Normose, a doença da “normalidade” no mundo acadêmico

Doença sempre foi algo associado à anormalidade, à disfunção, a tudo aquilo que foge ao funcionamento regular. Na área médica, a doença é identificada por sintomas específicos que afetam o ser vivo, alterando o seu estado normal de saúde. A saúde, por sua vez, identifica-se como sendo o estado de normalidade de funcionamento do organismo.

Numa analogia com os organismos biológicos, o sociólogo Émile Durkheim também sugeriu como identificar saúde e doença em termos dos fatos sociais: saúde se reconhece pela perfeita adaptação do organismo ao seu meio, ao passo que doença é tudo o que perturba essa adaptação.

Então, ser saudável é ser normal, é ser adaptado, certo? Não necessariamente: apesar de Durkheim, há quem considere que do ponto de vista social, ser normal demais pode também ser patológico, ou pode levar a patologias letais. 

Os pensadores alternativos Pierre Weil, Jean-Ives Leloup e Roberto Crema chamaram isto de Normose, a doença da normalidade, algo bem comum no meio acadêmico de hoje. Para Weil, a Normose pode ser definida como um conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou de agir, que são aprovados por consenso ou por maioria em uma determinada sociedade e que provocam sofrimento, doença e morte. Crema afirma que uma pessoa normótica é aquela que se adapta a um contexto e a um sistema doente, e age como a maioria. E para Leloup, a Normose é um sofrimento, a busca da conformidade que impede o encaminhamento do desejo no interior de cada um, interrompendo o fluxo evolutivo e gerando estagnação.

Estes conceitos, embora fundados sobre um propósito de análise pessoal e existencial, são muito pertinentes ao que se vive hoje na academia. Aqui, pela Normose não é apenas o indivíduo que adoece, que estagna, que deixa de realizar o seu potencial criador, mas o próprio conhecimento. E não apenas no Brasil, também em outras partes do mundo. 

Peter Higgs, Prêmio Nobel de Física de 2013 disse recentemente que não teria lugar no meio acadêmico de hoje, que não seria considerado suficientemente produtivo, e que, por isso, provavelmente não teria descoberto o Bosão de Higgs (a “partícula de Deus), descrito por ele em 1964 mas somente comprovado em 2012, quase 50 anos depois, com a entrada em funcionamento de uma das maiores máquinas já construídas pelo homem, o acelerador de partículas Large Hadron Collider. Higgs contou ao The Guardian que era considerado uma “vergonha” para o seu Departamento pela baixa produtividade de artigos que apresentava, e que só não foi demitido pela possibilidade sempre iminente de um dia ganhar um Nobel, caso sua teoria fosse comprovada. Ele reconheceu que, nos dias de hoje, de obsessão por publicações no ritmo do “publique ou pereça”, não teria tempo nem espaço para desenvolver a sua teoria. À sua época, porém, não só o ambiente acadêmico era outro como ele próprio era um desajustado, um anormal, uma espécie de dissidente que trabalhava sozinho em uma área fora de moda, a física teórica expeculativa. Então, sua teoria é também fruto desta saudável “anormalidade”.

A mim, embora não surpreendam, as declarações de Higgs soam estarrecedoras: ou seja, com os sistemas meritocráticos de avaliação de hoje, que privilegiam a produção de artigos e não de conhecimentos ou de pensamentos inovadores, uma das maiores descobertas da humanidade nas últimas décadas, que rendeu a Higgs o Nobel em 2013, provavelmente não teria ocorrido, como certamente muitos outros avanços científicos e intelectuais estão deixando de ocorrer em função dos sistemas atuais de avaliação da “produtividade em pesquisa”. É a Normose acadêmica fazendo a sua maior vítima: o próprio conhecimento. 

Aliás, nunca se usou tanto a autoridade do Nobel para apontar os desvios doentios do nosso sistema acadêmico e científico como em 2013. Randy Schekman, um dos ganhadores do Nobel de Medicina deste ano, em recente artigo no El País, acusou as revistas Nature, Science e Cell, três das maiores em sua área, de prestarem um verdadeiro desserviço à ciência, ao usarem práticas especulativas para garantirem seus mercados editoriais. Schekman menciona, por exemplo, a artificial redução na quantidade de artigos aceitos, a adoção de critérios sensacionalistas na seleção dos mesmos e um absoluto descompromisso com a qualificação do debate científico. E afirmou que a pressão para os cientistas publicarem em revistas “de luxo” como estas (de alto impacto) encoraja-os a perseguirem campos científicos da moda em vez de optarem por trabalhos mais relevantes. Isto explica a afirmação de Higgs sobre ser improvável a descoberta que lhe deu o Nobel no mundo acadêmico de hoje.

