Manipulação prejudica Petrobras e o país, por Paulo Moreira Leite

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Do Brasil 247

Não é preciso acreditar em conspirações internacionais para entender as mudanças recentes no mercado do petróleo e as dificuldades enfrentadas pela Petrobras para consolidar a posição do Brasil como um grande produtor mundial, possibilidade aberta pela exploração do pré-sal.

Graças a um editorial publicado pela Folha de S. Paulo em 28/12/2015, é possível constatar que os fatos ocorrem à luz do dia, sem disfarce nem pudor. Diz o jornal:

”A guerra de preços no mercado de petróleo continua. A Opep, organização que reúne grandes produtores, reafirmou na semana passada sua política, vigente desde meados do ano passado, de não restringir a oferta do óleo no intuito de sustentar o preço.

O impacto foi imediato. O barril, que custava US$ 100 em setembro de 2014, foi negociado a US$ 36 na semana passada, o menor patamar em uma década.

A Opep busca derrubar o preço para expulsar do mercado competidores que têm utilizado novas tecnologias de custo mais elevado.”

Então está combinado.

O chamado “mercado” de energia não se movimenta pela velha mão invisível imaginada por Adam Smith, pai dos ideólogos atuais da atual pós-modernidade, mas pela manipulação política de quem tem força para defender seus interesses e impor a própria vontade em escala global.

A ação coordenada da Opep é instrutiva, mas não chega a configurar um comportamento novo. Realiza, se possível por vias pacíficas, um movimento que, em outras circunstâncias, inclusive anos bem recentes, já produziu uma formidável coleção de golpes de Estado, guerras e intervenções estrangeiras para garantir o controle político e militar sobre regiões ricas em petróleo.   

Entre os alvos do atual esforço destrutivo da Opep, o jornal menciona um único caso, dos produtores do xisto norte-americano.

Caberia mencionar, na mesma condição, o pré-sal brasileiro, já que sua importância no mercado mundial é uma evidência de doer nos olhos.

A dificuldade em reconhecer o interesse brasileiro faz parte do momento político que vivemos.

Para quem está prioritariamente empenhado no enfraquecimento a qualquer custo do governo Dilma, não convém apontar para nenhum fator externo capaz de ajudar a entender racionalmente as dificuldades atuais da maior empresa brasileira.

Tenta-se explicar – única e exclusivamente – a situação da Petrobras pela ação de quadrilhas corruptas em seu interior, apoiadas por supostas medidas imprudentes, de caráter demagógico, do governo Lula. Este é o foco, a linha.  

Nada deve ser feito para estimular uma visão adequada da Lava Jato e apontar para seus efeitos daninhos para o país, capazes de produzir uma regressão econômica ainda difícil de avaliar.

Se estamos falando de uma investigação necessária, cabe reconhecer um retrocesso econômico e político já visível.

Basta recordar que o economista Gesner Oliveira, insuspeito de qualquer simpatia pelo PT ou por Dilma, calcula que a operação deve produzir um rombo de R$ 200 bilhões na riqueza nacional e eliminar 2 milhões de empregos.

São números que dizem a mesma mensagem dos dados oficiais do Ministério da Fazenda.

Eles desmentem a noção forjada pelo pensamento único de que a corrupção é o principal escoadouro de recursos que deveriam ser empregados no desenvolvimento do país.

Mostram a importância da reconstrução de nossos espaços democráticos, para permitir um debate real sobre as medidas necessárias a retomada do crescimento.

O desagradável é que já sabemos como será a próxima cena do filme da Opep. Quando os possíveis concorrentes estiverem de joelhos, incapazes de reagir, o barril do petróleo irá subir de novo – provocando mais um agravamento na crise mundial, em particular nos países que não tiverem sido capazes de assegurar sua autonomia para enfrentar as vacas magras.

Aí, os brasileiros irão lembrar do pré-sal – da mesma forma que, anos atrás, lembravam do pró-álcool, também ridicularizado pelos observadores que adoram fingir que acreditam na “economia de mercado” e não enxergam movimentos de potencias imperiais por trás dos turbantes dos príncipes feudais da Arábia Saudita.  

Cabe esperar, sinceramente, que não seja tarde demais e que a Petrobras não tenha sido inteiramente comprometida até lá.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

13 Comentários

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  1. Bomba!,,,

    Se o economista estiver certo, então os valentões do MPF e Judiciario já torraram 5 Petrobras!….

    Como disse Bismarck: “Desgrado o estadista que faz a guerra sem que tenha um bom motivo pra quando ela acabar!”…

    Preciamos parar esses insanos!….

  2. Sim, é a mão invisível do mercado …

    Quando o barril de petróleo subir, projetos como o pré-sal e o óleo de xisto se tornarão viáveis novamente, o que vai naturalmente trazer investimentos e aumento de capacidade de produção. No entanto, cabe ressaltar que a preocupação com o meio ambiente e o aquecimento global vão continuar pressionando o consumo para baixo – considerando-se os problemas recentes em Pequim, até países historicamente poluidores como a China vão começar a tomar mais cuidado com suas emissões.

    O erro dessa história toda foi o excesso de investimentos na Petrobras, sem considerar o risco de que acontecesse uma queda de preços que tornasse a extração do pré-sal inviável. Foi uma aposta perigosa, que poderia ter dado muito certo se o petróleo tivesse ficado em patamares elevados. No entanto, não é isso que aconteceu …

    Por último, também acho curiosa a menção do autor ao próalcool, já que a adoção do etanol e do biodiesel eram fetiches do governo Lula até o surgimento do pré-sal, quando eles foram praticamente esquecidos pelo governo. Isso sim foi uma decisão política que teve efeitos muito negativos para o setor sucroalcooleiro.

  3. Compre, compre, compre!

    É hora de comprar, ou alguém realmente acredita que o preço do barril cairá ainda mais ou ficará nesse patamar por muito tempo?

     Não se iludam, o mundo é movido a petróleo e será assim por muito tempo, antes de nossa civilização entrar em colapso.

    1. Eu quero me “iludir”

      Se custassem, aqui, valores próximos, que tem nos EUA, eu teria painel solar e bateria de Tesla em casa. Além de golf híbrido (elétrico e gasolina).

      Creio que, lentamente, diminuiremos a dependência do petróleo. Só depende de bons governantes (o que a gente não deve contar) p/ essa dependência diminuir mais rápido.

      1. Hidrocarboneto não serve

        Hidrocarboneto não serve somente para alimentar motores de  automóveis.

        Não fosse isso, você não teria lido essa mensagem.

        A carcaça da tela de seu PC ou smart é de plástico.

        O buraco é mais embaixo.

  4. O deficit orçamentário da

    O deficit orçamentário da Arábia Saudita anunciado dia 28, anteontem, atingiu este ano 98 bilhões de dólares, fruto da política não restritiva da oferta de petróleo no intuito de manter baixo o preço do barril, Outra notícia dá conta que para financiar o deficit o governo saudita irá cortar subsídios de água, eletricidade e também dos combustíveis. Ou seja, com sua política de manter o preço do petróleo baixo os sauditas não colocam em dificuldade apenas os produtores americanos de óleo a partir da extração do xisto a que a Folha se refere e também o pre-sal brasileiro que a Folha omite pelas razões que sabemos; eles colocam em dificuldade a própria população do país, em sua maioria pobre.

  5. Mas o mercado consumidor da

    Mas o mercado consumidor da Petrobrás é o Brasil, um país gigantesco, cuja frota de carros só aumenta, e que consome tudo que a Petrobrás é capaz de produzir, não? Não vejo porque o preço baixo adotado pela OPEP seja um problema assim tão grave. É até bom para evitar que a empresa faça mais dívidas.

  6. Pequeno detalhe que passou desapercebido…

    Basta recordar que o economista Gesner Oliveira, insuspeito de qualquer simpatia pelo PT ou por Dilma, calcula que a operação deve produzir um rombo de R$ 200 bilhões na riqueza nacional e eliminar 2 milhões de empregos.

    São números que dizem a mesma mensagem dos dados oficiais do Ministério da Fazenda.

    Eles desmentem a noção forjada pelo pensamento único de que a corrupção é o principal escoadouro de recursos que deveriam ser empregados no desenvolvimento do país.

     

    Acho que o articulista não percebeu a ironia desta citação, mas esse rombo de R$ 200 bilhões e esses 2 milhões de empregos perdidos são consequência da corrupção. Ou alguém acha que a corrupção (seja de qual partido for) fez a Petrobrás mais eficiente?

    Esse é o problema da corrupção: ela se enraíza e se funde às estruturas produtivas de maneira tão profunda que a sua remoção é necessariamente dolorosa.

    Se custassem, aqui, valores próximos, que tem nos EUA, eu teria painel solar e bateria de Tesla em casa. Além de golf híbrido (elétrico e gasolina).

    Tenho vários colegas nos EUA que tem planos de adicionar painéis às suas casas e/ou comprar carros híbridos. O que não deixa de ser surpreendente: há três anos, carros híbridos eram considerados piada. Acredito que nos países desenvolvidos, essa é uma tendência irreversível para os próximos 15 ou 20 anos.

    Porém a importância do petróleo não se limita ao seu uso como combustível: existe toda uma indústria petroquímica que produz materiais que hoje simplesmente não são substituíveis. Então eu diria que haverá demanda para o petróleo por muitas décadas ainda.

  7. petróleo barato

    Nassif,

    Nos dias de hoje, já existe muita gente sintonizada com a cadência da Petrobras.

    A cotação de U$34/36 dá para ser enfrentada, mas pode vir a causar mal estar caso fure os U$30. Diz-se que a preocupação central da Casa de Saud é o fracking, setor que viu diversas empresas implodirem nos últimos 12 meses depois de contribuirem para uma produção anual, em 2014, equivalente à da Arábia Saudita. 

    Acreditar que o petróleo terá demanda reduzida, equivale a acreditar firmemente em papai noel, quem sabe em 2030 esta preocupação posa vir a ocorrer. 

    Quanto à Petrobras, entendo que ainda tem muito o que comemorar, mesmo com esta Lava Jato atrapalhando à vontade e com premissas que não levarão a lugar nenhum.

     

  8. Meu caro Paulo Leite,

    Penso que a situação é um pouco mais complexa.  Os árabes não estão lutando só contra os produtores de novas fontes de petróleo, eles estão lutando contra uma diminuição crescente da importância do petróleo. O alto preço viabilizou não somente o uso do óleo de xisto como o grande incremento das fontes alternativas de energia, como a energia eólica, solar, termonuclear, biodiesel, além de ter levado a uma melhor aproveitamento da própria energia do petróleo.  Hoje temos carro que com a mesma quantidade de gasolina, roda uma quilometragem maior duas ou mais vezes. O uso da bateria de alúminio tem catapultado os veículos elétricos e novos modelos de negócio, como a permissão para que produtores domésticos de energia, possam vender sua energia extra para a rede local, tem incentivado cada vez mais estas mudanças paradigmáticas.  Tudo muito parecido com o que aconteceu com o advento da Revoluçào industrial.

    Há uma grande revolução tecnológica em andamento.  Se por acaso um experimento com fusão nuclear der algum resultado positivo, isto levará o petróleo a fazer companhia ao silex e outras pedras que foram fundamentais para nossos antecepassados. 

    E se não bastasse tudo isto, temos a questão ambiental, onde o petróleo é, junto com o carvão, o grande vilão. A pressão é enorme e a indústria petrolífera está sob intenso ataque.

    Os árabes estão sentados emcima de grandes jazidas de óleo.  Eles estão em fase de liquidação, o que acredito que eles fazem muito bem, pois se arriscam a ficar com um patrimônio sem valor algum.

