O que Bolsonaro reserva para a Imprensa em 2019: Chumbo grosso!

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Agência Brasil

Por Carlos Wagner

No Observatório da Imprensa

O ano que se inicia não será o da extinção do Jornalismo e das empresas de comunicação. Será o ano em que teremos a chance real de nos superar e garantir a nossa sobrevivência, graças a um cenário inédito na política nacional. A presidência da República será assumida por um grupo político que foi eleito usando como estratégia de campanha as redes sociais, sendo formado por militares da reserva das Forças Armadas, aliados a juízes da Justiça Federal, economistas liberais das fileiras da Chicago Boys e parlamentares do “baixo clero”. Como essa aliança de forças irá administrar o país, ninguém sabe, nem mesmo o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL-RJ). A proposta dele é dar um tiro de misericórdia no presidencialismo de coalizão, substituindo-o por acordos com bancadas temáticas. Será preciso ver em funcionamento para se avaliar o rumo que tomará.

Vem justamente dessa incerteza a chance de nos superar. Não será fácil. Mas quem conseguir terá boa oportunidade de consolidar a sua carreira. O primeiro desafio que temos é definir qual é o nosso norte na cobertura do novo governo. Nosso foco tem de ser a defesa das garantias e dos deveres previstos na Constituição. Faz parte do jogo político, entre os competidores parlamentares, o dedo nos olhos e as rasteiras. Mas eles não devem cruzar os limites estabelecidos pela lei. E como lidaremos com isso? Publicando reportagens e matérias. Não foi uma, não foram duas, mas inúmeras as vezes em que Bolsonaro afirmou ser favorável à liberdade de imprensa. Isso é uma piada, porque ela é uma garantia constitucional e, portanto, não depende da vontade dele para vigorar. Mas ele pode dificultar o nosso acesso a dados, aliás, disse que fará isso. Aqui temos mais um desafio: como fazer fontes no núcleo de decisão de um governo com perfil belicoso? Temos que buscar quem trabalha em áreas de conflito entre as forças políticas integrantes desse núcleo. Claro, devemos sempre lembrar que nenhuma fonte é 100% confiável. Mas isso faz parte do jogo.

Não sei se é o maior desafio que teremos em 2019. Mas ele precisa ser confrontado. Trata-se da ideia, disseminada entre a população pelo grupo de Bolsonaro, de que defender os direitos das pessoas envolvidas com corrupção é ser a favor dos que roubam o dinheiro público. Não é verdade. A Constituição é clara. Todos têm o direito a um julgamento justo, mesmo apanhados em delito. Isso que temos que bater e defender. Tem ocorrido muito, inclusive comigo. Sempre que falamos no caso, recebemos uma enxurrada de pauladas pelas redes sociais. E o engraçado é que os textos protestando contra o que escrevemos são muito semelhantes. Coincidência? O importante é que alertamos o leitor sobre como essas propostas foram os pilares de regimes como o nazismo, na Alemanha, e o fascismo, na Itália.

Aqui há um ponto interessante a se analisar. Foi exatamente para dar um rosto à bandeira contra a corrupção que o presidente eleito levou para o seu governo o juiz federal Sérgio Moro, o condutor da Lava Jato, considerado referência de luta contra os crimes do colarinho branco.

Moro abandonou a magistratura para ser ministro da Justiça e Segurança Pública. Devemos atentar para o seguinte. De todos que gravitam ao redor de Bolsonaro, inclusive Paulo Guedes, seu mentor econômico, o ex-juiz é o único que ostenta brilho próprio. Isso significa que temos mais um desafio. É esclarecer qual é o tamanho, a coesão e o perfil dos juízes, dos procuradores da República e dos agentes da Polícia Federal que integram o grupo de Moro. Por que isso é importante? Se o governo Bolsonaro não der certo, e se Moro não se envolver em nada que manche o seu currículo, ele sairá credenciado para seguir na vida pública. Se tudo der certo no governo, melhor ainda para o futuro do ex-juiz. Ele tem o poder de agregar colegas que defendam seus ideais. Portanto, o núcleo Moro pode ter ambições políticas nas próximas eleições, tipo disputar a presidência da República. Por que não?

Esse é o mar que vamos navegar em 2019. Nós, repórteres, somos os mariscos. Bolsonaro é o mar, enquanto às grandes empresas de comunicação caberá o papel de rochedo. Para lidar com as empresas, o presidente dispõe de uma verba publicitária de R$ 1,5 bilhão, por ano. Do lado dos empresários há três posições que se desenham. A primeira é a do enfrentamento, como já faz a Folha de S.Paulo. A segunda é a de ficar em cima do muro, até que a situação se defina melhor: se o governo tiver sucesso, irão apoiar pelo bem do Brasil. Se fracassar, cairão de pau em nome da governabilidade. Por último, a estratégia da adesão incondicional, a qual já ocorre.

