O desafio do desenvolvimento sustentável

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

Hoje muito se fala em desenvolvimento sustentável. Ou seja, produzir respeitando a capacidade de suporte e renovação de recursos pela Terra. Mas, será possível este tipo de desenvolvimento? Será que este tipo de desenvolvimento pode ser uma realidade? Levando-se em conta o nosso sistema de produção, o capitalista, no meu ponto de vista esta seria uma empreitada impossível. O capitalismo vive do lucro, da realização da mais valia. Sem a alta taxa de lucro não seria possível ele sobreviver. E como ele consegue obter esta taxa de lucro?

A resposta está no consumo. Através da propaganda maciça da mídia que cria necessidades nas pessoas, fazendo-as se compararem com a mercadoria, o capitalismo se matem e, através da descoberta de novas tecnologias, ele se renova constantemente. Para manter este ciclo produtivo ele consome muitos hectares de terra e água e uma infinidade de matérias primas, que é mais conhecida como pegada ecológica. A pegada ecológica que a Terra consegue manter-se gira entorno de 1,7. Hoje, o mundo está sinalizando uma pegada ecológica de 2,1. Ou seja, muito maior do que a capacidade suporte do planeta Terra. Um dado importante que a primeira vista impressiona muito, neste aspecto, é a pegada ecológica dos EUA (Estados Unidos da América) que gira entrono de 9,5. Ou seja, se todos os países do mundo atingissem o mesmo desenvolvimento econômico e industrial dos EUA necessitaríamos de 5 planetas Terra. Um absurdo!!!

Se por outro lado, os consumidores, por algum motivo, como a conscientização, parassem de consumir o capitalismo não teria mais razão de ser, pois o capitalismo vive do lucro constante, da produção de mais valia. Assim, como produto desta consciência ambiental, muitas pessoas perderiam os empregos, pois vivem da atividade industrial e de serviços. Seria praticamente um caos social. Aonde, então, reside à possibilidade do desenvolvimento sustentável? Dentro do sistema capitalista é impossível de ser atingido o desenvolvimento sustentável, uma economia solidária com a vida, e, mais que isto, não há matéria prima pára todos. Por isso, acredito que os países emergentes ou em desenvolvimento nunca irão atingir o desenvolvimento sustentável no interior do processo capitalista. Seria necessário um sistema mais solidário com a vida, um sistema que não visse o lucro constante como seu principal objetivo, um sistema que olhasse para as pessoas e a natureza não como objetos, mas como entidades de singular importância para a vida na Terra.

Hoje, como produto do sistema capitalista, temos uma variada gama de situações problemas que se não forem remediadas a tempo, tendem a acelerar o momento caótico em que estamos atravessando, como, por exemplo, crimes de toda natureza, pobreza/miséria generalizadas, guerras, mortes, perda maciça da biodiversidade (conjunto de plantas e animais que habitam determinadas regiões do globo), perda de solo, assoreamento de cursos e reservatórios de água, aquecimento do planeta, que irá ainda mais acirrar esta situação caótica, destruição da camada de ozônio, chuva ácida, e assim por diante…. Em vista disso, uma pergunta se faz necessária: como se desenvolver industrialmente sem destruir o meio ambiente? Este é o grande entrave do desenvolvimento sustentável: como produzir e resguardar a qualidade de vida para a atual geração e os recursos do planeta Terra para as futuras gerações (homem e natureza). Se for no interior do capitalismo não acredito que isto seja conseguido.

Flávio Roberto Chaddad – Graduado em Engenharia Agronômica pela UNESP/Botucatu; Graduado em Ciências Biológicas pela UNIP/Bauru; Graduando em Filosofia pela UNIFRAN; Especialista em Educação Ambiental UNESP/Botucatu; Especialista em Gestão da Educação Básica e Gestão Ambiental pelo Centro Universitário de Araraquara (UNIARA); Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e Mestrando em Educação Escolar pela UNESP/Araraquara.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Acredito que o desafio