O próprio Schekman publicou muito nestas revistas, inclusive as pesquisas que o levaram ao Nobel: diferentemente de Higgs, que era um dissidente, Schekman também já sofreu de Normose. Porém, agora laureado, decidiu pela própria cura e prometeu evitar estas revistas daqui para adiante, sugerindo não só que todos façam o mesmo, como também que evitem avaliar o mérito acadêmico dos outros pela produção de artigos. Foi preciso um Nobel para que se libertasse da doença.

A atual Normose acadêmica se deve à meritocracia produtivista implantada nas universidades, cujos instrumentos, no Brasil, para garantir a disciplina e esta doentia normalidade são os sistemas de avaliação de pesquisadores e programas de pós-graduação, capitaneados principalmente pela CAPES e CNPq. Estes sistemas têm transformado, nas últimas décadas, docentes e alunos em burocráticos produtores de artigos, afastando-os dos reais problemas da ciência e da sociedade, bem como da busca por conhecimentos e pensamentos realmente novos. A exigência de produtividade é um estímulo ao status quo, obstruindo a criatividade, a iniciativa, o senso crítico e a inovação, pois inovar, criar, empreender, fugir ao normal pode ser perigoso, pode ser incerto, pode ser arriscado quando se tem metas produtivas a cumprir; portanto, não é desejável: o mais seguro é fazer “mais do mesmo”, que é ao que a Normose acadêmica condenou as universidades e seus integrantes ao redor do mundo. 

Eu escrevi em um artigo de 2013 (https://jornalggn.com.br/fora-pauta/desvendando-a-espuma-ii-de-volta-ao-enigma-da-classe-media) que a meritocracia leva a uma ilusão de eficiência e progresso que não podem se realizar, porque as meritocracias modernas são burocracias. Como bem ensinou Max Weber, a burocracia é uma força modeladora inescapável quando se racionaliza e se regulamenta algum campo de atividade, como acontece no sistema científico atual. Para supostamente discriminar por mérito pessoas e organizações acadêmicas, montou-se um tal sistema de regras, critérios avaliativos, hierarquias de valor, indicadores, etc., que a burocratização das ações acadêmicas tornou-se inevitável. Agora é este sistema que orienta as ações dos acadêmicos, afastando-os de seus próprios valores, desejos e convicções, para agirem em função da conveniência em relação aos processos avaliativos, visando controlar os benefícios ou penalidades que eles impõem. Pessoas sob regimes de avaliação meritocráticos se tornam burocratas comportamentais; e burocratas, como se sabe, pela primazia da conformidade organiozacional a que se submetem, tornam-se inexoravelmente impessoalistas, formalistas, ritualistas e avessos a riscos e a mudanças. Tornam-se normóticos, preferindo, no caso da academia, uma produção sem significado, sem relevância, sem substância inovadora porém segura, a aventurarem-se incertamente em busca do novo.

Agora, depois de já ter escrito isto naquele artigo, descubro que o Nobel de Medicina de 2002, o sul-africano Sydney Brenner, em entrevista de fevereiro deste ano à King’s Reviw, afirmou exatamente o mesmo. Dentre outras coisas, disse ele que as novas ideias na ciência são obstruídas por burocratas do financiamento de pesquisas e por professores que impedem seus alunos de pós-graduação de seguirem suas próprias propostas de investigação. É ao menos alentador perceber que esta realidade insólita não é apenas uma versão tupiniquim da busca tardia e equivocada por um lugara o sol no campo acadêmico atual, mas uma deformação que assola também os “grandes” da arena científica mundial. E também constatar que os lureados com a distinção do Nobel tem se percebido disto e denunciado ao mundo.

De certa forma, todos na academia sabem que estes sistemas de avaliação acadêmicos têm levado a um produtivismo estéril, mas isto não tem sido suficiente para mudar nem as condutas pessoais, nem as diretrizes do sistema, porque a Normose é uma doença coletiva, não individual. Ela advém da necessidade de legitimação do indivíduo frente ao sistema de regras, normas, valores e significados que se impõe a ele. Por isto é que o pesquisador australiano Stewart Clegg afirmou, certa vez, que “pesquisadores que buscam legitimação profissional podem com muita facilidade ser pressionados a aprender mais e mais sobre problemas cada vez mais desinteressantes e irrelevantes, ou a investigar mais e mais soluções que não funcionam”.

Mas agora me advém uma questão curiosa: por que tantos Nobéis tem denunciado este sistema? Creio que porque do alto da distinção recebida, eles já não tem mais nenhum compromisso com a meritocracia acadêmica, e podem falar do dano que ela causa às ideias realmente inovadoras que, inclusive, podem levar à láurea. Mas também porque o Nobel foge à lógica da meritocracia, ele não é um mecanismo meritocrático, portanto, não é burocrático. Ele é até mesmo político, antes de ser meritocrático e burocrático! É um reconhecimento de “mérito” sem ser uma “cracia”. Ou seja, não há, através dele, um sistema de governo das atividades científicas, e por isso ele não leva a uma racionalidade formal, pois ninguém em consciência normal pautaria sua atividade acadêmica quotidiana pela improvável meta de, talvez já na velhice, ganhar o Nobel; e mesmo que tivesse este excêntrico propósito como pauta, teria que fugir da meritocracia que governa os sistemas científicos atuais para chegar a um lugar reconhecidamente distinto, pois ser normal não leva ao Nobel.

Mas este não é o mundo da vida dos seres acadêmicos de hoje, aqui vivemos em uma meritocracia burocrática, e num contexto assim, pouco adiantam as advertências da editora-chefe da revista Science, Marcia McNutt, publicados no Estadão, de que a ciência brasileira precisa ser mais corajosa e mais ousada se quiser crescer em relevância no cenário internacional. Segundo ela, para criar essa coragem é preciso aprender a correr riscos, e aceitar a possibilidade de fracasso como um elemento intrínseco do processo científico. Mas quando as pessoas são penalizadas pelo fracasso, ou são ensinadas que fracassar não é um resultado aceitável, elas deixam de arriscar; e quem não arrisca não produz grandes descobertas, produz apenas ciência incremental, de baixo impacto, que é o perfil geral da ciência brasileira atualmente, segundo ela. É a Normose acadêmica “a brasileira” vista de fora.

Somos todos normóticos em um sistema acadêmico de formação de pesquisadores e de produção de conhecimentos que está doente, e nossa Normose acadêmica tem feito naufragar o pensamento criativo e a iniciativa para o novo em nossas universidades. Sem eles, porém, não há futuro significativo para a vida intelectual dentro delas, nem na ciência nem nas artes.

 

Texto de Renato Santos de Souza, publicado no E-Book: NASCIMENTO, L.F.M. (Org.) Lia, mas não escrevia (livro eletrônico): contos, crônicas e poesias. Porto Alegre: LFM do Nascimento, 2014.

Redação

25 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. uma impressão de um tipo de preconceito

    quando vejo falar em “academia” sinto uma impressão de um tipo de preconceito. Normose temos todos, isso é que é danado.

  2. Olha…o “publish or perish”

    Olha…o “publish or perish” leva, evidentemente, a distorções sérias na pesquisa acadêmica. Mas não surgiu por acaso, inclusive no Brasil. Tínhamos antes o reino dos catedráticos, que dispunham de poder de vida e morte em relação aos demais professores e pesquisadores, sem que a competência desses catedráticos fosse posta em questão depois que chegaram a essa posição. O mundo era deles e eles faziam o que queriam com os outros. O atual sistema meritocrático quantitativista tem suas limitações e absurdos. Mas o sistema anterior era pior. Por mais inteligente, criativo e produtivo que fosse um ssistente, ele era nada até virar titular. E esse último podia, e frequentemente exercia o poder de se livrar das sombras incômodas. No sistema atual a coisa é mais preto no branco, diminuindo o poder dessa gerontocracia. É claro que podemos ter alguma coisa melhor que a atual e muito melhor do que a anterior. Mas não é evidente que qualquer mexida no sistema nos leve a situação melhor. Temo que seja justamente o contrário.

