Globo pratica jornalismo psicográfico para sacrificar Glenn Greenwald, por Luis Nassif

Antes que a Polícia Federal começasse a periciar os celulares e computadores, antes que soltasse qualquer informação, antes mesmo que Moro desse o disparo, afirmando que os hackers eram os fornecedores do The Intercept, o Globo se antecipou e atropelou o script.

A estratégia de Sérgio Moro

Antes mesmo de se anunciar a Operação Spoofing, todo mundo já conhecia o roteiro.

  1. A Polícia Federal identificaria algum hacker, preferencialmente os que invadiram os celulares de autoridades nas últimas semanas.
  2. Sérgio Moro imediata, e antecipadamente, atribuiria aos hackers o dossiê divulgado pelo The Intercept.
  3. Recorrendo ao método Lava Jato, o passo seguinte seria conseguir algum indício de que os hackers venderam a informação para o The Intercept. Não haveria necessidade de provas nem de indícios, bastariam declarações vazadas seletivamente para a mídia para formar convicções. Daí a importância da reedição de pactos com a mídia.
  4. No coroamento da operação busca e apreensão na casa de Glenn Greenwald e posterior deportação dele.

O papel da Globo

O papel de parceiro preferencial foi conferido às Organizações Globo.

Mas havia uma dificuldade. Uma semana antes, uma jornalista da Globo foi vítima de um ataque desproprositado do presidente Jair Bolsonaro e das redes sociais, acendendo a luz amarela da liberdade de imprensa em risco. Como entrar em uma operação que, em última instância, pretende criminalizar um trabalho de um jornalista de reputação internacional?

Nos primeiros ataques da Globo foi demonstrado – inclusive aqui – que ela investia contra um dos pilares da liberdade de imprensa.

A estratégia definida, e comunicada aos jornalistas, foi de reforçar a ideia de que o dossiê teve origem criminosa, nos perigosos hackers de Araraquara, mas resguardando o direito da imprensa à divulgação e ao sigilo de fonte.

Tudo resolvido. Ou não?

A criminalização do Intercept

Vejamos o que diz um especialista (paranaense) que escreve artigo hoje na coluna de Opinião da Folha (aqui):

“Se as autoridades policiais conseguirem indícios de prova de que os jornalistas estavam mancomunados com a sua fonte (possível hacker), a garantia do sigilo da fonte é inaplicável e tais profissionais de imprensa devem também ser investigados. 

E a razão é simples: nenhuma garantia constitucional deve ser utilizada como escudo para cometimento de atos ilícitos. É um pressuposto básico de direito constitucional que é esquecido nos debates ideológicos radicais de hoje em dia. Logo, se os referidos jornalistas usarem a garantia do sigilo da fonte para cometer crimes, a Constituição não vai protegê-los”.

Ora, nem precisa desenhar para entender que a intenção de Moro consiste em criar ligações entre os hackers e o The Intercept para criminalizar a cobertura. Focas entenderiam perfeitamente essa estratégia. Mais ainda jornalistas com décadas de exercício da profissão. Ou não?

Imediatamente após a divulgação da prisão dos hackers, foram apresentados os indícios da suposta superorganização criminosa.

  • Um celular com mais de mil telefones.
  • Dinheiro encontrado com eles.

Na coletiva para informar sobre o assunto, dois delegados federais se comportaram com admirável profissionalismo. Relataram objetivamente o que haviam levantado até então. Constatou-se que o hacker era especializado em golpes em cartões de crédito, o que explicaria os mais de mil números de celulares e o dinheiro vivo na casa.

Dentre os números armazenados, havia um com o nome de Paulo Guedes, podendo indicar que se tratava do hacker que tentou invadir o celular do Ministro.

Mais não disseram, por nada mais ter a dizer enquanto não terminasse a perícia.

Mesmo antes da perícia, Moro garantiu que se tratava dos fornecedores do Intercept – antecipando de maneira pouco hábil sua estratégia.

Além disso, a Operação prendeu quatro pessoas. Pelas reações iniciais, três nada têm a ver com os golpes do quarto. Mas quatro pessoas é o número mínimo para enquadrar o grupo na caracterização de organização criminosa.