    Acredito que o desafio do desenvolvimento sustentável é mesmo muito grande. Pela mesma razão acredito que o fortalecimento da Economia Solidária é uma alternativa, se tornada uma política de Estado. Incipiente no Brasil, onde nem mesmo mereceu um ministério específico, tem na SENAES – Secretaria Nacional de Economia Solidária, comandada pelo Paul Singer, ainda o caráter de uma política de governo. Tenho notícia de que a Economia Solidária tem ajudado a Itália a sobreviver nesses tempos de desastre econômico global. Aqui as medidas ainda são tímidas, restringindo-se a Política Nacional de Resíduos Sólidos, sem apoio da maioria dos governos estaduais e municipais, a exemplo do Estado de São Paulo, que tem legislação excelente… no papel. E a questão não se restringe a resíduos sólidos, mas a agricultura familiar, urbana e periurbana, confecção, alimentaçao e por aí vai. É mesmo um desafio mudar esses paradigmas, mas o engajamento da população na mudança de rumos é uma alternativa ao esgotamento do modelo capitalista.

    1. A questão não é apenas local, mas mundial

      DIRVAL

      Concordo plenamente com seu comentário e acho que é uma das saídas que podemos ter, podendo, é claro, amenizar as consequências do desafio da pegada ecológica,  da manutenção de condiçoes de desenvolvimento sustentável. O tema é vasto e comporta um debate imenso.

      Porém, infelizmente, a questão não é apenas local, mas mundial. Como o próprio autor do texto nos revela, os EEUU tem uma pegada de 9,5 has, ou seja, mais do que cinco vezes a pegada ecológica que possibilite, segundo os técnicos, o desenolvimento sustentável. 

      Todavia, razão total para você, no sentido de que temos que fazer nossa parte. E já estamos mal colocados, pois nossa pegada ecológica é de 2,4 has, acima da média mundial, que é de 2,1 has.

  2. O desafio do desenvolvimento sustentável

    O texto objetivou demonstrar que já ultrapassamos a barreira da pegada ecológica:

    “ Manter este ciclo produtivo ele consome muitos hectares de terra e água e uma infinidade de matérias primas, que é mais conhecida como pegada ecológica”.

    E ainda mostrou que “A pegada ecológica que a Terra consegue manter-se gira entorno de 1,7. Hoje, o mundo está sinalizando uma pegada ecológica de 2,1.”

    Ora, assim, por volta de setembro do ano de 2013, o teto da pegada ecológica no mundo já havia sido ultrapassado, sem que, o que me causa espanto, a mídia, seja nacional, seja internacional, deixasse passar sem um artigo, uma manchete, com  análise séria e construtiva, mostrando o perigo que estamos nos enveredando, que trará, certamente, a extinção, ao longo do tempo, da vida em nosso planeta.

    Ainda, o que me causou espanto – embora tenha a noção de que o maior vilão no mundo são os EEUU, foi a assertiva, no artigo de que:

     “a pegada ecológica dos EUA (Estados Unidos da América) que gira entorno de 9,5. Ou seja, se todos os países do mundo atingissem o mesmo desenvolvimento econômico e industrial dos EUA necessitaríamos de 5 planetas Terra. Um absurdo!!!”

    Aí se pode entender que o aquecimento global, que foi objeto de tratados internacionais (como o Protocolo de Kyoto, v.gratia) não foi aceito pelo Tio Sam, pois entraria, com toda a certeza, na sua maior crise em todos os tempos, dado o tamanho de sua economia e as conseqüências de procurar baixar a pegada ecológica, o que levaria, como o texto, ora comentado, muito bem abordou: “muitas pessoas perderiam os empregos, pois vivem da atividade industrial e de serviços. Seria praticamente um caos social. “

    Por aqui, no Brasil, segundo informações, a pegada ecológica está em torno de 2,4 has, inclusiva um pouco acima da média mundial, ou seja, temos também que buscar baixá-la a nível recomendado para o desenvolvimento sustentável.

    Porém, a questão  dramática é que está totalmente ligada muito menos ao regime político, como muito mais à economia global, que se suporta com base no consumo de hidrocarbonetos ( petróleo, nafta, etc) e ainda em carvão e ou outros combustíveis de matriz energética não renovável.

    E aí, o capitalismo, seja no regime democrático, como nos (EEUU , seja no regime comunista, como na China, deita e rola.

