Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
[email protected]

Luciano Huck e o jornalismo que perdeu o faro na classe média midiatizada, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

A corrida de celebridades como Luciano Huck para apagar fotos nas redes sociais com o, agora, radioativo senador Aécio Neves, é a face mais visível de um novo fenômeno: o surgimento uma classe média midiatizada: jornalistas, artistas, celebridades esportivas entre outros da fauna midiática que, por respirarem e viverem em uma bolha que os isola das ameaças do deserto do real, começam a criar relações promíscuas e comprometedoras com personagens empresarias e políticos que habitam no entorno do poder. Como sintoma “tautista” (tautologia + autismo) desses ambientes midiatizados, confundem câmeras, teleprompter e claque de aplausos em auditório com a própria realidade, chegando alguns a acreditar que de fato ocupam “espaço de poder”. Casadas com políticos e empresários além de manter amizades com centros de poder corporativos e governamentais fazem muitos jornalistas acreditar que também pertencem à classe dominante, criando um tipo de jornalismo e entretenimento marcado por relações promíscuas e conflitos de interesses.

Lá pelos idos de setembro de 1999, em artigo no jornal Folha de São Paulo intitulado “Ninguém ousa namorar as deusas do sexo”, o ex-cineasta e jornalista Arnaldo Jabor qualificava o apresentador Luciano Huck como um “fazendeiro de bundas”. 

Na época Huck era a estrela do programa H da Band, depois de uma trajetória como estagiário em agências de publicidade, revista Playboy, colunas sociais e sócio de casa noturna na praia de Maresias/SP. O Programa H costumava revelar beldades como a “Feiticeira” e a “Tiazinha” que, para Jabor, eram produtos de uma “revolução da vulgaridade regada a funk e pagode” – clique aqui.

Dezoito anos depois, o outrora “fazendeiro de bundas”, em recente entrevista para a mesma Folha, passou a se autonomear como representante de uma geração que está “pronta para ocupar espaços do poder” diante do “colapso do sistema político”. E em tom messiânico, declara-se com uma “missão conquistada pelo poder do microfone resultado de muito trabalho”. – clique aqui

Depois de jornalistas como Ivan Moré tentar criar uma espécie de Lava Jato moralizadora no esporte (o quadro “Jogo Limpo”, clique aqui) e jornalistas como Fátima Bernardes migrarem para programas de entretenimento (clique aqui), dessa vez é Huck que foi contaminado pela metástase do tautismo (tautologia + autismo) que impregnou os corredores, estúdios e redações da Globo.

Huck acredita que falar ao microfone, receber aplausos de uma claque em um auditório e ler o teleprompter é um contato real com o povo e o poder. 

É o sintoma tautista de confundir o signo com a própria coisa (confundir a câmera com a própria realidade). Inebriado por esse ambiente midiático auto-referencial e fechado em si mesmo, Huck distribui indícios que possa se candidatar à presidência e se vangloria de ter amigos íntimos do poder como Fernando Henrique Cardoso (“a cabeça mais moderna do Brasil”) e o senador Aécio Neves (“tenho carinho por ele”).

 

Tautismo e a classe média midiatizada

Depois do escândalo das delações premiadas dos donos do frigorífico JBS, abalando o governo do desinterino Temer e levando junto Aécio Neves, Huck corre para as redes sociais e apaga suas fotos nas quais posava orgulhosamente ao lado do seu amigo senador – assim como também fizeram diversas estrelas midiáticas apoiadoras de primeira hora do impeachment como Ana Paula do vôlei, o jogador Neymar entre outras celebridades.

O que revela um fenômeno derivado do tautismo que agora parece demonstrar não ser só propriedade exclusiva da Globo: também contamina o próprio contínuo midiático como um todo. Esse fenômeno é o do surgimento de uma, por assim dizer, nova classe média midiatizada – jornalistas, artistas, celebridades esportivas et caterva que, por respirarem e viverem nessa atmosfera tautista que os blinda das ameaças do deserto do real lá de fora, começam a criar relações promíscuas e comprometedoras entre mídia e personagens empresarias e políticos que habitam no entorno do poder.

No futuro, esse fenômeno (que está muito além das tradicionais celebridades das colunas sociais) ainda será objeto de estudos acadêmicos da sociologia até a antropologia urbana. Mas, desde já, podemos perceber que o ponto de partida do fenômeno está na boa remuneração e no fascínio em constatarem o alcance na opinião pública das suas visões de mundo.

Imersos e intoxicados por essa atmosfera viciada, tornam-se veículos fáceis para aqueles que verdadeiramente detém o poder – o Capital, seja político, financeiro e dos meios de produção.

Lauro Jardim

“Furo” e vazamentos

Por exemplo, o jornalista de O Globo, Lauro Jardim, após o suposto “furo” que virou o barco da República publicado em sua coluna, passou a ser entrevistado como fosse a estrela do jornalismo que poderá mudar o rumo da política – algo assim como Bob Woodward e Carl Bernstein que derrubaram o presidente Nixon com o escândalo Watergate no anos 1970 nos EUA.

