Augusto Cesar Barreto Rocha
Augusto César Barreto Rocha é Professor Associado da UFAM. Possui Doutorado em Engenharia de Transportes pela UFRJ (2009), mestrado em Engenharia de Produção pela UFSC (2002), especialização em Gestão da Inovação pela Universidade de Santiago de Compostela-Espanha (2000) e graduação em Processamento de Dados pela UFAM (1998).
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O negacionismo da seca, por Augusto Cesar Barreto Rocha

Acontece que nem o rio começou a subir de maneira clara, nem há chuvas abundantes, nem o calor reduziu. Estamos em um evento extremo

FAPEAM

O negacionismo da seca

por Augusto Cesar Barreto Rocha

Eventos extremos são muito difíceis de lidar, porque costumamos adotar os referenciais passados, assumindo que o futuro será semelhante e, tipicamente, estaremos errados. O negacionismo se apresenta caracteristicamente atacando instituições, especialmente tribunais superiores e a academia, como deliberado no Dicionário de Negacionismos no Brasil, de José Szwako e José Ratton, em um excelente texto publicado com vários termos associados com a Covid-19 e do difícil período que vivemos com ataques extremos às instituições, que reduziram, mas não foram superados em seu todo.

Passada a pandemia, temos outro evento extremo para lidar com ele que é o aquecimento global. Em setembro, o Oceano Pacífico Ocidental estava 1,6 graus centígrados além das médias entre 1991 e 2020, extrapolando o alerta de “severo” do El Niño e já se posicionando como um dos maiores da história. Quando observamos os gráficos da Copernicus C3S/ESCMWF, com dados desde 1940, o ano de 2023 será o mais quente da história e outubro foi o outubro mais quente, em uma sequência de quatro meses excepcionalmente quentes.

Os gráficos do CPRM sobre a seca no Rio Negro e Rio Amazonas, que afeta a hidrovia que atende Manaus, segue em seus patamares mais baixos e o DNIT, que conduz a obra emergencial de dragagem, após contatos diários que fiz nas últimas semanas, segue se recusando a estabelecer prazo para liberar a hidrovia com 8m de calado. O rio insiste em seguir baixo, não vemos chuva em Manaus, a fumaça segue a ocupar a cidade, nos deixando até sem segurança respiratória. Fábricas estão sem insumos, já conseguimos constatar mais de R$ 1 bilhão de gastos excessivos com transporte para a indústria e comércio de Manaus, segundo estudos preliminares meus e do Dr. André Costa.

Por mais que os gráficos apresentem que a seca não acabou, há um grupo grande de lideranças que afirmam que a seca acabou ou estaria acabando. Acontece que nem o rio começou a subir de maneira clara, nem há chuvas abundantes, nem o calor reduziu. Estamos em um evento extremo e fica arriscado ter parâmetros na história recente, ainda mais quando há um referencial, indiretamente correlacionado, onde as empresas nunca usaram tanto a cabotagem para Manaus quanto agora. No evento extremo anterior, a repartição modal era muito diferente. Não adianta ficar fazendo postagem no Instagram, nem em redes de WhatsApp, que isso não devolverá o calado para 8m. O que construirá isto será a chuva, pois parece que a obra é apenas para acalmar os corações e sentimentos, mas não para resolver o problema.

Em meio ao cenário colocado, cargas de navios são transbordadas para aviões e caminhões, com empresas aprendendo a seguir as leis nestas novas alternativas logísticas e os governos ávidos por arrecadar, seja nos custos excessivos, seja nas multas por processos feitos errados, simplesmente pela falta de prática e planejamento para aquela rotina excepcional, subindo ainda mais os custos gerais.

Como sociedade, precisamos retirar algum aprendizado e reconhecer os erros da caminhada até aqui, formulando novas políticas públicas para enfrentar a realidade, do incêndio e da falta de infraestrutura ou de capacidade técnica para obras emergenciais. Nas empresas, será importante repensar a repartição modal, reduzindo o peso da hidrovia na divisão dos sistemas de transportes. São muitas ações que devem ser feitas, antes do próximo evento extremo, que não parece distante, mas, o início do fim desta crise, não parece ser antes de dezembro ou janeiro, afinal não se sabe ao certo nem quantos contêineres estão retidos por aí.

Augusto Cesar Barreto Rocha – Professor da UFAM.

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Augusto Cesar Barreto Rocha

Augusto César Barreto Rocha é Professor Associado da UFAM. Possui Doutorado em Engenharia de Transportes pela UFRJ (2009), mestrado em Engenharia de Produção pela UFSC (2002), especialização em Gestão da Inovação pela Universidade de Santiago de Compostela-Espanha (2000) e graduação em Processamento de Dados pela UFAM (1998).

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