    Isto tudo é muito parecido com os efeitos provocados pela Revolução Digital.  Em poucos anos ela jogou no lixo grandes patrimônios como a fabricação de máquinas fotográficas analógicas, películas de filme,  disco de vinil,  jornais, revistas, venda de  músicas, e vai por aí afora.  O que aconteceu com o patrimônio que representavam os grandes arquivos de fotos da grande imprensa, quando hoje, a cada minuto se produz bilhões de novas fotos com qualidade cada vez melhor?  Hoje qualquer um que precise uma foto para ilustrar um trabalho, não precisa mais comprar.  Basta ir aos grandes arquivos de fotos livres, como a Wikicommons, escolher uma e usar, dando ou não os créditos, dependendo da licença escolhhida pelo autor.

    O que aconteceu com as bibliotecas particulares, com as estantes ostentando uma bela edição da Enciclopédia Larousse ou da Enciclopédia Britânica?  Só os muito pouco antenados ainda se dão ao luxo de pensar que isto é um patrimônio.

    Quando isto tudo começou eu havia acabado de comprar uma bela Nikon analógica.  De repente eu vi que estava com um trambolho em mãos e mais do que rapidamente eu a vendi pela metade do preço pago e comprei um pequena sony digital.  Tive prejuízo? Tive, mas não tanto, pois um ano após a minha máquina estava sendo dada de graça.

    Imagine você o pesadelo em que vivem os países que tem no petróleo sua riqueza vital. Infelizmente este também é o nosso pesadelo, pois quiz a sorte que não tenhamos encontrado o nosso petróleo dez anos antes. E a situação estaria bem pior se não tivéssemos a Petrobrás que já está conseguindo extrair uma quantidade preciosa de petróleo do pré-sal.  Lembremos que as primeiras expectativas é que este petróleo levaria mais tempo para ser explorado o que, graças à qualidade técnica da Petrobras, não se concretizou.

    Por outro lado, mais do que nunca devemos fortalecer o lado estatal da Petrobrás, pois só assim teremos condição de enfrentar a guerra do preço do petróleo.  A continuar com interesses privados dominando sua estratégia, ela passará a importar petróleo e abandonar o pré-sal, tal como antes se fazia com a construção de nossos navios.  Para que produzir a um preço mais alto aqui se podemos comprar por um preço menor lá fora?  

    Somente considerações políticas, de razão de estado, permite indústrias não competitivas  sobreviverem.  O PT, a esquerda e seus aliados,  representam a razão de Estado, a Oposiçao repesenta a razão de mercado. Os brasileiros deverão optar se querem um país soberano, autônomo e livre ou se querem um país subordinado aos interesses de mercado, com todo o risco que isto acarreta, como o de perdermos a própria soberania sobre nossos mares, nossas florestas, nossa água e nossa biodiversidade.  

    Este é um momento crucial na vida de todos os países e de nós mesmos.  O que queremos? Mais estado ou nenhum estado? A opção é vital e está sendo manipulada pela grande imprensa.

    Só fico triste por ver que o governo não está levando claramente ao povo as informações que possam embasar suas opções políticas. Estamos,nós e quase todos os países, diante de uma encruzillhada.Tirando os países ricos e hegemônicos ocidentais, o único país que vejo que tem claro isto é a China.  Os chineses optaram pela soberania e pela razão de estado. 

    Desta vez a China não perderá o bonde da História tal como perdeu quando veio a Revolução Industrial. 

    Um feliz ano de 2016 a todos!

  9. Efeitos de preços deprimidos de petroleo

    O primeiro efeito notável e a queda de investimentos na produção. Como consequência da deplecao de resevatorios temos redução da producao que chega a valores usuais na faixa de 10% ao ano. Uma segunda consequencia se liga a crescimento de custos , função de necessidade de mecanismos   Mais caros de extração , de elevacao do poduto e seu tratamento para atender condições de mercado . Isto já se viu no passado recentes  possibilitando novas e mais caras fontes de fontes de energia. O segundo efeito é Seu custo estratégico onde vemos por exemplo os EUA contrariando princípios apoiar regimes autoritarios de seus fornecedores mais confiáveis. Energia tal como outros bens naturais se tornam limites para atender demandas crescentes de nossa civilização . Não  é de se esperar muito nova e exagerada alta dos precos do petróleo ,cada vez mais necessário para nosso desenvolvimento

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