O estado do Rio Grande do Sul (RS) vive a tragédia causada pelas enchentes em decorrência das fortes chuvas. Para a extrema-direita, o sofrimento de 2,1 milhões de pessoas atingidas se tornou oportunidade para acelerar a promoção de suas ações contra o Estado Democrático de Direito, avalia a doutora em Linguística e Língua Portuguesa, com foco em Análise do Discurso, Eliara Santana, em entrevista ao GGN.
“Essa não é uma ação aleatória, é coordenada e muito intensa, articulando pontos sensíveis, diminuindo intencionalmente o papel do Estado e tornando caótica uma situação já muito difícil”, explica a pesquisadora associada do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência (CLE) da Unicamp e integrante do projeto “Pergunte a um(a) cientista”.
Desde o início de maio, personalidades influentes na internet, artistas e até parlamentares espalharam dezenas de notícias falsas, que vão desde mentiras sobre o suposto impedimento do governo em relação a doações, passando pela suposta destinação ou negação de recursos, até ao agravamento do própria catástrofe vivida pelos cidadãos gaúchos.
Um levantamento feio pelo O Globo, divulgado nesta terça-feira (14), identificou ao menos vinte notícias falsas diferentes que circularam neste período. Somente as publicações originais tiveram 13,46 milhões de visualizações, segundo dados públicos das plataformas.
Em meio aos esforços públicos a partir de inúmeras frentes para tentar mitigar os danos à vida no RS, o governo federal se vê também diante do desafio de conter a enxurrada de desinformação e chegou a lançar uma campanha de conscientização, no último domingo (12). Segundo Santana, essa ofensiva a partir das fake news tem como base “alimentar o descrédito dos cidadãos em relação ao Estado, com um forte viés eleitoral e vistas a retomar narrativas caras à extrema direita“.
Pandemia de desinformação
“O Brasil vive uma nova pandemia de desinformação – a exemplo do que ocorreu durante a pandemia de Covid – com a tragédia no Rio Grande do Sul. Há um ataque sistematizado, calculado e intencional em relação às ações empreendidas pelo Governo Federal. O mote dominante é que o Estado atrapalha e que o ‘civil socorre o civil'”, comenta Eliara.
“Esses ataques”, continua a especialista, “visam a construir e fortalecer um descrédito dos cidadãos em relação ao papel do agente público, do Estado, o que dialoga com a narrativa criada lá atrás, nas eleições de 2018, de que era preciso alguém de fora da política para ‘salvar’ o Brasil – no caso, essa construção falava de Jair Bolsonaro”, explica.
“Hoje, com a tragédia do RS – que revela também o descaso da política neoliberal com a questão climática – os ataques em forma de fake news direcionados ao Governo Lula batem na tecla de que o Estado atrapalha e não funciona, o que é um modus operandi da extrema-direita para desarticular o Estado Democrático de Direito, atrapalhando as ações de socorro e exigindo que recursos sejam gastos – tempo e campanhas – para desmentir as fake news”, completa a pesquisadora.
Inquérito das fake news
Neste limbo, além de todas as ações de comunicação do governo para desmentir as narrativas falaciosas, o Ministério da Justiça, por exemplo, solicitou à Polícia Federal (PF) a abertura de um inquérito para investigar informações disseminadas nas redes.
Ao anunciar a medida, na última sexta-feira (10), o ministro Ricardo Lewandowski voltou a destacar que as fakes news podem ter “consequências realmente dramáticas”, que impedem o socorro adequado às vítimas.
O pedido de investigação do Ministério foi feito a partir de um requerimento do ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), que apresentou um conjunto de conteúdos falsos publicados nas redes sociais que de fato teriam atrapalhado as operações no RS.
O inquérito tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) e terá relatoria da ministra Cármen Lúcia. A Advocacia-Geral da União (AGU) também foi acionada.
Psol aciona PGR contra bolsonaristas
Já nesta segunda-feira (13), sete deputados federais se tornaram alvo de representação judicial movida pelo PSOL, por propagação de fake news durante sessão na Casa.
O partido, que cita o cometimento de crimes como os de calúnia e difamação, pediu que a Procuradoria Geral da República (PGR) ofereça denúncia ao STF contra Filipe Martins (PL-TO), Gilvan da Federal (PL-ES), Paulo Bilynskyj (PL-SP), Caroline de Toni (PL-SC), General Girão (PL-RN), Coronel Assis (União-MT) e Coronel Ulysses (União-AC).
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Esses porcos bolsonaristas tiram proveito até de tragédias e ninguém toma uma providência. É melhor prevenir do que remediar. Ou querem deixar chegar a 8 de janeiro a fim de reagir?