Está nítida a estratégia de Moro. Ou não.

O jornalismo psicográfico

Onde a Globo se entregou? No excesso de obediência de alguns jornalistas, que não prestaram atenção na cronologia dos fatos e passaram a praticar o jornalismo psicográfico.

Antes que a Polícia Federal começasse a periciar os celulares e computadores, antes que soltasse qualquer informação, antes mesmo que Moro desse o disparo, afirmando que os hackers eram os fornecedores do The Intercept, o Globo se antecipou e atropelou o script.

“A operação da Polícia Federal que prendeu nesta terça-feira quatro suspeitos de trabalhar no hack que originou o vazamento dos diálogos entre Dallagnol e outros personagens do Petrolão não se chama Spoofing à toa”.

Seria oportuno que os jornalistas que entraram nessa narrativa se explicassem com os colegas a razão de participarem de uma trama que visa sacrificar o jornalismo e um jornalista corajoso.

Luis Nassif

20 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Me espanto como alguns ainda se espantam com as tramóias de uma midia assassina, quadrilheira e corrupta…………..
    Depois do adesismo dos anos de chumbo da ditadura, dos anos fhc em que a midia aderiu ao esquartejamento do estado brasileiro indo à farra, enquanto escondia as agruras do povo em manchetes fantasiosas de frango a um real, que o pobre estava comendo iogurte, que os restaurantes estavam cheios (como se tivessemos que deixar de comer), escondendo o desemprego que destruia o tecido social, o salario minimo aviltado, os tubarões de ensino desgraçando a educação, e faltava até papel jornal, com os jornais saindo apenas com os classificados, sem metade das edições por falta de papel……..

    Depois de agirem ferozmente contra, no unico momento nacional em que a situação do trabalhador melhorou, em que se comportaram como bandidos contra um governo popular…….

    A midia está sendo ela mesma, sabuja, ordinária, canalha, anti-povo, e a contra todos os interesses nacionais, por que foi pensada e construida para agir assim desde Henry Lucce………..

  2. Moro comporta-se como se fosse um personagem de seriado americano quando a realidade foge de um roteiro que o beneficie ele “sai de cena” e reparece quando lhe convém .