  3. Tocou no ponto…

    Mas falar disso na academia faz com que você seja considerado ‘de baixo nível”, nao seja promovido, nao receba bolsas, etc. Hoje já cheguei ao máximo da profissao a que poderia chegar, e já estou quase me aposentando pela segunda vez, posso até me permitir dizer isso. Mas quando entrei para o Portal, há seis anos atrás, esse foi o meu primeiro motivo para usar nickname (na época eu pensava que falaria muito mais de temas ligados à universidade do que acabou sendo o caso). 

    1. Isso ainda eis por já até ter

      Isso ainda eis por já até ter se aposentado uma vez e no topo. Imagine quem até enfrentou esses logo que entrou. Estou a mais de 15 anos sem ascensão funcional, pois não me disponho ir de sala em sala se humilhando e pedido voto. E tem mais: como os que prestam são exceções, se eu colocar o processo e tiver  votos para aprovação foi pelo fato de vagabundo ter votado a meu favor, porquanto, deveria favor a vagabundo e isso ainda não quero.

  4. O que alguns intuiam…

    Finalmente alguem falou desse assunto.

    Dentro do joguinho confortável da academia isso é tabu.

    Muitos já venderam a alma pro Diabo a muito tempo.

    “Mas não faz mal/ você ainda pensa/  e é melhor do que nada/  tudo que você podia ser/…” (Milton  Nascimento)

      1. Não obstante o lapso de quem

        Não obstante o lapso de quem fez o comentário, a discussão aqui em pauta pertence ao mundo das idéias e não ao da lingua portuguesa. Acho, no mínimo, descortês e deselegante intervenções professorais do gênero que tentem expor alguém que simplesmente tenha desejado manifestar sua opinião com relação a um assunto, a uma situação constrangedora. Que se opine sobre o tema é o suficiente.

         

  5. Meritocracia…

    Ele reconheceu que, nos dias de hoje, de obsessão por publicações no ritmo do “publique ou pereça”, não teria tempo nem espaço para desenvolver a sua teoria…

    E afirmou que a pressão para os cientistas publicarem em revistas “de luxo” como estas (de alto impacto) encoraja-os a perseguirem campos científicos da moda em vez de optarem por trabalhos mais relevantes…

    A atual Normose acadêmica se deve à meritocracia produtivista implantada nas universidades… Estes sistemas têm transformado, nas últimas décadas, docentes e alunos em burocráticos produtores de artigos, afastando-os dos reais problemas da ciência e da sociedade, bem como da busca por conhecimentos e pensamentos realmente novos.

    Concordo plenamente com essa introdução onde critica-se o que chama de meritocracia produtivista. E não é de hoje que eu também falo haver “pesquisas da moda” que leva a muitas pesquisas inúteis. Isto é, não que a pesquisa da moda seja inútil, mas o fato de todos correrem pra ela faz com que a maioria produza coisas redundantes, portanto inúteis, quando poderiam ter a oportunidade de produzir coisas originais em campos fora da moda.

    E ao ler essa introdução já pretendia te parabenizar, inclusive pelo texto mais enxuto. Mas logo depois notei que sua intenção não é criticar a meritocracia produtivista especificamente, mas, novamente, voltar a carga contra a meritocracia. É seu direito ter essa opinião, assim como sou da opinião que o fato das regras de avaliação serem perversas (o número de artigos) não prova que é ruim a idéia de avaliações meritocráticas. Mas sem me estender vou apontar duas afirmações suas complicadas:

    Pessoas sob regimes de avaliação meritocráticos se tornam burocratas comportamentais;

    Entenda, isso é uma afirmação da sua cabeça, não é uma verdade. Isto é, eu sou uma pessoa [como muitas outras], sofro avaliações meritocráticas [como todo mundo, e não me refiro exclusivamente ao mundo acadêmico] e nem por isso eu, e todas as pessoas existentes, se tornam burocratas comportamentais.

    Mas agora me advém uma questão curiosa: por que tantos Nobéis tem denunciado este sistema? Creio que porque do alto da distinção recebida, eles já não tem mais nenhum compromisso com a meritocracia acadêmica, e podem falar do dano que ela causa às ideias realmente inovadoras que, inclusive, podem levar à láurea. Mas também porque o Nobel foge à lógica da meritocracia, ele não é um mecanismo meritocrático, portanto, não é burocrático.

    Pode ter certeza, ter um prêmio Nobel em mãos é um critério de avaliação meritocrática vinculada ao sujeito. Não abstraia esse aspecto na sua análise.

  6. A Academia hoje é um campo de

    A Academia hoje é um campo de concentração de luxo, onde o “pensamento único” conseguiu encurralar e isolar os seres pensantes  das nações. Fora dela, os midiáticos reinam.

  7. Desde o século XIX a ciência

    Desde o século XIX a ciência passou mais e mais a ocupar na sociedade o lugar que a religião tinha na Idade Média. O conformismo produtivo é premiado, mas não produz necessariamente inovações. Os rompimentos intelectuais considerados heréticos produzem avanços, mas podem ser punidos ou ignorados. E nem tudo que reluz como ciência deve ser considerado ouro científico. O neoliberalismo foi concebido a partir da “teoria dos jogos” de John Nash, matemático que ganhou o Prémio de Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel (não confundir com o Prémio Nobel), mas sua atuação prática se revelou extremamente nocivo à economia.

    Roma se expandiu e se sustentou por séculos em razão de concretizar um ideal civilizatório, mas declinou e morreu em razão de brutalizar bárbaros e escravos sendo substituída pela Igreja que pretendia realizar a obra divina na Terra igualando todos os filhos de Deus. O catolicismo político corrompeu a religião e a Igreja declinou sendo substituía pela ciência. E a própria ciência (econômica) declinou e foi sendo substituída pela imbecilidade do neoliberalismo baseado na “teoria dos jogos”.

    Neste exato momento o neoliberalismo declina sem poder ser substituído por algo novo porque os arautos da nova religião econômica (os jornalistas) lucram com um sistema que produz exclusão, desemprego, desespero e guerra permanente. Resumindo: os seres humanos parecem estar fadados a criar e sustentar impérios (políticos, teológicos ou científicos) com suas hierarquias que engessam a realidade, embotam a inteligência e são violentamente destruídos pelas contradições que tentam preservar.  

  8. NORMOSE – A SÍNDROME DA NORMALIDADE

        Acho que a normose é parente chegada da mediocridade… Sendo esta última nada tão absurdo assim, já que os “não medíocres” estão atentos para os que se atrevem a desejar e esforçar-se para sair da mediocridade, que é  onde devem estar conformados de estar a maioria dos mortais… 

  9. A crítica realmente procede.

    A crítica realmente procede. Agora, a produção não é o único sistema de avaliação de pesquisadores e programas de pós-graduação e fomento, como a meu ver tentou situar o articulista. Basta analisar documentos de área da CAPES e CNPq para notar isso (http://www.capes.gov.br). E ainda: associar diretamente o crescimento no volume de produção à diminuição da qualidade de artigos é algo questionável. Além do mais, não parece crível afirmar que a produção científica tenha transformado docentes e alunos em “burocráticos produtores de artigos, afastando-os dos reais problemas da ciência e da sociedade”. Pelo contrário, do contato com a realidade se tende a produzir bons papers. Tanto mais a universidade, por meio de cotas de bolsas de extensão, ao menos na Amazônia, onde posso situar minha fala, tem interagido com a sociedade de múltiplas maneiras e com conteúdos socioambientais amplos. O assunto é controverso, sim, mas não podemos demonizar um formato que é proposto, e não imposto. Congratulações ao articulista — que possui um visão abrangente, apesar de divergente da minha, sobre a temática. Grato pela exposição de pontos importantes da discussão.

  10. Concordo em uase tudo Renato.

    Concordo em uase tudo Renato. Só não dá para concordar com coisas como “irrelevância”. Definir irrelevância é complicado e pode conduzir à ideia de que existem pesquisas mais importantes do que outras.

    Um risco maior quando falamos em relevância ou não, se é estéril ou não, é que isso vai levar automaticamente à não repetição da pesquisa simplesmente porque pode parecer “irrelevante”. É preciso cuidado quando se fala em criatividade porque isso induz ao pensamento de que só porque um já teve a ideia ela não pode ser replicada.

    Você, Renato, está certo sobre a meritocracia burocrática, mas a não “criatividade” tem seu vies assustador quando faz da ciência não mais um porcesso de formação e destruição de degraus. Como acreditar em resultados cientificos sem um número considerável de replicações para sustenta-los? Paradoxalamente, essa necessidade de repetição pode ser vista como Normose,  como algo relacionado ao “produtivismo estéril”, mas na verdade é apenas o processo natural de comprovação científica.

