Fala, Fads: Voz e gesto da Amazônia

Nesta quarta, no programa “Fala, Fads!”, da TVGGN, pesquisadores falam sobre a Amazônia. Acompanhe ao vivo a partir das 18h30

Apesar do péssimo momento histórico vivido pelo Brasil, o Fala FADS da TVGGN em boa hora traz a voz de quem luta na Amazônia pela diversidade, pelos direitos humanos cívicos e pela saúde do país: Angela Mendes, tecnóloga em gestão ambiental, articulador de alianças e conexões entre os povos da floresta e coordenadora do comitê Chico Mendes. A fala e os gestos de Angela compõem, pela sua coerência, a própria biografia. 

Tanto ela quanto seu pai, o imortal líder Chico Mendes, têm no interior de seus nomes homônimos de bela memória no Brasil, Francisco Alves e Angela Maria, cantor e cantora da alma popular. Não por coincidência, mas pela vocação e pelo trabalho, os sons da linguagem amazônica de Angela e Chico vão mais longe do que dos cantores homônimos, pois das décadas passadas até hoje ele, ela e demais líderes apontaram para a vida no meio do círculo da morte. Morte sinalizada pelos ataques do agronegócio sem freios, pelo garimpo e pela própria violência do governo de Jair Bolsonaro diante das reservas extrativistas e das centenas de áreas de preservação. Os incêndios que estão a secar o país e colocar em xeque a vida estão diretamente ligados à ação do desgoverno e sua regra imoral de conduta.

Aquele espanto que o escritor Euclides da Cunha, há mais de 100 anos, sentiu diante da Hileia, da Floresta, encontra resposta no empate, no cuidado, na associação criativa entre extrativistas e comunidades tradicionais da Amazônia. Euclides, sozinho em sua genialidade, viu uma terra sem gente, um rio sem freios e seringueiros a perambular como zumbis. Chico, ngela e sua gente colocaram seus pés firmes no chão da floresta, junto à fauna e flora, fazendo-se amigos e combatentes da principal luta do século a favor do Brasil e do mundo, a luta eco-ambiental. Nunca mais zumbis, mas sim trabalhadores e trabalhadoras em conquista de cidadania e capazes de contribuir para a saúde do país que herdou a diversidade, os desafios e a beleza da floresta.

Certa vez, entrevistado, o infausto e nefasto Ricardo Salles disse: o que importa Chico Mendes? Que importância tem agora? Que diferença faz? Havia uma razão no murmúrio pedante do Salles: seu cérebro não podia compreender Chico, nem entender Angela e demais lideranças amazônicas, objetos de sua estupidez. Ele estava muito aquém, estava há anos luz da inteligência dos que buscam garantir o modelo criativo das reservas e das áreas de preservação conquistadas pela luta cotidiana há décadas e que se revelam competentes, atualizadas, efetivas e que devem ser garantidas, porque combinam a verdadeira preservação associada ao trabalho, à permanência produtiva das comunidades e à certeza de que poderemos, ainda que longe da Amazônia, respirar o ar saudável, de que serão realizarão os ciclos das chuvas e que o manejo equilibrado da terra fará viver dignamente a gente da floresta.

O Fala FADS anterior ofereceu detalhes dos fenômenos elencados pelo IPCC e a rota de destruição já presente, visível e sentido em diferentes partes do planeta. Nosso lugar de vida e destino é chacoalhado pelas reações naturais à ação das economias sem medidas e sem responsabilidade social, pela avidez do lucro e contínuo acúmulo de mais valia, assim como por espaços de ignorância e má consciência, submetidos e tantas vezes submissos ao poder. E é evidente que todo esse painel natural, político e cultural tem a ver, e muito, com a Amazônia e seu papel no sistema de regulação das forças que sustentam a vida e que a cada dia sofrem mais ataques, desmandos e desvarios.

No caso do Brasil, combinam-se as forças antigas do atraso colonial e imperial com as “modernidades” repletas de falsa modernização e autoritarismo, como nos mostraram tanto os cientistas sociais, os escritores das diversas regiões do país e os trabalhadores e trabalhadoras em seu cotidiano, de antes e de agora. O que se vê em cada canto do país reflete os processos de escravização, de mandonismo, de assassinatos, especialmente quando as reciclagens do poder se defrontam com homens e mulheres que afirmam sua fé, seu projeto de autonomia, sua crença nas culturas do povo e seu desejo de vida digna para quem trabalha a terra, o eito, a extração justa, o cuidado com a mãe-terra e o direito à propriedade coletiva que deriva muitas vezes de antigas lutas e muito sofrimento.

Deste modo, ganha maior valor e sentido a presença de Angela Mendes no Fala FADS deste dia primeiro de setembro, mês que traz a primavera: como uma voz que ecoa a linguagem e a ação de Chico Mendes, Wilson Pinheiro e tantos e tantas pessoas que assumiram uma imensa responsabilidade histórica, como comunidades vivas e atuantes diante da vida ameaçada. Neste programa, Angela Mendes, militante socioambiental e coordenadora do Comitê Chico Mendes, será entrevistada por Beto Jacintho, graduado em Engenharia Agronômica, mestre em Geociências e militante do núcleo catarinense do sindicato dos servidores do IBGE; Marcos Sorrentino, graduado em Biologia e Pedagogia, mestre e doutor em Educação, professor aposentado sênior da Esalq/USP, que participa há décadas de movimentos ambientalistas, de cidadania e educação ambiental, e por Rayssa Cortez, arquiteta e urbanista (FAAC/UNESP), mestra e doutoranda em Planejamento e Gestão do Território (PPGPGT/UFABC).

Fala, FADS!” é uma parceria da TV GGN com a Frente Ampla Democrática Socioambiental. Acompanhe!

Acompanhe, ao vivo, a partir das 18h30.

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN.

Redação

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