poesia Pau-Brasil. Uma nova perspectiva.

A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos. Uma única luta – a luta pelo caminho.

As meninas de todos os lares ficaram artistas. Todas as meninas ficaram pianistas. Apenas brasileiras de nossa época. Práticas. Experimentais. Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem comparações de apoio. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia. Pau-Brasil.

Extratos do Manifesto Pau Brasil de Oswald de Andrade – 1924 – ilustrado por cena do clipe “Vai, malandra” de Anitta – 2017.

PS1: Que tiro foi esse, malandra? Pelas redes sociais há uma nova estética. Algo meio “trash” legítimo – o trash que não é feito para ser trash – dificílimo de ser feito. Outros altamente profissionais. Temática brasileira e referência americana – uma nova Tropicália sem veleidades de organizar o movimento, orientar o carnaval ou inaugurar um monumento no planalto central do país.Totalmente dentro do sistema e totalmente contra-cultura. Meninos e meninas com uma ideia na cabeça e um celular na mão. Não é novidade, desde pelo menos 1922, passando por 68, em algumas gerações isso ocorre. Felizmente. Não é novidade, mas é a revitalização necessária. Já estávamos nos tornando parnasianos. Novo cinema novo, mas possível novo Pau-Brasil.

PS2: Oficina de Concertos Gerais e Poesia – até nem tão esotérico assim.

Redação

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