Os repórteres que têm compromisso com a sociedade não devem esperar, de parte do novo governo, nada mais do que chumbo grosso. É a expressão, usada pelos que cobrem casos policiais, para definir um ambiente hostil. Será um ano para quem tem coração forte.

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Carlos Wagner é jornalista, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora (RS, Brasil) de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, entre eles “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

10 Comentários

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  1. Esquece que a imprensa é a grande culpada “pelo que está ai”

    Afinal difamou o PT desde sempre, Lula principalmente, publicou todos os vazamentos seletivos da farsa a jato sem nenhuma critica, escondeu os mal feitos dos eternos passeiros tucanos, e agora que não é mais “necessária” (do ponto de vista do governo do coiso), precisa fazer uma auto crítica bastante clara. Não dá para ser garantista sendo contra Lula (sem provas ou com provas inventadas), não dá para pedir isonomia quando trata desigualmente os iguais (PSDB principalmente, mas também o próprio judiciário), não dá para pedir justiça quando a própria imprensa foi a mais injusta desde bem antes do mensalão.

    Aqui se planta, aqui se colhe, meus caros.

     

  2. Bolsonaro é um vagabundo que

    Bolsonaro é um vagabundo que gosta de ameaçar a imprensa. Mas quem vai despachar ele para o cemitério não será um jornalista e sim o general-vice. E quando isso ocorrer, a imprensa vai aplaudir o novo presidente.

    Maquiavel disse que é melhor o governante ser temido do que amado. Mas ele também disse que o governante odiado nunca está seguro. A história comprova que um governante odiado raramente deixa de ser assassinado por alguém em condições de ocupar o lugar dele.

    Vai que a presidência é sua Mourão.

    1. Conspiração ou piração ?

      O general Mourão na presidência é a previsão de seu mentor político e ex-comandante, o general Paulo Assis. Na pior das hipóteses, Mourão será presidente daqui a 4 anos. Ou antes, assegura o general Assis, porque algo pode acontecer…

       

  3. A despeito dos títulos. o

    A despeito dos títulos. o autor parece desconhecer que seus pares, do que se chama imprensa, no caso os meios de comunicação de massa com mais acesso à população e com condições de influir politicamente nos seus posicionamentos, como as Tvs. (aberta e paga), as rádios, a impressa (jornais e revistas) e os portais na internet , isto em todo o Brasil, que desde o chamado Mensalão iniciou uma verdadeira ação conjunta para afastar a linha trabalhista adotada pelos governos petistas (Lula e Dilma), em conluio, exatamente como diz, com militares da reserva das Forças Armadas, acrescentaria mas também os da ativa e policiais federais e estaduais, que  evitam se manifestar para não desrespeitar regulamentos disciplinares, aliados a juízes da Justiça Federal, mas não só, além dos ministérios públicos federal e estaduais, economistas liberais das fileiras da Chicago Boys e parlamentares do “baixo clero”, grandes bancos e empresas de grande porte (formadas no Brasil e multinacionais), além do apoio e diretrizes emanadas dos EUA, aliados à parte mais expressiva e influente da referida mídia, esta peça fundamental de todas ações que levaram ao golpe-impeachment de Dilma Rousseff em 2016, que se desdobra com a prisão do Presidente Lula, em abril deste ano, este que ganharia em primeiro turno, segundo pesquisas, as eleições ganha por Bolsonaro. Que fique claro: a Globo & cia, a mídia, e a maioria dos jornalistas de que se utiliza são também golpistas de ofício e responsáveis pelo que vem acontecendo contra o Brasil e seu nesse período. Afirmo: não vai ter chumbo gorsso nenhum. O golpe e Bolsonaro que passa a ser o ditador da vez, são sócios, aliados desde o início, defensores do mesmo ideário ideológico e econômico (neoliberalismo). Em princípio só estão acontecendo arrufos entre pares, apoiam-se mutuamente no essencial.

  4. A imprensa não perde nunca
     

    Que graça tem um mal-feito se não houver ninguém que o comente?

    Ela sempre será a língua do poder.

    E, como sabemos, ela sempre se adapta.

     

     

      1. Se ela só ouvisse

        e não desse publicidade ao que ouve. Se ela simplesmente se calasse não seria a imprensa.

        Ela nem precisa ouvir pra falar. Ela inventa.

        Ela é a fala do poder.

        Ela é a lingua – lingua de gravata, que não cabe na boca.

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