A relação de Murdoch com o governo do Reino Unido

Do Opera Mundi

Inquérito sobre escândalo de escutas revela influência de Murdoch sobre governo britânico

Desde 1988, magnata das telecomunicações se encontrou mais de cem vezes com lideranças políticas do país   

A cada novo desdobramento do escândalo dos grampos telefônicos do Reino Unido, as relações entre um dos maiores conglomerados midiáticos do planeta e a cúpula da política britânica revelam-se mais íntimas.

Efe

Manifestantes exibem cartazes com protestos contra Murdoch e seu filho

Na semana em que o proprietário da gigante News Corp., o magnata Rupert Murdoch, prestou depoimento à justiça britânica, líderes partidários e até mesmo o secretário da Cultura, Jeremy Hunt, foram colocados em xeque nessa que é uma das maiores crises de ética jornalística do país.

Em seu depoimento nesta quinta-feira (26/04), Murdoch admitiu ter errado e se disse arrependido pelos procedimentos adotados por sua empresa. O magnata falou, no entanto, em uma suposta “operação” que tentava encobrir os casos de grampos telefônicos.

Dois dias antes, era James Murdoch, filho do magnata australiano e vice-diretor da corporação, quem prestava esclarecimento às autoridades que compõem o chamado Leveson Inquiry, inquérito instaurado a partir da crise das escutas telefônicas para apurar as técnicas de captação de notícias empregadas pela mídia do país.

Na ocasião, James disse que era “evidente por si só” que os veículos de sua empresa falharam em criar “transparência suficiente” em suas estratégias jornalísticas. Entretanto, justificou-se alegando que, à época, “não conseguiu reparar nessa deficiência”.

Retórica

Sir Michael Lyons, ex-presidente do conselho responsável pela gestão da BBC, também intensificou a repercussão das audiências dessa semana ao revelar supostos vínculos entre o atual secretário de Cultura do gabinete do premiê David Cameron, Jeremy Hunt, e a direção da BSkyB, empresa de telecomunicações do conglomerado de Murdoch.

Em declarações ao portal da BBC, Lyons afirmou que Hunt era “influenciado pela retórica de Murdoch”. Assim, ele teria sido “tendencioso” em favor dos interesses da BSkyB durante negociações sobre taxas de licenciamento da emissora pública no ano de 2010. Um porta-voz de Hunt, entretanto, replicou as acusações e considerou-as “bizarras”.

Efe

Murdoch chega ao Tribunal Superior de Londres acompanhado por sua esposa, Wendi Dengg

Cameron tentava blindar a figura de Hunt recusando-se a pedir o início de uma investigação do Executivo sobre a conduta do secretário. Contudo, declarações de fontes ligadas a Lord Leveson, magistrado responsável pelo inquérito, reforçam o papel do primeiro-ministro enquanto figura responsável pelo zelo da lei. Hunt chegou a pedir a Leveson que antecipasse, “pelo interesse da justiça”, a data de sua audiência. A requisição foi negada.

De Thatcher a Cameron

O jornal britânico The Guardian quantificou o volume de encontros que Rupert Murdoch teve com primeiros-ministros e membros de seus gabinetes desde o fim do governo de Margareth Thatcher, em 1990, até os dias de hoje.

Entre conferências, cafés da manhã, almoços e jantares, gabinetes de trabalhistas e conservadores já recepcionaram Murdoch e os interesses da News Corp. nada menos do que 113 vezes. Desse total, a maior parcela (cerca de 33%) representa encontros com o ex-premiê trabalhista Tony Blair.

Embora o contato fosse intenso, Murdoch trocaria o apoio dispensado aos trabalhistas em 2009. Naquele ano, de acordo com o The Guardian, James Murdoch se reuniu com o então líder da oposição conservadora David Cameron, para firmar simpatias políticas nas eleições que se seguiriam.

Luis Nassif

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