A morte de Gal, uma musa da música brasileira, por Luis Nassif

Gal foi variando o estilo, a partir do brado de guerra do show “É proibido proibir” e dos LPs dos baianos que impuseram um corte na MPB

Divulgação

Só os jovens dos anos 60 a 80 podem entender o que significou Gal Costa para a música popular brasileira. Vivia-se a fase Elis Regina, provavelmente a maior cantora da história. Mas Gal surgiu com um frescor imbatível, e acompanhada pelo mais talentoso grupo de músicos da época, os baianos Caetano Velloso, Gilberto Gil, Tom Zé, e depois as crias, Os Novos Baianos.

Encantou, primeiro, pela jovialidade da voz – própria, aliás, para uma moça de 20 anos. Algum crítico deveria encontrar uma definição melhor para o estilo Gal de cantar, que abriu uma estrada para inúmeros seguidores.

Não tinha a dramaticidade de Elizeth Cardoso, o ecletismo de Elis, a voz de apartamento de Nara e das cantoras da bossa nova. Era um novo estilo, contemporâneo, claro como o sol da manhã.

Ao longo dos tempos, Gal foi variando o estilo, a partir do brado de guerra do show “É proibido proibir” e dos LPs dos baianos que impuseram um corte na MPB – um movimento liderado por Elis, contra a guitarra e outras influências jovens externas. A Tropicália abriu um universo de possibilidades novas, trouxe para primeiro plano do rock às interpretações consideradas “bregas”, de Vicente Celestino a Peninha.

Com o tempo, criou-se um Olimpo da música brasileira, um primeiro time que, hoje em dia, chega aos 80, tendo Gal e Bethania como musas principais. É o time de Milton Nascimento, Chico Buarque, Gilberto Gil, Djavan, João Bosco, Ivan Lins, Paulinho da Viola – mais os pioneiros Edu Lobo, Carlos Lyra entre outros.

O maior vídeo que já assisti na vida foi uma homenagem a Mercedes Sosa, com participação de Chico, Milton, Caetano e Gal.

A morte de Gal acaba com o mito da imortalidade, que alimentamos em relação a nossos ídolos. Mas suas interpretações, seu frescor, seu jeitinho de namoradinha jovial de todos seus admiradores, ficará para sempre.

Era discreta na vida pessoal. Tinha uma casa em Ilha Bela e contava-se, por lá, que tinha adotado uma criança.

Nos anos 90 gravou um CD, que permanece inédito, acompanhada por Rafael Rabello. O grande Rafael encantou-se totalmente com a musa. Romperam no meio do projeto e Gal foi se abrigar no violão de Marcos Pereira – devidamente gravado e lançado.

Luis Nassif

9 Comentários

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  1. Quando escutei “estrada do sol” na voz da gal me dei conta do patrimônio artístico que essa mulher é

    Daí em diante foi só paixão,

    A benção minha musa e que os orixás te recebam

  2. Luis Nassif, classificar Elis Regina como provavelmente a maior cantora,mesmo com a duvida não é restrição? Para um pais que possui as cantoras Elizete Cardoso e Clara Nunes. A Elizete tinha voz e sentimento e já navegava no samba e bossa na decada de 50, mostrando ser bem mais avançada musicalmente do que a Elis Regina. Cantava outro tipo de musica, bem mais faceis, a Elis e por esta razão fez muito sucesso e demorou a entrar na bossa e entrou pouco no samba, talvez por que não soubesse sambar, cantou poucos sambas. A Elis não cantava muito bem as musicas do bituca e custou a. cantar e entrar no universo do Milton. A Clara Nunes cantava os importantes compositores de samba dos morros do Rio de Janeiro e tinha uma voz incrivel. Assim comi Elis, o universo musical da Gal Costa foi menos abrangente e tambem custou a entrar na bossa do Tom Jobim e oarece que não entrou nos ssmbas dos compositores dos morros do Rio de Janeiro. Parece difícil, restrição, classificar a Elus ou Gal Costa como a maior cantora, num país de samba e bossa nova. Existem algunas outras cantoras!

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