O enunciado jornalístico hegemônico apodreceu, por Gustavo Conde

Por Gustavo Conde

O enunciado jornalístico hegemônico apodreceu

Hoje, pode-se dizer com tranquilidade factual: quem aceita a narrativa imposta pela imprensa hegemônica tem sérios problemas de leitura. Eu percebo isso a olhos vistos, inclusive na sala de aula – e sobretudo com os adolescentes, leitores muito mais competentes que a geração que lhes precedeu. Ninguém engole mais o enunciado facilitadinho dos jornais corporativos, só os obtusos ou aqueles que recebem favor direto (o que dá no mesmo).

Há também os próprios jornalistas, que são proibidos de se expressar. O profissional remunerado do jornalismo é o agente mais sucateado da cena econômica e social do país hoje. Estão sob a lei da mordaça – e aceitam isso, talvez, porque têm preguiça de exercerem a própria cidadania e de cavar novos espaços de atuação.

A população humilde e trabalhadora, por sua vez, nem tem tempo mais para ler ou assistir o que quer que seja. O golpe devastou tanto o emprego que todos agora trabalham o dia inteiro e só param para comer, dormir e tomar o seu banho.

Essa, aliás, era uma das conquistas revolucionárias do cinturão de proteção social e de ‘giro econômico’ proporcionado pelos governos democráticos do PT: o pobre passou a ter ‘tempo’ para se informar e ponderar sobre o cenário social e político. Um fenômeno perigosíssimo para o poder subserviente, porque tira da mesmice segmentos gigantescos da população, aqueles que aplacavam as suas dores existenciais com futebol e novela.

A cena social muda rapidamente. Poucos enxergam assim, o que é normal. Prognosticar sobre linguagens exige algumas ferramentas técnicas que o mundo moribundo do jornalismo tradicional não tem.

Fato é que quando começar essa campanha eleitoral no dia 16 de agosto, o grande duelo não será entre candidatos – a exceção de Lula, todos sucateados e previamente derrotados pelas próprias pretensões e oportunismos congênitos.

O grande duelo será entre os dois grandes nichos de informação: mídias tradicionais e mídias alternativas. Será uma batalha épica, narrativa, semiótica e discursiva. Quem estiver mais preparado, vence.

Sobre isso, é preciso ponderar sobre dois pontos: o serviço da mídia hegemônica anda tão mal das pernas e com uma qualidade tão baixa, que fazer o ‘feijão com arroz noticioso’ já é um grande passo para vencê-la.

Mas há outro ponto: a compreensão deste cenário favorável não está tão claro assim pelas próprias mídias alternativas. A blogosfera parece ‘respeitar’ demais ainda as mídias hegemônicas. Ela tem vencido batalhas narrativas com muita frequência e tem celebrado pouco e, às vezes, até recuando.

Há, por assim dizer, ainda uma percepção ‘atrasada’ que atravessa a blogosfera, herdeira direta do péssimo e subserviente jornalismo que imperou no país durante nas últimas três décadas, justamente o período de consolidação da redemocratização.

Nessa batalha campal que será a cobertura das eleições, é importante que a blogosfera faça a autocrítica técnica que lhe cabe e avance com muita assertividade para cima da mídia hegemônica velha que se despede, carregando sua linguagem obsoleta consigo.

Os jornais tradicionais tomaram verdadeiras lavadas nos últimos meses. Foram atropelados pela greve dos caminhoneiros (palavras da ombudsman da Folha de S. Paulo, Paula Cesarino Costa), com um péssimo jornalismo declaratório e chapa-branca, e também passaram o ridículo de cobrir o habeas corpus concedido a Lula – e não cumprido – com um conjunto de pressupostos jurídicos que beiraram o inacreditável. Ficou, evidentemente, feio – e eles perderam de novo.

O fato é que para se haver um ‘perdedor oficial’, é preciso que alguém chame a vitória para si – e isso a blogosfera não está fazendo. E preciso fazer. É preciso fustigar. É preciso demarcar territórios discursivos. É preciso ir para cima.

De sorte que se nessa oportunidade inédita, de demarcar claramente a discrepância de qualidade das linguagens que é a cobertura das eleições de 2018, as mídias alternativas ficarem ‘correndo atrás do próprio rabo’, querendo umas canibalizarem as outras, esquecendo que o naco suculento de informação a ser desmascarada está diante de seus olhos e nas homes cheias de teias de aranha dos jornais tradicionais, o logro e a chance de se obter uma grande e épica vitória discursiva sobre o poder apodrecido da imprensa velha pode até escorrer pelo ralo digital.

Para um contencioso dessa magnitude é preciso se preparar. E essa preparação por parte das mídias alternativas é algo que este missivista ainda não consegue enxergar no horizonte ainda nebuloso do embate narrativo que pode definir os destinos da democracia brasileira para os próximos 20 anos.

Não se vence uma guerra só com o acaso e com o apodrecimento do inimigo.

 

Redação

4 Comentários

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  1. A população mais …

    A população pobre na área urbana tem Whatsapp e lê as notícias ali.

    Um perigo talvez.

    Este é um “chute” meu baseado em nenhum dado todavia.

     

  2. Plutocracia e opressão

    O monopólio da comunicação converteu-se em aparelho de opressão.

    O Cartel da Mídia faz dos petistas o que a propaganda nazista fez dos judeus: um povo proscrito a ser eliminado.

    Declarar-se trabalhista hoje é sujeitar-se à perseguição.  Quem defende os direitos de petista é caçado impiedosamente e linchado em praça pública, a exemplo do Desembargador Favreto.

    Assim é a ditadura dos punhos de renda. Mais selvagem e desumana que qualquer ditadura já vista em nossa história. 

    America First e Brasil no buraco.

  3. A velha luta de classes e a colonização

    A cada dia 1% da população, sob o comando dos EUA, consegue manipular e mandar no Brasil cooptando por alienação outros 4%, mediante cargos públicos, mordomias, auxílio-moradia, garantias de aposentadoria e etc. Ainda, com o apoio da mídia, fazem a cabeça de mais da metade da população ingênua e bovina. Pelo outro lado, 10% de esquerdistas convictos consegue cooptar pela força da sua militância quase mais 20%, atingindo quase 1/3 da população, mas, esbarra na sua penetração no restante da sociedade que é cativa pela mídia. Concluo que não é a influência dos EUA nem a cooptação de meritocráticos o que consegue levar vantagens nesta luta, mas sim o poder da mídia e quem a controla. Esse é o nosso alvo, democratizar a mídia.

  4. As 4 derrotas eleitorais explicam o quê?

    O poder nefasto que um oligopólio midiático, como sempre vigente no Brasil, representante das oligarquias escravocratas, plutocratas, cleptocratas, privatistas e entreguistas (hoje comandadas  pela finança internacional e Deep State estadunidense) detém é IMENSO e a ele se devem as eleições dos dois Fernandos que presidiram o Brasil nos últimos 30 anos: Collor de Mello e Henrique Cardoso.

    Ao contrário de combater, regulamentando os Artigos 220 a 223 da CF/1988, sobre os meios de comunicação, os governos petistas preferiram a conciliação e encheram as burras do oligopólio midiático com bilionárias verbas publicitárias federais – seja institucionais, seja das estatais controladas pelo governo federal. Com a origem e vocação que possuem, os veículos desse oligopólio SEMPRE trabalharam junto com as oligarquias, finança internacional e Deep State estadunidense não só pra desestabilizar, mas para derrubar os governos do PT e criminalizar os líderes políticos da Esquerda e o partido, os movimentos sociais, de modo a implementar o neoliberalismo privatista e entreguista, o que se tornou realidade após o golpe de 2016.

    Ante o exposto, é INEGÁVEL o poder deletério das oligarquias e do oligopólio midiático golpista. Mas, em termos de narrativa, é preciso dizer que há 19 anos eles não conseguem emplacar a versão da classe dominante. Após a compra da emenda da reeleição e o estelionato eleitoral que se revelou ainda no primeiro semestre de 1999, mesmo dominando a burocracia do sistema judiciário, a finança nacional, as oligarquias da política, do empresariado e do latifúndio, além do oligopólio midiático, a direita não consegui arregimentar maioria para seus candidatos à presidência da república. Nem mesmo a 1ª tentativa de golpe, com a farsa/fraude do menslão, iniciada em 2005 e levada a termo em 2012, logrou à direita oligáqrquica, plutocrata, escravocrata, cleptocrata, privatista e entreguista – representada majoritariamente na política partidária pelo PSDB e PFL/DEM – logrou o êxito esperado, de aniquilar o PT, a Esquerda e o maior líder político e popular dos últimoa 60 anos, Lula.

    Sem a aplicação de um golpe de Esatdo midiático-policial-judicial-parlamentar, sob comando do Deep State estadunidense e finança internacional, com o apoio das FFAA vira-latas e entreguistas, das oligarquias empresariais, do latifúndio, do empresariado vira-lata e entreguista e da política, mas principalmente pela cooptação/corrupção/compra da burocracia judiciária brasileira (sobretudo da PF, MP e PJ) a direita não consegui, por meio do voto popular, destituir o PT e a Esquerda da presidência da república.

    Inferimos, a partir das premissas e observações acima, que apesar de muito poderoso, o oligopólio midiático golpista não conseguiu impor sua narrativa nacionalmente, embora esse discurso do PIG/PPV tenha sido suficiente para manter dois dos principais estados da federação (SP e MG) como feudos tucanos por mais de duas ou quase duas décadas, respectivamente. Cabe observar que as chamadas ‘mídias alternativas digitais’ só atingiram relevância e alcance significativos a partir da primeira década deste século XXI, que coincide com o 1º governo do Ex-Presidente Lula, quando os véiculos de mídia tradicionais – sobretudo os impressos –  entraram em rápido declínio. Hoje a moçada com 25 anos ou menos, embora ainda dê audiência aos portais do oligopólo midiático (PIG/PPV), não se restringe a ele e não compra pelo valor de face o que é publicado lá. Posso assegurar que há milhões de brasileiros que hoje não dão um clique nem um segundo de audiência a veículos da mídia golpista, informando-se através de blogs, veículos internacioanis, portais alternativos e redes sociais.

    Se o enunciado do jornalístico hegemônico – do PIG/PPV – fosse prevalecente, a direita oligárquica, plutocrata, escravocrata, cleptocrata, privatista e entreguista – representada majoritariamente na política pelo PSDB e pelo PFL/DEM – não teria amargado 4 (QUATRO) derrotas consecutivas em eleições presidenciais, e não estaria caminhando para outra derrota neste ano, apesar do golpe de Esatdo que aplicaram, para derrubar Presidenta Dilma Rousseff, criminalizar o PT e a Esquerda, aniquilando Lula. A narrativa do PIG/PPV apodreceu, de fato.

     

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