Um artigo da jornalista Clare Malone na revista New Yorker não traz análises otimistas para a mídia. A começar do título: “A mídia está preparada para um evento de nível de extinção”.
Em 2023 houve 2.681 demissões na mídia impressa e digital, envolvendo veículos como NBC News, Vox Media, Vice News, Business Insider, Spotify, theSkimm, FiveThirtyEight, The Athletic e Condé Nast – editora do The New Yorker.
O BuzzFeed News fechou, assim como o Gawker. O The Washington Post perdeu US$ 100 milhões e ofereceu demissão premiada a 240 funcionários. O Los Angeles Times demitiu 115 trabalhadores. O Time reduziu em 15% sua equipe editorial. O Wall Street Journal reduziu sua estrutura administrativa e Sports Illustrated, que enfrentou escândalos por publicar histórias geradas por IA, também demitiu grande parte de sua equipe.
Matthew Goldstein, consultor de mídia, previu um “potencial evento de nível de extinção no futuro”.
Os principais fatores já são conhecidos:
- consumidores esgotados com excesso de notícias;
- sites de redes sociais deixaram de promover artigos noticiosos;
- implementação de pesquisa integrada pela IA – que responde às perguntas dos utilizadores dentro da interface do Google, em vez de encaminhar para sites externos.
Com produtos como este, o Wall Street Journal estima que o Google gere 40% do tráfego das mídias digitais. Publicações com tráfego consolidado na página inicial serão menos afetados. Os demais terão que buscar outros caminhos.
Brian Morrissey, analista de mídia, prevê “uma indústria diferente, mais enxuta e diminuída, muitas vezes servindo como uma operação de fachada para outros negócios”, como eventos, e-commerce e conteúdo patrocinado. Diz ele que estamos testemunhando o fim da era dos meios de comunicação de massa.
Durante as três primeiras décadas da era digital, a mídia noticiosa se remodelou constantemente para se manter viva. Uma das estratégias eram os blogs e a agregação, ambas de custo baixo, em relação às reportagens originais.
Tratava-se, então, de otimizar os mecanismos de busca, tentando colocar os artigos na primeira página de resultados do Google. Mas o crescimento exponencial da Internet desvalorizou os cliques. Os editores passaram a correr desesperadamente atrás de mais cliques, mas apenas para compensar a queda das receitas por página. A luta por cliques levou a sensacionalismo, obscenidades e apresentações em slides, reduzindo cada vez mais a relevância dos veículos para os anunciantes.
O BuzzFeed foi uma experiência inicialmente bem sucedida. Em 2011 lançou o BuzzFeed News, visando se tornar viral nas redes sociais gigantes. Uma década depois, chegou a ganhar um Prêmio Pulitzer. Em 2014, Marc Andreessen, investidor de risco, aplicou US$ 50 milhões no BuzzFeed e orientou para que ela se preocupasse com o crescimento, não com a receita. O BuzzFeed acabou cedendo a distribuição a empresas tecnológicas externas, acelerando a queda da indústria.
“Mesmo quando o Buzzfeed alcançava cada vez mais pessoas em plataformas como YouTube e Snapchat, o tráfego parecia estar perdendo valor na mesma proporção”, escreveu Ben Smith, ex-editor-chefe do BuzzFeed News, em seu livro de 2023, “Traffic.” “Quando se tratava de tráfego, havia muito tráfego por aí, e o Facebook e o Google eram muito bons em vender o seu tráfego diretamente aos anunciantes.”
Em abril passado, o BuzzFeed foi fechado. Seu diganóstico foi definitivo: “A grande maioria das pessoas desejará cada vez mais que as plataformas de mídia social proporcionem um refúgio onde possam encontrar entretenimento, alegria e diversão”,
Mesmo assim, apostava em tráfego direto para sites com públicos e reputações fortes. Algumas semanas depois, Jimmy Finkelstein, antigo proprietário do The Hill, lançou um novo site apoiado por anúncios, o The Messenger, tentando aproveitar a exaustão do público com a partidarização excessiva da grande mídia nacional.
Depois de muito investimento e muita contratação, o site acabou em menos de um ano, deixando os funcionários sem indenização ou assistência médica.
A presidência de Donald Trump melhorou um pouco a situação dos jornais, devido aos embates com ele. Times e Washington Post se envolveram em uma corrida atrás de furos explosivos. O Times ganhou 5 milhões de assinantes digitais durante os 4 anos de Trump e o Post ganhou 2 milhões.
Sondagens mostravam que cerca de dois terços do público têm pouca ou nenhuma comunicação nos meios de comunicação social. Mas quando acabou o governo Trump, manteve-se o declínio sustentado e inevitável dos meios de comunicação.
No primeiro ano do governo Biden, o Post perdeu 300 mil assinantes. O Los Angeles Times não atingiu nem metade da meta de um milhão de assinantes.
O The New York Times ainda conseguiu se recuperar dos prejuízos iniciais, com o aumento dos seus assinantes. Mas de 2005 a 2024 cerca de 3 mil jornais dos EUA fecharam, acabando com o emprego de 40 mil funcionários. Duzentos e quatro condados não tem mais notícias locais, afetando mais as regiões mais pobres. Até o final deste ano, espera-se que os EUA tenham perdido cerca de um terço de seus jornais.
Alguns analistas atribuem à redução dos jornais locais a facilidade com que Donald Trump conseguiu espalhar suas desinformações.
Uma das saídas foram as assinaturas, principalmente depois do sucesso do The New York Times. Mas, hoje em dia, elas competem com as assinaturas de entretenimento. “Temos Disney+, Hulu, Netflix, Amazon Prime, atualmente HBO Max e Spotify, Kocowa e BritBox”, disse um entrevistado da pesquisa. “Eu costumava ler o The Washington Post, mas ficou muito caro ter todas as assinaturas.”
Do mesmo modo os canais por cabo estão morrendo devido ao streaming online.
Mark Thompson, novo CEO e editor-chefe da CNN, escreveu um longo memorando para a equipe, em janeiro, descrevendo a virada da empresa em direção a produtos e assinaturas digitais. Ele foi leve nos detalhes, se não na vibração. “Precisamos recuperar um pouco da arrogância e inovação da antiga CNN”, escreveu ele. “É hora de uma nova revolução.”
Já o CEO do Washington Post , Will Lewis, foi mais claramente pessimista em relação às assinaturas quando conversou recentemente com a Semafor. “Esse modelo baseado em assinatura está agora em declínio e depois entrará num período de declínio mais significativo”, disse ele. “Há evidências muito positivas de como as notícias podem ser acessadas e pagas de formas mais inovadoras. Há passes diários que fazem sucesso, há passes semanais, há modelos como o Guardian onde você pode fazer doações. Portanto, há toda uma nova geração de conceitos de usuários pagantes. Estou muito animado com isso.”
A conclusão final da autora é pessimista:
Os modelos de negócio que sustentarão o jornalismo no futuro não serão perfeitos. Eles deixarão de fora as pessoas que mais precisam de notícias de boa qualidade. Provavelmente irão atender homens mais velhos e mais ricos que (por enquanto) constituem o grupo demográfico com maior probabilidade de pagar por notícias. Haverá idiotice e capacitação de idiotas ricos. Mas também haverá novas gerações de jornalistas dispostos a saltar para uma indústria instável porque pensam que vale a pena explicar o mundo que os rodeia, se não é particularmente remunerador.
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Até pouco tempo atrás não assinava jornais preferia comprar nas bancas pois assim poderia variar entre os poucos que existiam , Globo, Folha , Estadão ou Dia. O mesmo para uma ou outra revista.
Hoje não se pode comprar apenas um exemplar , você tem de assinar.
Não é viável para pessoas comuns assinar 37 publicações.
2
Assino O Globo e este já me irrita com notícias do tipo
“Fulano fez lipo para …”
Ainda ajuda a manter alguma informação mas não tenho variedade, mantenho a assinatura mesmo o jornal querendo virar a antiga revista Contigo.
Jornalistas tem, creio eu, gratuídade , assim pode ler diversos meios e pensam que as demais pessoas podem.
A “crise” foi criada pelos próprios meios.
Os veículos de informação deveriam desenvolver cobrança por matéria vista pelo usuário. Deveriam ter uma conexão eficiente com serviços de pagamentos, carteiras pré pagas, cartões de passagem, etc. Aí sim seria possível reproduzir a banca eletrônica, porém a tecnologia poderia oferecer algo como entrar numa banca e pagar pelas páginas de jornais e revistas que interessam, sem precisar comprar o exemplar inteiro.
Ainda outro dia, a eliminação (mais uma) de uma seleção brasileira de uma competição internacional causou espanto e indignação nos meios especializados e no público em geral. Isso porque o jornalismo esportivo, ou, melhor dizendo, a transmissão de eventos desportivos, deixou, há tempos, de ser um fato jornalístico, para ser, essencialmente, um espetáculo comercial com fins lucrativos. Um produto a ser vendido. Ou seja, não se relata um fato – uma partida de futebol – mas se vende um produto: a cobertura “jornalística” de uma partida de futebol. E tome elementos de novela para adoçar esse produto: a história de vida do humilde jogador que não tinha dinheiro nem pro ônibus, e hoje ajuda a pobre vovózinha que mora lá no interior do Piauí, em extrema pobreza. Por isso, a cada semana, aparece um novo Pelé, um novo Messi, um novo CR7. Alguém aí se lembra do furor causado por Gabriel Jesus, há uns poucos anos, principalmente pela voz de Galvão Bueno, então na Globo? Pois é. Por onde anda Gabriel Jesus? Aparentemente esgotado por não poder ser o que a imprensa queria que ele fosse, acabou assumindo o que é: apenas um bom jogador, nada mais. A mesma coisa vai acontecer com Endrick, com John Kennedy – o mesmo destino, sem o sincericídio, provavelmente. São, apenas e tão somente, bons jogadores, um pouco acima da média – como ficará claro, daqui a poucos anos. Mas o produto precisa continuar a ser vendido – o futebol – para atrair patrocinadores, publicidade, etc., etc., etc. E é necessário que os novos pelés, messis, cristianos ronaldos, continuem surgindo, nem que seja para serem substituídos, logo depois, por novas promessas de craques. Quem acompanha a mídia esportiva argentina sabe que, até alguns poucos anos, eles eram bastante parcimoniosos em rotular de ‘crack’ um bom jogador que surgisse. Mas agora, igualmente premidos pela necessidade de cliques e likes, também sucumbiram e começaram a rotular de ‘joya’ qualquer um que faça uma jogada espetacular ou um gol de placa. Aqui como lá, esses novos craques logo se mudam para a Europa e se tornam mais um rosto na multidão. Quando são convocados para suas seleções nacionais, não podem fazer mais do que fazem, ou seja, entregar um futebol mediano ou apenas bom. E o público idiotizado pela mídia fica embasbacado; como pode uma seleção cheia de craques não ganhar nada? Que craques, cara-pálida? A mídia não informa mais, Nassif. Apenas vende seu produto. E, para vender bem, tem que oferecer o que o povo – o público – quer. E, infelizmente, o que o povo quer não é a análise crítica, criteriosa, dos fatos, como encontramos aqui no GGN. Quer saber da mãe que dança funk de vestido transparente, ou do fio-dental do ator global, ou do carro comprado por milhões por uma sub-celebridade qualquer. A Era do Algoritmo não poupará nada nem ninguém, Nassif. Tudo estará sob seu domínio, seu controle. A extinção, ou a alteração irreversível das características e finalidades de toda atividade humana sobre a Terra, é o que nos aguarda. A mídia não escapará ao seu destino. Submissão ou extinção. A idade contemporânea acabou, Nassif. Começou a idade do algoritmo. Ou Algoritmo, como quiserem. I.A. pouca é bobagem.
Parafraseando a genial música dos Titãs, a mídia inventou o conceito de “melhor time de todos os tempos da última semana”. O entretenimento engoliu o esporte.
Aqui em casa, interior de Sergipe, sem assinatura de TV (já tenho provedor, Skype, Netflix, Disney e mais uma penca de outras…), invariavelmente fico sem sinal dos canais públicos, privados convencionais, restando 10 religiosos, 24 horas ao dia, a começar da Record e sua retransmissora.
Bem vindo a esse admirável mundo novo.
Insisto ,quem analisa a mídia recebe a mesma de lambuja.
Os pobres mortais tem de pagar.
E para saber que fulano está (0¥3∆}0 beltrana.
Depois ,oh céus , existe uma crise na mídia.