Após 34 anos, Folha de S. Paulo se acovarda!, por Marcelo Auler

Editoral deste domingo nega coragem que jornal teve em 1983 quando, sob comando de Octávio Frias, apoiou eleições diretas 
 
Editoral deste domingo nega coragem que jornal teve em 1983 quando, sob comando de Octávio Frias, apoiou eleições diretas
 
Blog Marcelo Auler Repórter
 
Por Marcelo Auler 
 
Após 34 anos, Folha de S. Paulo se acovarda!
 
Quem lê o editorial deste domingo (28/05) da Folha de S. Paulo – Sucessão Especulada – e foi testemunha, em 1983, da audaciosa coragem do jornal ao publicar o editorial Por eleições diretas, conclui facilmente que na ausência do seu antigo dono, Octávio de Oliveira Frias, o jornal, hoje comandado por seus filhos, Octávio Filho, na parte editorial, e Luís Frias, como presidente da empresa, se acovardou. Lamentavelmente!
 
A Folha, que nos anos de 1983/84 escreveu parte da História do Brasil (com maiúscula) ao se transformar em porta-voz do que a sociedade civil clamava, hoje é capaz de criticar o processo de escolha indireta, como faz o editorial, sem, contudo, assumir aqui que milhões de brasileiros já pedem em praça pública e renovarão os pedidos ao longo deste mesmo domingo ao ocuparem ruas de diversas cidades brasileiras: Diretas Já!
 
Este foi o primeiro, mas não o único. Talvez, o mais importante tenha sido o de 3 de novembro do mesmo ano – Diretas agora – que marcou definitivamente o ingresso do jornal na campanha, transformando-o no Jornal das Diretas. Algo bastante ousado na época, mas que só a Folha, por sua independência financeira e editorial, poderia fazer. O resultado, até comercialmente falando, foi palpável, a ponto de tornar-se o maior matutino do país. Em termos de respeitabilidade então nem se fale. Quem viveu aquela época como seu repórter sabe disso.
 
Vivo fosse “Sr. Frias”, que muitos acusavam de ser um “granjeiro dono de jornal”, jamais publicaria uma posição em cima do muro como a que seus filhos fizeram hoje em um jornal que, merecidamente, foi chamado por Ulisses Guimarães de “Porta-voz das Diretas Já!“. Basta lembrar a forma como ele decidiu engajá-lo e toda a sua equipe, a partir de novembro daquele ano, na campanha que ainda se iniciava. Fui partícipe desta bela época e testemunhei tais fatos, ainda que possa não ter estado em todas as reuniões que o levaram a ganhar destaque na sociedade brasileira.
 
editorial Folha 27 de março de 1983
 
A ideia de o jornal – que se intitulava um “saco de gatos” por se dar ao direito de, em plena ditadura, publicar artigos de todas as correntes ideológicas -, abraçar a bandeira do voto do eleitor para escolher o sucessor do general de plantão no Planalto, João Baptista Figueiredo, partiu do Ricardo Kotscho. Ele, casualmente, sentava-se ao meu lado na velha redação da Rua Barão de Limeira. Entre a apresentação da proposta que idealizou durante um fim de semana e a decisão do “Sr. Frias” não foram gastos nem 24 horas, como narro mais adiante. O jornal poderia – como queriam alguns, entre os quais Boris Casoy, então diretor de redação -, não abraçar esta bandeira. Jamais, porém, tomaria uma posição dúbia, como consta do editorial deste domingo, quase três décadas e meia depois.
 
Kotscho entregou as três laudas em que expôs e defendeu o engajamento na campanha como forma de a Folha tomar o partido da sociedade civil que já clamava há tempos pelo direito de escolher seu presidente, a Adilson Laranjeiras, então chefe de reportagem. Pouco tempo depois estava nas mãos do Sr. Frias que convocou editores e repórteres especiais para uma reunião na mesma tarde, ou fim de tarde. Após ler o que recebera como proposta, todos foram ouvidos.
 
Editoria de 3 de novembro de 1983, que marca o ingresso do jornal na campanha.
 