Nesse ambiente tautista, editar vazamentos produzidos pelo Ministério Público e Polícia Federal tornou-se sinônimo de “furo” – ou como o jornalista Caco Barcelos chama de “jornalismo declaratório” no qual a “investigação” consiste em meramente republicar documentos vazados, sem o jornalista  se interessar em ligar pontos ou checar a veracidade das informações.

De Luciano Huck a Lauro Jardim, todos são membros dessa nova classe média midiatizada. Pensam ter o poder, mas são apenas assalariados altamente remunerados por aqueles que detêm o monopólio dos meios de produção e distribuição. O verdadeiro poder, o Capital. 

Os altíssimos ganhos (sejam simbólicos ou financeiros) e o engrandecimento do próprio ego levam a criar esse novo estamento mediador entre o Capital e a opinião pública.

 

Cães perdidos

No livro A Saga dos Cães Perdidos, o pesquisador e professor da ECA/USP Ciro Marcondes Filho traça a história de como o Jornalismo perdeu o seu faro e se perdeu. Ele aponta dois fatores: o primeiro, de ordem tecnológica, a prática da profissão “sentada”, em estúdios e redações na qual o trabalho passa a ser de meramente editar e repassar informações (releases, vazamentos ou notas) diante de terminais nas estações de trabalho.

>>>>>Continue lendo no Cinegnose>>>>>>>

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

14 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. A rede globo tornou-se um bolha

    Fechada em si mesma, a globo criou uma realidade própria, não só para os que estão dentro dela, como também para os que estão fora e a acompanham.

    Uma realidade paralela a fascinar (e hipnotizar) milhões.

  2. O problema do sujeito é

    O problema do sujeito é caráter. Se tirou fotos deveria mantê-las.

    Mas não é a primeira vez que faz isso,este sujeito sem caráter,ao acompanhar o resultados das urnas,na casa do rato de Minas,ao ser informado que haviam perdido,sem dó nem piedade ,escafedeu-se do local sem sequer dizer adeus.

    Um grande sujeito,sem dúvida nenhuma para nossa mídia porca.Um espelho dessa gente que golpeou nosso país.

  3. O puxa-saco de mauricinhos (riquinhos)

    Luciano Huck começou na TV como puxa-saco de filhinhos de papai ricos. Ia para as festas para ficar apontando a câmera para filho de “fulano e ciclano” e falava: Esse é Olacirzinho de Moraes conversando com Paulinho Diniz”. É o rei das vulgaridades, um tremendo babaca. É tão infantil, mimado e egocêntrico que achou ruim de um programa fazer um quadro em que ajudava as pessoas nos mesmos moldes do dele. Não vale o que veste. 

  4. Só de falar em CLASSE MÉDIA

    Só de falar em CLASSE MÉDIA midiatizada entendo que o autor neste artigo, brilhante, estende seu raciocínio e não delimita o alcance, apesar de focar só em personagens midiáticos. Ouso complementar que grande parte da classe média não midiática, sem dúvida midiota por interferência do jornais nacionais, se comporta da mesma maneira. Poderia ser uma tautologia empresarial ? Não sei se a definição é adequada. A maioria ocupa o andar debaixo da classe, ganha muito se comparada ao ‘povão”, pouco comparada à parte alta. Bons salários diretos, ótimos indiretos (carro, plano de saúde, bônus), vivem essa realidade enquanto na ativa em cargos gerenciais e de média-chefia nas empresas. E julgam que isso perdurará para sempre até o dia em que são desligados, por aposentadoria ou demissão, e terão que enfrentar a realidade real. Diante dessa nova realidade só os melhores sobrevivem, como motoristas de “Uber” ou corretor de imóveis. 

  5. Há também as ex-funcionárias

    Há também as ex-funcionárias do Ovotavinho, Lo Prete e Catanhede, hoje useiras e vezeiras da globonews. É interessante notar como elas ficaram feias. A adaptação televisa das duas deixaram-nas com as feições rígidas, parecendo com mulheres do nazismo. Mais feias do que vassoura de piaçava de cabeça para cima, encostada na parede. Cruz credo, que feiuras!

  6. Mais uma do “incrivel Huk”…….

    http://glamurama.uol.com.br/joesley-batista-passa-carnaval-em-angra-na-antiga-casa-de-luciano-huck/

    Me pergunto…….dada a maluquice das nossas “zelites/zelotes” e de nossas “celebridades/insalubridades”, se não estamos vivendo ao vivo e a cores, uma nova temporada de “BrainDead”…….algo assim como o “BrainDead Brazil”…….isso explicaria o comportamento transloucado de uns e de outros…….bom, na verdade, eu acho que é canalhice mesmo, mas……….; ) 

  7. Facistinhas

    Tudo indica não haver nenhuma diferença entre Globo, associados, altos assalariados et caterva da máquina de propaganda hillerista. Acorda Brasil, o nazi-fascismo está aí sem maquiagem!

  8. Huk, meu filho, voce está

    Huk, meu filho, voce está parecendo aquela moça que com medo da reação dos pais tenta “recuperar” a virgindade. O que está feito está feito, ela deu e voce também.

