Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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A nova bomba do laboratório de feitiçarias semióticas da Globo: “1+1=3”, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

O leitor deve conhecer ou ter ouvido falar daquela velha cartilha escolar de alfabetização de priscas eras chamada “Caminho Suave”, o be-a-bá do mundo das letras. Pois é nesse nível que interesseiramente se situam as chamadas “ferramentas de fact-checking”. Tática diversionista para desviar a atenção da opinião pública de uma outra cena na qual as notícias de fato funcionam: não no campo da representação (verdade ou mentira), mas no deslizamento metonímico das edições, escaladas, justaposição narrativa para criar percepções, impressões e relações de causa e feito. Como, por exemplo, a nova bomba que o laboratório de feitiçarias semióticas do telejornalismo da Globo criou em ano eleitoral para blindar o seu candidato campeão Alckmin: a bomba semiótica “1+1=3” – comece narrando uma notícia… e de repente dê uma guinada e passe a falar de outra notícia, criando duas linhas narrativas simultâneas e tão confusas que o telespectador começará a criar relações de causa e efeito que acabarão criando uma terceira notícia. Aquela verdadeira notícia que a emissora gostaria de informar para esconder uma realidade comprometedora.

As atuais agências de checagem em torno de todo hip das fake news parece coisa de criança, algo assim como a velha cartilha “Caminho Suave”, perto das verdadeiras estratégias de manipulação das notícias.

As plataformas de fact-checking são uma espécie de “vovô viu a uva” da Linguística, tão interesseiramente ingênuas em focar as notícias somente pelo viés nominalista da linguagem – se a notícia é verdadeira ou falsa. Ou se signos correspondem ou não à realidade. 

Tática diversionista para desviar a atenção de uma outra cena na qual a estrutura das notícias são na prática construídas: na cadeia de significantes (eixo sintagmático), no deslizamento horizontal, metonímico das formas. E não mais numa correspondência, por assim dizer, vertical dos signos (eixo paradigmático) com aquilo que supostamente representariam.

Como se as notícias se destinassem unicamente ao intelecto, à cognição, à representação. E não, principalmente no atual quadro das bombas semióticas da grande mídia em tempos de deflagração política, ao jogo de sombras, da guerra de percepções e da moldagem da opinião pública não mais em cima de fatos, mas principalmente a partir da impressão, dissuasão, sensação ou “climas” estrategicamente criados pela suposta reportagem dos fatos.

1+1=3: Vacinas 

Dois singelos exemplos bem recentes demonstram isso. E, como não poderia deixar de ser, exemplos extraídos do telejornalismo da TV Globo – o verdadeiro laboratório de ponta atual no qual são fabricadas bomba semióticas. A notícia é que agora temos uma nova bomba linguística, novilha em folha, saída diretamente dos aquários da redação global.

Uma nova bomba de natureza metonímica: aquela que junta duas notícia em uma, confundindo o espectador, induzindo-o a criar novas relações de causa e efeito dos acontecimentos. A bomba semiótica “1+1=3”.

Em telejornais da emissora (principalmente nas edições dos  telejornais locais SP1 e 2 em São Paulo) a notícia sobre a falta de vacinas contra meningite e sarampo nos postos de saúde é justaposta, na mesma reportagem com o mesmo reporter e locução of, com outra notícia: a de que os pais supostamente estariam deixando de vacinar os filhos pelas razões as mais diversas – medo de efeitos colaterais, boatos, etc.

 

A estrutura narrativa dessas reportagens é rocambolesca: inicia descrevendo o não cumprimento das metas de vacinação por um suposto medo ou esquecimento dos pais, inserindo em meio à reportagem declarações sobre problemas na distribuição das vacinas em postos municipais. Para, no meio da matéria (numa bizarra guinada temática) vermos depoimento de uma mãe sobre possíveis efeitos colaterais. E terminando a matéria com um gestor de saúde falando em problemas “pontuais” de distribuição. 

Qual a relação causa-efeito? Por que as campanhas de vacinação “estranhamente” não estão cumprindo as metas no Estado de São Paulo? A grave notícia dos problemas de distribuição das vacinas nos postos parece estar perdida dentro desse rocambole narrativo. 

Duas notícias verdadeiras (pelos pressupostos fact-checking) que confirmam a célebre máxima da Teoria Gestalt da percepção: o todo nunca será a soma das partes! 1+1 nunca será igual a 2. 1+1 sempre dá 3, não só para a Gestalt mas para toda a retórica da Publicidade e Propaganda.

Essas duas notícias justapostas resultam num espantoso efeito metonímico: sem estabelecer relações de causa efeito, enfraquece a dedução mais comprometedora – metas não são cumpridas pela falta das vacinas, fazendo os pais desistirem. Num contexto de blindagem da principal esperança da continuidade (o ex-governador do Estado Geraldo Alckmin) do atual cenário pós-golpe 2016, essa feitiçaria semiótica ganha um sentido que nenhuma ferramenta de fact-checking consegue detectar.

Como contar mentiras apenas falando notícias verdadeiras?

 

1+1=3: Oscilações de energia

Mais um exemplo, agora nessa segunda-feira (27), no caos que se instaurou na primeiras horas da manhã com a “oscilação” de energia no metrô e nas linhas de trem da CPTM em São Paulo.

O telejornal da manhã “Bom Dia São Paulo”, com o apresentador Rodrigo Bocardi, começa a mostrar ao vivo a multidão se acotovelando nas estações do metrô, com os atrasos dos trens e a falta de informação da companhia metropolitana sobre o porquê. Enquanto o painel high tech dos estúdios da Globo mostravam que tudo estava bem nas linhas de trem e metrô, as imagens ao vivo figuravam o contrário.

No meio dos links ao vivo com repórteres em diferentes estações do metrô e da CPTM mostrando multidões se acotovelando e informações desencontradas, Bocardi entra repentinamente com notícia sobre roubo de “fios de cobre” em uma “sala técnica” da estação Chácara Klabin – homens teriam invadido a estação durante a madrugada roubando a estação localizada na Rua Vergueiro.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

3 Comentários

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  1. Faz uns 20 anos que não vejo

    Faz uns 20 anos que não vejo Globo. Um verdadeiro lixo comunicacional. E olha que fui noveleiro entre a infancia e a juventude.

    O melhor a fazer é simplesmente desligar a TV.

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