Eu não estava nessa reunião, ainda era um “bagrinho” como diziam, embora participasse da Comissão de Redação – a primeira instituída oficialmente em órgão de imprensa. Pelo que soube, o último a falar foi justamente Casoy, que se posicionou contrário à ideia, dando seus motivos. “Sr. Frias”, porém, não se convenceu e decidiu ali mesmo que o jornal se engajaria na campanha.
 
No relato do próprio Kotscho no livro “Explode um Novo Brasil – Diário da Campanha das Diretas” (Editora Brasiliense, 1984), na hora foi constituído um grupo para cuidar de toda a cobertura da campanha que era coordenado exatamente por Octávio Frias Filho, então secretário do Conselho Editorial. Como tal ele respondia, junto com o pai, pela linha editorial que o jornal tinha. Por isso, causa estranheza a quem viveu aquele período dentro do que chamávamos de “Vênus Pastilhada” (por conta das pastilhas amarelas que cobriam sua fachada e em um contraponto ao prédio da Rede Globo no Rio, conhecido como Vênus Platinada), ver a Folha, ainda sob o comando de Octávio Frias Filho, publicar um editorial com as passagens que destaco abaixo:
 
Folha Editorial 28.05.2017.detalhes
 
Nem se recorra ao argumento de que hoje a Constituição prega a eleição por meio do Congresso Nacional. Isso também acontecia em 1983 e a Folha foi clara ao se opor ao texto daquela Carta, reescrita durante a ditadura civil-militar, que o jornal apoiou no seu início, com episódios lamentáveis que a História registrou. A campanha de 1983, no fundo, é quase idêntica à campanha atual que ganha cada vez mais adesão da população: mude-se a regra.
 
O “quase idêntica” fica por conta de que hoje, como narramos em TSE pode provocar Diretas Já!, existir na legislação vigente a previsão da eleição direta no caso da vacância dos cargos de presidente e vice-presidente. Está no Código Eleitoral. É verdade que a constitucionalidade dele está sendo questionada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no Supremo Tribunal Federal, desde maio de 2016. Continue lendo. 
Redação

13 Comentários

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  1. Covardia? Se fosse estava

    Covardia? Se fosse estava ótimo. Isso é desespero pela generosa verba publicitária do Temer. Aumentou 125% no último ano.

  2. ficha falsa, saudação nazista e ditabranda

    Dilma e a ficha falsa. Legenda em fotografia da organizada Gaviões da Fiel em coreografia  que, para o jornal, era uma “saudação nazista”. A ditadura que foi dittabranda. Estão aí algumas passagens edificantes da Folha. Deixei de ler há muito tempo!

  3. Durante esses anos, comprei a

    Durante esses anos, comprei a folha em quase todos os domingos numa banca perto do Lido (Copa) que abria cêdo.

    Nunca mais li este malicioso panfleto depois da nojenta perseguição a Brizola no primeiro turno de 1989 (quando poupou o PT) e depois “puxou o tapete” de Lula no segundo turno. 

  4. Folha defenderá Diretas Já ?

    Será que a Folha, com esse editorial “reflexivo”, não estaria fazendo a transição de sua posição no jogo político ?

    Será que no início de Junho a Folha não passaria a defender “Diretas Já” ?

    No início de Junho teríamos uma polarização: a Folha defendendo “Diretas Já” e a Globo defendendo “Indiretas”…

  5. Uma estoria maluca. Diretas

    Uma estoria maluca. Diretas Já no atual contxto não faz parte da realidade factual e não tem absolutamente nada a ver com as eleições que se seguiram ao fim do regime militar. São circunstancias historicas completamente diferentes e o TEMPO para uma campanha dessa natureza, no primeiro caso levou um ano agora levaria, se viavel fosse, um tempo tão longo que chegariamos nas eleições normais de outubro de 2018, no meio tempo o Pais estaria convulsionado mais do que já está hoje.

  6. 1983 foi um ponto fora da curva na história no jornal dos Frias

    Apoiou o golpe de 64, os governos da ditadura civil-militar, emprestou as peruas para operação bandeirantes,

    conseguiu de Paulo Maluf a estação rodoviária paulista, arrendou a Folha da Tarde para a repressão,

    apoiou o golpe de 2016.

    Afinal o golpe de 2016 é Paulista, a Folha e o Estadão são portavozes do mesmo. E Temer é da elite paulista.

    Enquanto isto a burguesia paulista está apertando o torniquete contra a revista Carta Capital  cortando os poucos anúncios

    que ainda fazia na mesma.