  3. 1 – Sr. Nassif, não há nada de psicográfico no showrnalismo (ver professor e jornalista José Arbex Jr.) da Globélica: a parceria entre a Lesa-Pátria jr., a do sistema de justiça, e a Lesa-Pátria sênior, a rede de manipulação Globélica, nunca acabou. Interessante observar que apenas há algumas semanas, bem depois das denúncias da VazaJato, a esposa do filho da Miriam Leitão deixou a assessoria de comunicação do rábula. Ou não? A saída se deveu à obediência do rábula ao Vergonhoso que tem sido criticado pela Leitão, ou para abafar a ligação mais explícita entre ambos? A ação demonstra que a Globélica, óbvio, não vai pensar nem uma vez se tiver que sacrificar mesmo seus porta-vozes mais ridículos, se isso for necessário para defender seu patrimônio, afinal, o que se chama de jornalismo no Brasil é apenas a relação acomodatícia entre jornalistas mais ou menos profissionais e empresas privadas que utilizam o jornalismo como forma de exploração comercial e de tráfico de influência junto aos grupos de poder, com quem, aliás, os donos dessas empresas têm relação de origem ou destino – quantos políticos e empresários de diferentes ramos são donos de empresas de comunicação (em especial, emissoras de rádio e TV), e qual a relação e a cronologia entre a posse de um e de outro – o tal rato do baú tem um filho eleito governador… do Paraná e é sócio informal do dono do baú na propriedade de emissoras, recentemente parece que comprou uma conhecida e tradicional rádio, de direita, da cidade de São Paulo.
    O que está em jogo para a Globélica, e estranho que o Sr. Nassif que falou tanto disso esqueceu de falar neste artigo, é esconder e abafar o escândalo da compra de direitos de transmissão de jogos esportivos, que virou, por algum tempo, uma nova mina de exploração para os rábulas dos USA no uso dos sistemas internacionais de justiça para fazer lobby de seus interesses nacionais e corporativos – Lawarfare, ou lawfare para os mais apressados. E quem abafou o caso? O MPF, segundo o noticiário da época, ou não?
    Mas prender Glenn, ah, isso não vão mesmo. São covardes e sabem a briga mundial que vai ser. O que pretendem apenas é conseguir autorização do STF para impedir novas reportagens, manchar a reputação dos dissidentes que fazem jornalismo de verdade – aí entra a disputa entre mídia tradicional e blogues progressistas – e tentar estancar a sangria da rePUTAção do rábula.
    O problema é que não importa o quanto isso seja manjado, a população está tão envenenada, tão incapaz de apresentar sinais vitais de cognição e de reação que não seja mais defesa da apolitização, de que são todos iguais e não há o que fazer, reações que acabam por alimentar a extrema direita em sua demolição da democracia pela cooptação dos únicos mecanismos que ainda funcionam, que tudo o que os milicianos do governo fizerem – e os escândalos nesse jogo sujo têm uma tripla função: desviar a atenção de casos graves e subnoticiados, desorientar a opinião pública e publicada sobre a prioridade de atenção e gravidade no festival de escândalos, e testar, como numa pesquisa psicológica das que Bannon aprendeu a se valer, a maleabilidade e pontos de resistência da população, para melhor manipular… – será retroalimentado como ração para a apolitização, de um lado, e a polarização destrutiva – se ainda fosse a real polarização, capital versus trabalho, elite versus comuns, público versus corporativo, mas a que existe é também para evitar os verdadeiros debates que as crises naturalmente, sem manipulação, produziriam -, de outro. Dividir para conquistar… e para destruir. Tão velho como o velho mundo e a velha espécie desumana.
    Ufa. Tá difícil mas estamos vivendo uma chance histórica, quase épica, de nos preparar para receber a revolução do século, e que incluirá fazer essa cuidadosa, exigente, lenta, sacrificante, decepcionante, passada a limpo do que temos sido como sociedade. É hora de exercitar o socratismo – do grego e do ribeirão pretano, rs, de não ter medo de perguntar e de provocar a revolução da compreensão e da ação a partir dela, e de fazê-lo com alegria e junto ao povo – e a imaginação sadia de um novo mundo, possível, urgente, necessário, e que está a caminho porque a Natureza não espera pela humanidade para fazer seu trabalho.
    E enquanto isso, vamos vivendo nossas microvidas e macrodilemas…

    Canal Mídia Ninja – Mensagem para o trabalhador e a trabalhadora que pegam o metrô lotado de manhã
    https://www.youtube.com/watch?v=3FbDGq–WLc

    Adriana Calcanhotto – Era Pra Ser
    https://www.youtube.com/watch?v=P5wXAaH5URo

    Sampa/SP, 25/07/2019 – 12:42

    1. FORA DE PAUTA
      Para a editoria de Nova Democracia, afinal, segundo o Stiglitz, a questão ambiental é eixo fundante e não acessório dessa nova utopia do centro democrático capitalista civilizado. Não é da cobertura, necessária mas exclusiva e redundante, repetitiva e autorreferente, dos escândalos que se fortalecerá a consciência do seu risco e imposição de resistência propositiva, é ao contrário apresentar o contraponto tanto ao mostrar o que está sendo feito de bom como diversificando a cobertura do que está errado de maneira mais criticamente fértil, especialmente numa mídia industrialmente construída para massificar a desgraça e a desinformação, a fofoca e a falta de sentido, o niilismo improdutivo, o cinismo e a paralisia social. Temos que aumentar o nível e a pluralidade das discussões e perspectivas dos problemas e projetos de superação deles, de nossas próprias narrativas, sair do círculo vicioso da pauta da extrema-direita e ousar um debate público criativo e participante da solução. Já disse Einstein, e o dia em que eu aprender a por em prática mudo de vida, rs, que a solução não está no mesmo nível de compreensão dos problemas, temos que fazer o esforço que dá um passo á frente. E essa brincadeira de pular sem sair do lugar, ou de dar um passo à frente e dois atrás já cansou, rs. Precisamos de ousar os movimentos, do corpo, da alma, e das ideias.

      Extinction Rebellion – Grieve Play Love – Jem Bendell (em tradução livre: “sofrer, brincar, amar”)
      https://www.youtube.com/watch?v=ksUKEDEWFlQ

      Study: Breaching ‘Carbon Threshold’ Could Trigger Mass Extinction in Oceans (em tradução livre: “Estudo: superar o limiar de carbono poderia desencadear extinção em massa em oceanos”)
      https://www.youtube.com/watch?v=tkqazE0BbNs

      Sampa/SP, 25/07/2019 – 15:08

  4. É ingenuidade acreditar que os dirigentes da firma “Globo” sintam-se ameaçados em seus trabalhos quando, por exemplo, Bolsonaro insulta Miriam Leitão. Esses dirigentes ganham em dinheiro e em prestígio sob governo ditatorial, e não trabalham exceto por poder, em dinheiro ou em prestígio. Não há nenhum compromisso deles com ética ou prática jornalística há muito tempo. Pode ser que individualmente um ou outro jornalista contratado da firma sinta algum resquício de responsabilidade profissional mas ou é muito pouco e sempre reprimido ou não dura no quadro de contratados. Esses profissionais estão muito mais para profissionais de marketing do que de jornalismo.

  5. …o jornalismo da Globo, em conluio com Moro, virou pura ficção : devem estar produzindo e filmando em tempo real mais um filme da série PF A Lei é para Todos ( menos pra milicianos e terraplanistas). ..

  6. O dano maior das notícias encomendadas reside na antecipação…
    de tudo que vem da lava jato, nada ocorre ou ocorreu fora do alcance da Globo

    daí muitos podem pensar que ela antecipa porque tem informantes em todo lugar, mas, que nada, na verdade a Globo cria a realidade que se quer. Ganha pra isso

    e não é de hoje que faz isso; deu certo com os milicos; deu certo com Moro; e vai dar com Bolsonaro

  7. As manchetes sem sentido d’o globo dão a perfeita noção do falta de rumo do jornal.
    É claro que em parte perderam o rumo com as sempre pesadas criticas ao PT inimigo; não sabem fazer criticas normais.
    E são sócios do moro, com quem estão intimamente ligados, que por sua vez foi para debaixo da aza do bolsonaro, que neles bate a valer.
    Manchetes idiotas e de quem está perdido.
    E se revelam bandidos.

  8. Ah, essa torcida, essa esperança de que a rede globo venha a fazer jornalismo, pelo interesse público…

    Isso é uma máquina de propaganda, comercial, politica e ideológica, nesta ordem. O unico interesse é o próprio e o dos aliados, parceiros. A palavra de ordem é o controle social. Cada palavra publicada ou não publicada visa este efeito.

    A teimosia em recusar isso é tremenda.

  9. Sim, seria oportuno que os jornalistas que entraram nessa narrativa se explicassem com os colegas. Só que antes eles deveriam, junto com seus donos, cumprir integralmente uma pena de prisão perpétua, por lesa pátria. Não sou a favor da pena de morte.

  10. Que ironia toda a desgraça do Brasil começou com Globo/Moro/Lavajato e provavelmente IRÁ TERMINAR com os mesmos,quem vencerá?Espero q seja o Jornalismo verdadeiro e real,estamos vivenciando a batalha do Apocalipse jornalistíco !!!

  11. Nassif, a referência do texto não bate com o link que você colocou. O link correto onde aparece a frase “A operação da Polícia Federal que prendeu nesta terça-feira quatro suspeitos de trabalhar no hack que originou o vazamento dos diálogos entre Dallagnol e outros personagens do Petrolão não se chama Spoofing à toa.” é este aqui:

    https://oglobo.globo.com/brasil/analise-spoofing-permite-ataque-sem-invasao-de-celulares-de-dallagnol-moro-23827900

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador