As primeiras gravações de Pixinguinha, em 1911

Por Sandor Buys, no Portal LN

Embora seja um dos músicos mais festejados do Brasil, Pixinguinha ainda não teve sua discografia bem descrita.

Aqui são trazidas, junto com comentários sobre a indústria fonográfica da época, duas das primeiras gravações do Pixinguinha, ambas pouco lembradas nos dias de hoje: (1) São João debaixo d’água, que tem sido considerada na literatura a sua primeira gravação, e (2) Nhonho em sarilho, que talvez seja de fato a sua primeira gravação lançada conhecida até o momento.

Pixinguinha tinha apenas 14 anos de idade quando em 1911 foi convidado a gravar seus primeiros discos junto ao grupo instrumental Choro Carioca. Este grupo era formado por Irineu de Almeida, Bonfiglio de Oliveira, Pixinguinha e três dos seus irmãos: Henrique, Otávio e Leo. Os discos foram gravados e lançados pela Casa Faulhaber do Rio de Janeiro, que representava o selo Favorite Record no Brasil.

Estes discos do Choro Carioca foram lançados logo no início da série 1-450.000 da Favorite Record. Mas acontece que a fase inicial da discografia brasileira foi em grande parte perdida pelo esquecimento e há várias dúvidas sobre estas gravações. Observando a literatura e algumas coleções de discos, o que se tem conhecido sobre os primeiros lançamentos da série Favorite 1-450.000 é o seguinte:

1-450.000. ?

1-450.001. ?

1-450.002. Nhonho em sarilho (Guilherme Cantalice) CHORO CARIOCA

1-450.003. ?

1-450.004. Nininha (Irineu de Almeida) CHORO CARIOCA

1-450.005. Dainéa (Irineu de Almeida) CHORO CARIOCA

1-450.006. São João debaixo d’água (Irineu de Almeida) CHORO CARIOCA

1-450.007. Isto não é vida (autor?) CHORO CARIOCA

1-450.008. ?

1-450.009. ?

1-450.010. ?

1-450.011. Salve (Irineu de Almeida) CHORO CARIOCA

1-450.012. ?

1-450.013. ?

1-450.014. ? 

 

 

             

Fotografia gentilmente cedida pelo Instituto Moreira Sales, Rio de Janeiro 

 

 

É possível que boa parte ou até todas as lacunas mostradas na lista acima seja de discos do Choro Carioca. Era muito comum vários discos de um mesmo intérprete ser lançados sequencialmente. Isto está ainda por ser descoberto a medida que se encontrem estes discos que foram esquecidos com o tempo.

A partir do 1-450.015 existem gravações do Grupo do Malaquias. Mais outros três discos do Choro Carioca aparecem isolados com numeração mais elevada:

1-450.030. Albertina (Irineu de Almeida) CHORO CARIOCA

1-450.087. Morcego  (Irineu de Almeida) CHORO CARIOCA

1-450.090. Lulu  (Irineu de Almeida) CHORO CARIOCA

Sérgio Cabral, no livro Pixinguinha – vida e obra (Rio de Janeiro: Funarte, 1978), apresenta o que talvez seja a mais completa discografia do Pixinguinha feita até o momento, embora seja cheia de faltas e erros, como incluir gravações do Pedro Galdino como se fossem de Pixinguinha. Estes erros são bem compreensíveis já que o livro de Cabral foi feito antes do lançamento da Discografia Brasileira – 78 rpm(Rio de Janeiro: Funarte, 1982), que clareou bastante o obscuro cenário do início das gravação de discos no Brasil. No livro de Cabral aparece como sendo a gravação mais antiga de Pixinguinha São João debaixo d’água, informação que foi seguida por outros autores. Contudo, observando a lista acima vemos três gravações com numeração mais baixa do que São João debaixo d’água e que, portanto, foram dispostas para serem lançadas primeiramente. Neste ponto é bom lembrar que o lançamento  dos discos era feito em ordem seqüencial por número de série, mas é bem possível que uma quantidade de discos com números de série próximos fosse lançado ao mesmo tempo.

Até aqui foi tratado da ordem de lançamento dos discos, que é avaliado pelo número de série. Interessantemente, os discos Favorite traziam uma data escrita no canto direito do semi-círculo superior dos selos, que acredita-se ser a data de gravação. Muitas vezes esta data era escrita com caracteres árabes, não se sabe por quê. Tive a chance de examinar selos de quatro discos do Choro Carioca, do total nove lançados na série Favorite 1-450.000, e pude verificar que as gravações foram feitas em pelo menos duas sessões: em 7 de maio de 1911 foram gravadas Nhonho em sarilho,Salve e Morcego; e em 8 de maio de 1911 foi gravado  São João debaixo d’água. 

 

 

           

Fotografia gentilmente cedida pelo Instituto Moreira Sales, Rio de Janeiro

Dulce Martins Lamas faz um inventário dos discos depositados na Biblioteca Nacional na década de 1910 para obtenção de registro, trabalho que foi publicado no livro Música popular gravada na primeira metade do século (Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1997). Esta autora diz que as datas que constam nos selos dos discos é a mesma que consta como data de registro na Biblioteca Nacional , salvo poucas exceções, sendo uma delas São João debaixo d’água, cujo registro é de Junho de 1911 (a data que aparece no selo é 8 de maio de 1911).

Desta forma, o que podemos dizer até o momento é que Nhonho em sarilho é a gravação conhecida do Pixinguinha que foi disposta para ser lançada primeiramente, ou seja, que tem número de série mais baixo. São João debaixo d’água, além de não ser a primeira gravação lançada, foi gravado posteriormente, no segundo dia de gravações do Choro Carioca.

Nos links abaixo estão as gravações de São João debaixo d’água e Nhonho em sarilho, com imagens dos discos originais: 

São João debaixo d’água, pelo Choro Carioca, 1911

Nho nho em sarilho, pelo Choro Carioca, 1911

Também disponível em: https://sandorbuys.wordpress.com/2016/04/25/as-esquecidas-primeiras…

Redação

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