    Na verdade independente de ideologia, eu sempre achei o fato do Huk ser o novo grande comunicador de massas da TV a demonstração cabal da decadência da mass media.

    É só pegar o Chacrinha, que parece que não era flor que se cheire, mas era um gênio da comunicação. Seu sucesso com as massas não era furto apenas do poder da Tv Globo adquirida da ditadura. Artista, criativo e original, era um comunicador genial, gostando-se ou não do seu programa.

    Até mesmo Silvio Santos, direitão, mas de inegável carisma, assim como o Flavio Cavalcante. Mas o Huk nunca entendi. Cara de fuinha, sem carisma, sem graça. Só se explica pela total imbecilização das massas televisivas. O que aparecer na telinha o pobre coitado engole 

  9. LAVA JATO DESESPERADA E GLOBO – ASSUMIDAMENTE! – DESNORTEADA

    LAVA JATO DESESPERADA E GLOBO – ASSUMIDAMENTE! – DESNORTEADA: O “JOGO” DA SUCESSÃO DE TEMER

    – “VEJA” agora confirma que o áudio estava sim editado: sumiram com 24% do conteúdo!

    – “Eu já sabia!” (rs)

    – 22/5: Temer foi ao ataque contra Globo/JBS.

    – Veja como, no final, a classe política e a Globo podem chegar a um “acordão” para chamar de seu.

    – 23/5: Lava a Jato – em desespero – abre sucessão de novos fronts: prende ex-governadores do DF Angnelo Queiroz (PT) e Arruda (DEM). E mais: no mesmo dia (!), vai para cima do esquema do PSDB em Goiás (Marconi Perillo).

    – Ricardo Noblat: desorientado (ele mesmo admite!), mostra que colunistas da Globo estão completamente desnorteados.

    – Atenção: mais atualizações de hora em hora… pois o “jogo” não pára! (sempre no fim do texto)

     

    LEIA MAIS »

     

    http://www.romulusbr.com/2017/05/jogo-da-sucessao-de-temer-lava-jato.html

     

     

  10. Luciano Huck

    Luciano Huck assalariado…benzadeus. Assalariado tem pai advogado de ”tapete persa de metro” e que estudou na São Francisco?

    O autor parece estar atrasado uns trinta anos em relação à mentalidade jornalística corriqueira no Brasil. Ou ainda era de se esperar o jornalista intuitivo, com bloquinho de notas em punho, com o Novo Manual de Redação e Estilo da Folha na ponta da língua buscando a verdade lá fora? Aquele jornalista que fazia cara de nojinho para veículos como a televisão ou o ŕadio por se crer superiormente acima dos meios eletrônicos? Além disso,  em algum universo paralelo existe alguma classe média ”não midiatizada” por aí? 

    O articulista mistura ”classe média midiatizada” com representantes do empresariado/showbiz (sim, Huck é empresário, queiram ou não), em uma sociedade onde há quase um século é moldada em paradigmas de publicização eletrônica de conceitos e difusão de ideias, além da propaganda política.  No século da mídia, estar estupefato com a imersão médio-classista em torno do poder midiático e estatal é deveras surreal.

    Para ficarmos apenas em terras varonis, pega-se um Getúlio com suas cantilenas radiofônicas em simbiose com o empresariado que transita desde tempos imemoriais entre a mídia e o poder público – joguemos um Chateaubriand, um ACM, um Saad (que virou o que foi pelas mãos do sogro Adhemar de Barros), um Bloch (não políticos, mas amiguíssimos dos bastidores do poder) e temos uma pequena amostra do que vivenciamos hoje é uma continuidade de sistemas instituídos há decadas de entrelaçamento entre o poder e e mídia.

    E o que dizer de gente como David Uip que em entrevista à Rádio Bandeirantes agradeceu à mídia porque sem ela não estaraia aonde está/estava, deixando desnorteado o jornalista que o entrevistava, que talvez acreditasse, na isenção dos vetores da ciência imersos na crença quiçá iluminista da ciência pela ciência?

    Não seria forçado demais creditar a expressão ”classe média midiatizada” nas categorias tautológicas classificatórias contemporâneas.

    1. Acho que o articulista quis dizer

      Algo ideológico, em que o próprio LH e de resto a classe que representa, parece firmemente acreditar: do lado de lá da telinha, o que eles dizem, acreditam ou falam, transforma-se, fatalmente, em verdade. Neste sentido, há um filme portentoso com Peter Finch e Faye Dunaway que tocou bem antes neste tema:  Rede de Intrigas. O elemento de ambição é intenso e descabido, na métrica política corriqueira : deformar, pela vontade, a realidade. A mais crua e irreal descrição de poder. Alguém argumentaria que Orson Welles faria um Cidadão Kane bem diferente, se existisse TV nos anos 30. O veio temático é o mesmo. Afinal, parece que a pergunta que não se pode calar é esta: somos caudatários do viralatismo por ignorância ou por preguiça intelectiva? Wilson Ferreira responde, magistralmente, esclarecendo uma delas.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador