Temer: perseguição ideológica na EBC e proibição do termo presidenta

Jornal GGN – O termo “presidenta” para se referir a Dilma Rousseff está proibido na EBC. A determinação foi passada pelo novíssimo presidente da entidade, Laerte Rimoli, sob orientação do presidente interino da nação, Michel Temer.

Essa é a ponta mais visível de uma perseguição ideológica que já começou na estatal de jornalismo. Funcionários relatam que quadros progressistas estão sendo sistematicamente substituídos de cargos de direção por perfis mais conservadores.

Em sua primeira declaração como presidente da entidade, Rimoli disse que os veículos da empresa farão o “arroz com feijão” no jornalismo, sem servir a propósitos que não sejam de informação. Os funcionários interpretaram a fala como um sinal de que pautas sociais, de direitos das mulheres, LGBT, índios e negros serão abandonadas. Elas realmente já começaram a se tornar mais escassas.

Um jornalista da EBC disse que a decisão de chamar Dilma de “presidenta” foi “respaldada pelo nosso manual de redação, que determina que se deve respeitar a maneira como a pessoa pede para ser chamada. Como a própria presidenta pediu para ser chamada dessa forma, em conformidade com o manual  a gente a chamava de presidenta”.

Para Renata Mielli, do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, a decisão faz parte de uma tendência autoritária. Pode parecer banal, mas o objetivo é desqualificar a luta pela emancipação da mulher na sociedade.

“Nos governos progressistas dos últimos anos houve um esforço maior na implantação de políticas de empoderamento da mulher”, afirmou. “O Estado brasileiro acolheu essa demanda, e com o deslocamento de forças a partir de um golpe, a maneira de se combater isso está sendo feita com medidas autoritárias e machistas, porque essas políticas emancipadoras não condizem com a orientação política e ideológica que nos querem impor”.

Do Sindicato dos Bancários de SP

“Perseguição ideológica” na EBC

Por Rodolfo Wrolli

Expressão presidenta, empregada quando Dilma assumiu poder com proposta de afirmação feminina, está proibida na empresa pública; políticas emancipadoras não condizem com orientação política e ideológica do governo interino, diz Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação

São Paulo – Em tempos de misoginia e machismo, a EBC (Empresa Brasil de Comunicação), que administra os veículos públicos de comunicação Agência Brasil, TV Brasil, Radioagência Nacional e sete emissoras de rádio, não vai mais utilizar em suas reportagens o termo presidenta para distinguir o gênero do cargo de presidente da República.

Quando foi adotada, a proposta era a afirmação feminina, lembra uma jornalista da EBC. “[A adoção do termo] está respaldada pelo nosso manual de redação, que determina que se deve respeitar a maneira como a pessoa pede para ser chamada. Como a própria presidenta [Dilma Rousseff] pediu para ser chamada dessa forma, em conformidade com o manual  a gente a chamava de presidenta”, explica.

A decisão faz parte de uma tendência autoritária de perseguição ideológica. A opinião é da coordenadora-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Renata Mielli. Segundo ela, por detrás de uma medida como essa, que pode parecer banal, está a desqualificação da luta da emancipação da mulher na sociedade.

O emprego do termo “presidenta” – autorizado pelos dicionários da língua portuguesa e espanhola – não foi uma invenção de Dilma Rousseff. Michelle Bachelet, em seu primeiro mandato no Chile (2006-2010), e Cristina Kirchner na Argentina (2007-2015), também adotaram categoricamente o substantivo feminino para designar seus cargos. Bachelet, inclusive, antes de reassumir a presidência chilena em 2014, foi a primeira líder da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), e a primeira encarregada de ONU Mulheres, agência das Nações Unidas para a igualdade de gênero.

“Nos governos progressistas dos últimos anos houve um esforço maior na implantação de políticas de empoderamento da mulher”, avalia Renata. “O Estado brasileiro acolheu essa demanda, e com o deslocamento de forças a partir de um golpe, a maneira de se combater isso está sendo feita com medidas autoritárias e machistas, porque essas políticas emancipadoras não condizem com a orientação política e ideológica que nos querem impor.”

“O machismo não é só comportamental, é culturalmente construído, inclusive através do vocabulário”, continua a dirigente do FNDC. “O fato de não se usar o termo feminino de um cargo como o de presidente, não é um problema da gramática, mas porque até pouco tempo era reservado exclusivamente aos homens.”

Guinada – A mudança é a mais recente de uma série já adotada na EBC desde que Michel Temer tomou o poder. Com o afastamento de Dilma, o governo interino nomeou o jornalista Laerte Lima Rimoli para a presidência no lugar de Ricardo Melo, que ocupava o cargo há apenas duas semanas.

Com essa manobra, foi atropelada a Lei 11.652/08, que regula a radiodifusão pública no país: para garantir a autonomia da EBC frente a governos, determina mandato de quatro anos para a presidência da entidade.

Em sua primeira declaração como presidente da EBC, Rimoli disse que os veículos controlados pela empresa farão o básico, “arroz com feijão” no jornalismo, sem servir a propósitos que não sejam de informação. Entre os funcionários, a fala foi interpretada como um sinal de que as pautas sociais, de direitos das mulheres, LGBT, índios, negros serão abandonadas.

Trabalhadores da EBC também denunciam que quadros progressistas estão sendo sistematicamente substituídos de cargos de direção por colegas de perfil mais conservador. A mudança já se reflete na linha editorial: pautas sociais, antes predominantes na empresa de comunicação pública, estão se tornando mais escassas.

Desvios – Segundo reportagem publicada pela CartaCapital, investigações do TCU apontaram desvios de R$ 10,6 milhões quando Rimoli era chefe da assessoria de Comunicação Social do antigo Ministério do Esporte e do Turismo durante o governo FHC. Rimoli foi um dos quatro servidores do ministério condenados a ressarcir os cofres públicos.

Laerte Rimoli foi coordenador de comunicação da campanha de Aécio Neves em 2014 e é ligado a parlamentares tucanos. Antes de ser nomeado presidente da EBC, ocupou o cargo de diretor executivo da Secretaria de Comunicação Social da Câmara dos Deputados, nomeado pelo ex-presidente da casa Eduardo Cunha. Durante esse período, a comunicação da Câmara foi acusada de aparelhamento em favor de Cunha e seus aliados e de agir como propagandista de uma corrente político-ideológica conservadora.

15 Comentários

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  1. EBC = TV CULTURA

    A outrora respeitada TV Cultura, hoje não passa de uma mera emissora panfletária à favor dos tucanos. Vejam o programa Roda Viva, que já foi referência na TV se transformar num autêntico lixo de propaganda. Com certeza, tentarão transformar a Rede Brasil numa TV Cultura.

  2. mudou

    Dilma de PresidentA doravante passa a ser “Presidente”.

    Temer de golpistA passa a ser “GolpistO”.

    Nesse governo usurpador e interino a piada já nasce pronta .

  3. Um canalha nomeia um sicofanta.

    Laerte Rímoli foi nomeado por Eduardo Cunha,ou seja, um canalha nomeou um sicofanta como diretor-presidente da EBC. Tudo isso ao arrepio da Lei 11.652/2008, que criou a EBC e que afirma textualmente que o diretor-presidente da Empresa Pública de Comunicação é nomeado pelo presidente da república, mas não pode ser destuído por essa mesma autoridade. Ricardo Melo foi nomeado para cumprir um mandato de 4 anos, mas a decisão ditatorial da dupla Cunha/Temer o desttuiu de forma flagrantemente ilegal. O Mandado de Segurança impetrado por Ricardo Melo junto ao STF caiu nas mãos do minsitro Dias Toffoli (pupilo de gilmar mendes), que ficará sentado em cima dele até que perca o objeto.

    Em menos de três semanas o governo golpista desmontou o Estado, penosamente organizado ao longo de 12 anos.

    É necessário que se organizem protestos e se ocupem as sedes das emissoras da EBC, impedindo os programas de irem ao ar. 

    Como cidadão já tomei uma atitude: boicotei também TODOS os veículos da EBC e não dou mais audiência a NENHUM deles.

  4. Antes era proibido se referir

    Antes era proibido se referir à Dilma como Presidente;

    Agora é proibido se referir à Dilma como Presidenta.

    Qual é a diferença? Gramaticalmente, ambos os termos estão certos. Pode usar presidente ou presidenta.

    1. De novo se fazendo de desentendido…

      Como esse nível de incompreensao de texto é incompatível com alguém que é cientista de profissao, só pode ser má fé mesmo.

  5. Que os funcionários da EBC

    Que os funcionários da EBC identifiquem funcionários alinhados com o autoritarismo e, excluindo-os de suas rodas, façam como estão fazendo o IPEA, a CGU etc.: greve e ocupação.

  6. Vergonhoso o que vem

    Vergonhoso o que vem acontecendo na EBC/TV BRASIL. Não passa de uma perseguição medíocre destruindo o processo de desenvolvimento de uma emissora que alcançava cada vez mais audiência junto aos telespectadores, seja nos jornais ou nos programas de debates.

  7. Esta é a vontade de 1/3 da população brasileira…

    Que representam os coxinhas ou trouxinhas que apoiam este Golpe Político de Estado.

  8. Quanta mediocridade

    E eu que achava que Temer seria ruim, mas não séria péssimo. Queimei a lingua. E ai fico pensando em quanto Dilma sabia do odio que o vice nutria por ela e pelo PT, o quanto ela sofreu calada, ouvindo criticas de que era pessoa dificil, mandona, distante…. Aquela carta horrenda bem que nos deu o indicio de quanto esse homem é rancoroso e quanto nutria profundo desprezo pelo governo Dilma Rousseff.

  9. Perseguição ideológica

    Perseguição ideológica gramatical. Parece coisa de livro de George Orwell. Mas atenção, Tofolli acaba de acatar liminar reiconduzindo o Ricardo Mello, diretor de direito da EBC. 

    Então podem voltar a chamar a presidenta de presidenta. E eu vou seguir o conselho do colega abaixo, chamarei o Temer de golpisto. Os caras cortam tudo, bolsa familia, minha casa minha vida, e até a vogal A do alfabeto, como frisou a colega Cristiana.

    Só que logo depois voltam atrás, ou são obrigados a. É o governo do corta, reimplanta, corta, reimplanta. Que tal reimplantar a presidenA Dilma de uma vez por todas? É mais fácil

  10. Vou tentar comentar mais uma vez…

    … vai que o censor está desatento.

    Mais cedo o comentário não passou.

    A Dilma também aboliu o termo presidentA do seu dicionário.

    Em sua fala na UNB ela se referiu a Carina Vitral como sendo a presidentE da UNE.

    Ou será que o termo só vale pra ela?

     

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