  7. 1983 foi um ponto fora da curva na história no jornal dos Frias

    Apoiou o golpe de 64, os governos da ditadura civil-militar, emprestou as peruas para operação bandeirantes,

    conseguiu de Paulo Maluf a estação rodoviária paulista, arrendou a Folha da Tarde para a repressão,

    apoiou o golpe de 2016.

    Afinal o golpe de 2016 é Paulista, a Folha e o Estadão são portavozes do mesmo. E Temer é da elite paulista.

    Enquanto isto a burguesia paulista está apertando o torniquete contra a revista Carta Capital  cortando os poucos anúncios

    que ainda fazia na mesma.

  8. Falida
    A grande mídia corporativa brasileira está falida moralmente e financeiramente faz tempo!
    Tentam se agarrar interesseiramente a bandidagem que puder para sobreviver !
    No fundo querem que o andar de baixo se f… !
    Organizações como a Globo só sobrevivem pela imbecialização da imensa massa da população ignorante , atrasada e inculta!
    Eu, de minha parte, já não leio ou assisto algo desse pessoal , já perdi a noção do tempo , de tantos anos que ja se passaram.
    E não sinto a mínima falta !
    No fundo é um alívio de tanta sandice !
    Se não fossem os blogs independentes, como esse,a coisa séria muito pior .
    O problema , como disse antes ,é o considerável atraso cultural da grande maioria de nosso povo !
    Pobre Brasil … terá de lutar muito por algumas gerações para se livrar dessas chagas seculares !
    Desculpe , mas apesar de meu otimismo , a minha visão no momento é essa .

  9. Falida
    A grande mídia corporativa brasileira está falida moralmente e financeiramente faz tempo!
    Tentam se agarrar interesseiramente a bandidagem que puder para sobreviver !
    No fundo querem que o andar de baixo se f… !
    Organizações como a Globo só sobrevivem pela imbecialização da imensa massa da população ignorante , atrasada e inculta!
    Eu, de minha parte, já não leio ou assisto algo desse pessoal , já perdi a noção do tempo , de tantos anos que ja se passaram.
    E não sinto a mínima falta !
    No fundo é um alívio de tanta sandice !
    Se não fossem os blogs independentes, como esse,a coisa séria muito pior .
    O problema , como disse antes ,é o considerável atraso cultural da grande maioria de nosso povo !
    Pobre Brasil … terá de lutar muito por algumas gerações para se livrar dessas chagas seculares !
    Desculpe , mas apesar de meu otimismo , a minha visão no momento é essa .

  10. Impeachment de Collor

    Lembro da Folha como vanguarda  em 1992. Na pequena cidade onde vivo,  Interior do RS, recebia o jornal com dois dias de atraso, mesmo assim fui assinante. Tinha orgulho disso, me sentia representado. …Hoje fico pasmo com o que Otavinho fez. O Jornal  é  porta-voz do Golpe,  defende um pulha Canalha como Temer….acabou !  Tem o fedor da elite golpista tucana ! 

    Um Jornal ao desserviço  do Brasil  !

  11. Não se acovardou, apenas

    Não se acovardou, apenas tornou-se consciente das portas que fechou durante anos perseguindo trabalhistas!

    Da ausência de fazer jornalismo!

    Durante anos esteve na linha de ataque para desqualificar LULA e PT!

    Com isso fechou portas com a esquerda e caiu com uma luva para todos estes corruptos que ai estão!

    O PSDB não precisava mais fazer politica!

    Bastava ser oposição, criticar o governo Petista para ser colunista, ter reportagens publicadas…

    Com a exposição promíscua de seus apaniguados que ainda não tiveram uma única ideia nova desde que assumiram o governo a não ser a de espoliar, privataria e corrupção deslavada.

    Resta salvar os apoios em mídia para continuar funcionando!

    Pois querer Diretas já, implica na possibilidade de perder benesses e não conseguir as verbas públicas que precisa para fechar suas contas!

  12. Esclarecimentos

    Alguém entende a logística para se realizar eleiçõe diretas – evidentemente após a saída do atual presidente- ou seja prazos e tudo mais? Alguém me ajuda em dar sentido numa eleição para presidente com este congresso?

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