    E como colheita desta semeadura temos o efeito estufa (gás carbônico, metano, óxidos sulforosos, etc.), que traz entre outros males, o aquecimento do planeta.

    Em todo mundo, não só aqui, estamos experimentando terríveis efeitos, com desastres naturais, E quando chove, agora, muito mais intensamente que antes, estamos assistindo, diariamente, pela televisão, a enchentes, desmoronamentos, águas violentas, destruição de safras agrícolas, desastres ecológicos terríveis, desmoronamentos de construções, levando milhares ao desabrigo e, o que é pior, a irremediáveis perdas de vidas.

    Devagar e sempre, a este ritmo, a pegada ecológica vai aumentando, a sustentabilidade do planeta não vingará e caminharemos, infelizmente, para o risco se tornar realidade, ou seja, o ser humano e a vida do planeta podem ser extintos.

    O planeta, na verdade, continuará a existir. Em tempos remotos,  ele já teve sua crise, quando os dinossauros foram extintos, mas até a vida voltou.

    O ser humano poderá não deixar nenhuma herança genética, este será, se continuarmos deixando o barco correr à deriva, o futuro da humanidade.

  3. Dano ambiental

    O canal de TV da National Geographic têm mostrado a recuperação de ilhas na Ásia, Seychelles se não me engano, onde em 10 anos a fauna e a flora original foram recompostas e as espécies invasoras foram retiradas.

    O investimento é mínimo, o tempo também, assim, penso que antes de proibir para evitar um futuro desastre,  é mais interessante para o povo e a sociedade que se tomem medidas preventivas e libere-se todo e qualquer tipo de empreendimento, se no futuro se mostrar irreversivelmente danoso a sua operação, ai sim, caça-se a licensa e se recompõe a área.

    Não existe hoje mais a possibilidade de danos irreversíveis como antigamente, está tudo mapeado e catalogado.

    As licenças se tornaram uma fonte de corrupção sem fim, patrocinando canalhas de todas as espécies, o mal que estes fazem ao povo e  a nação superam de muito todo e qualquer benefício que um dia poderiam ter tido e nunca tiveram.

    Dilma, acorda!

    1. Resposta

      Prezado Alexandre,

       

      A perda da biodiversidade está cada vez maior. Nós dependemos da biodiversidade para sobreviver. O nosso oxigênio, em sua maior parte, vem dos oceanos, que estão sendo sendo completamente destruídos pelas atividades antrópicas. Nunca um lugar que foi recomposto terá todas as espécies que anteriormente o habitavam. No Brasil temos vários biomas que estão sendo massacrados pelas atividades agrícolas, um exemplo é o cerrado que apenas possui 20 % da área original e a mata atlântica apenas 5%. Um outro exemplo é a caatinga. Animais e plantas essenciais para a manutenção dos ecossistemas estão sendo destruídos sem ao menos conhecermos sua importância e seu valor intrínseco. Isto é um caos, você não acha. Não se esqueça que a água que dependemos para sobreviver é um serviço dos ecossistemas. O aquecimento global, pela produção em massa, está mudando a temperatura do planeta. No verão de 2050 não restará gelo no ártico, o clima mudará completamente. Estimativas para o Brasil mostram que a amazônia se tornará um cerrado, a caatinga um pleno deserto. As pragas em certas regiões irão aumentar, a agricultura poderá definhar, tempestades cada vez mais fortes, etc. São previsões que já estão cada vez mais acontecendo. O discurso de que a tecnologia salva o mundo é mais um fetiche, algo falso. Esta crítica a razão é discutida no livro dialética do esclarecimento de Adorno e Horkheimer, em que eles mostram que não é a razão pela razão que vai mudar o mundo, mas como utilizar a tecnologia, ou seja, a ética.  Em educação e emancipação Adorno diz que precisamos de uma educação moral que faça não mais repetir o que ocorreu em Auschwitz. “Auscchwitz é toda monstruosidade que é feita para a humanidade e as consequências do aquecimento global irá gerar fome e morte em grande parte do mundo, tudo isto feito pelos donos do capital”.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador