Augusto Cesar Barreto Rocha
Augusto César Barreto Rocha é Professor Associado da UFAM. Possui Doutorado em Engenharia de Transportes pela UFRJ (2009), mestrado em Engenharia de Produção pela UFSC (2002), especialização em Gestão da Inovação pela Universidade de Santiago de Compostela-Espanha (2000) e graduação em Processamento de Dados pela UFAM (1998).
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Amazônia: o que é sucesso ou fracasso?, por Augusto Cesar Barreto Rocha

A ineficiência no uso dos recursos naturais é algo que precisa ser transcendido e aqui temos um grande campo de trabalho para aprender

Divulgação Dnit

Amazônia: o que é sucesso ou fracasso?

por Augusto Cesar Barreto Rocha

                A dicotomia sobre o que é sucesso ou fracasso persegue a construção do futuro. Cada um que acredita que possui a “verdade” e que a “verdade” dos demais é idiota possui um sério problema de relacionamentos. Quando compartilhamos nossas verdades e construímos histórias compartilhadas, vamos formando uma sociedade, que pode ser próspera ou não, como analisado por historiadores como Yuval Harari.

                Temos tido um grande sucesso que é a indústria da Zona Franca de Manaus, pois ela (junto com outras questões, é claro) oportunizou uma expressiva proteção da floresta no Amazonas. Porém, a maior parte do Brasil, como sonâmbulos, tem sido contra qualquer tipo de “incentivo”, mesmo sendo normal que existam incentivos. O que tem faltado são critérios para mensurar se eles apresentam ou não resultados. O que tem acontecido é o oposto: primeiro se pensa o que quer e depois nos critérios.

                O automatismo na contrariedade aos incentivos é contraproducente. O mundo inteiro apresenta proteções e incentivos para oportunidades. Por aqui, parece que queremos esmagar as histórias de sucesso dos outros. Temos chamado de “liberdade” a oportunidade de esmagar o outro e de “conservador” aquele que destrói. Precisaremos encontrar um caminho onde a liberdade seja usada para o respeito ao próximo e o liberalismo pela possibilidade de ter a liberdade para empreender sem destruir.

                A releitura dos conceitos e a calma serão necessárias para construir um desenvolvimento inclusivo, em especial em nossa região, pois quando você mora e internaliza a Amazônia, você percebe a sua insignificância cósmica. Aceitar este “ser nada” e se harmonizar com a natureza é a grande lição que precisaremos aprender, para desenvolver verdadeiramente a qualidade de vida de todos que aqui vivem, para um padrão próprio de qualidade de vida, que não seja, por exemplo, destruindo muito para recolher metais raros, com o propósito de mover um veículo elétrico por poucas milhas nos EUA ou China.

                A ineficiência no uso dos recursos naturais é algo que precisa ser transcendido e aqui temos um grande campo de trabalho para aprender. Afinal, faz milhares de anos que a região é habitada, mas ainda não compreendemos ou aceitamos o que isso é um sucesso. Parece que o sucesso é aquilo que se vivem em Nova York, Paris ou Beijing. E se a vida de sucesso for aquela vivida em Maués ou São Gabriel da Cachoeira?

                A liberdade de impor o que quero e acredito para outros possui outro nome. Precisamos começar a refletir sobre os modos de vida e sobre o que se quer efetivamente, para que não sigamos a destruir o mundo. Precisaremos de infraestrutura para aproveitar os recursos da Amazônia? Sim. Qual tipo de infraestrutura? Aqui começam os problemas a serem decifrados, pois, muito longe de certezas, surgirão outras questões: para qual atividade econômica? A partir daqui é que começarão as oportunidades de construção do sucesso ou do fracasso do futuro.

Repetir Nova York certamente não é o “sucesso”, basta que andemos por lá. Também não é o que temos em Manaus, basta que andemos por aqui. Temos que tomar cuidado com os sacrifícios que escolheremos fazer e para quem os faremos. A construção do “sucesso” do futuro não será repetir as destruições do passado, nem reproduzir modos de vida estrangeiros. Precisaremos entender nossos modos de vida e respeitá-los, mais do que reproduzir modos de vida de outros, que talvez eles não preencham nossas aspirações como sociedade.

Augusto Cesar Barreto Rocha – Professor da UFAM.

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