    Assim, é preciso cuidado na ciência ao lançar expressões como ” ser mais criativo”, “não produzir ciência estéril”, “ser burocrático”. Tenho para mim se os editores de uma hora para outra passassem a requerer (como já aconetce) conhecimento não mundano, ou seja, com resultados impactantes, teremos de fato uma ciência estéril no sentido de não ter base sólida de sustentação gerada pela replicação.

    Isso é interessante. Desejamos nos livrar dos processos burocráticos da ciência (uma atividade eivada de estimulo a vaidade) para dar asas a criatividade, mas ao mesmo tempo queremos ciência com resultados sólidos. A carga contraditória aqui é tamanha.

     

     

  11. Excelente Texto

    “pesquisadores que buscam legitimação profissional podem com muita facilidade ser pressionados a aprender mais e mais sobre problemas cada vez mais desinteressantes e irrelevantes, ou a investigar mais e mais soluções que não funcionam”.

    Pressionado para que publique, publique e publique, o pesquisador acaba optando por chover no molhado, buscando aqueles temas chavões para que possa usá-los de forma a preencher ou atingir a “meta” de publicações exigidas, apresentando assim, projetos corriqueiros de problemáticas cujo as soluções serão sempre as mesmas.

    Busca-se quantidade ou qualidade?

  12. A Nêmesis da Normose

    A verdadeira Nêmesis da “normose” é a irrelevância da maior parte dessa produção “científica”. É espantoso que as Universidades sejam tão estúpidas e não tenham alternativas mais ricas e diversificadas de concorrer para o enriquecimento do conhecimento.

  13. Concordo 200% com o Renato.O

    Concordo 200% com o Renato.O caso de Einstein também é exemplar. Produziu e operou milagres fora do sistema universitario/academico. Se tivesse inserido nele, não teria ido tão longe. Nas universidades brasileiras a capacidade de criar é medida pela  capacidade de publicar. Aparentemente, quem mais publica é visto como grande cientista e pesquisador, mesmo que quase ninguem possa avaliar o teor, a pertinencia ou a qualidade do que foi publicado. Os  programas de mestrado e doutorado são verdadeiras fabricas de “artigos cientificos” em que a politicagem corre solta nos  conselhos editoriais. Publicam-se coisas que ninguem  lê, por que não tem a minima importancia. Tudo circula naquele mundinho pequeno, corporativo, restrito aos muros da universidade, ou aos encontros anuais dessa ou daquela área “cientifica”. É tanta vaidade e tanta disputa politica que dá vontade de nunca mais voltar …

  14. Sobre o já sabido…

    Como eu digo, quase toda a produção acadêmica atual poderia ter o seguinte sub-título: “pequenas considerações sobre o já sabido”…

  15. E se não publicar????

    Concordo em parte com o que foi colocado, mas as críticas se direcionam muito pesadamente para a necessidade de ineditismo e inovação, da descoberta. Mas temos que lembrar que um artigo serve também para cumprir etapas da pesquisa. Um pesquisador, a partir de uma análise do estado da arte sobre um problema, saberá quais caminhos NÃO seguir. É neste sentido que as publicações que não revelam ou descrevem o fenômeno são imensamente úteis para a ciência. Depois, o que adianta o pesquisador ficar 40 horas por semana na bancada e não comunicar aos seus pares de seus erros e acertos? Acho que existe muita gente honesta corroborando com o artigo do Renato, mas existe uma horda de preguiçosos na academia que se escudam de não produzir por se recusar a ser normótico.

  16. Concordo em parte

     Concordo em parte com o que foi colocado, mas as críticas se direcionam muito pesadamente para a necessidade de ineditismo e inovação, da descoberta. Mas temos que lembrar que um artigo serve também para cumprir etapas da pesquisa. Um pesquisador, a partir de uma análise do estado da arte sobre um problema, saberá quais caminhos NÃO seguir. É neste sentido que as publicações que não revelam ou descrevem o fenômeno são imensamente úteis para a ciência. Depois, o que adianta o pesquisador ficar 40 horas por semana na bancada e não comunicar aos seus pares de seus erros e acertos? Acho que existe muita gente honesta corroborando com o artigo do Renato, mas existe uma horda de preguiçosos na academia que se escudam de não produzir por se recusar a ser normótico.

     

  17. Normose – Raul Seixas
    Infelizmente essa foi uma forma equivocada de movimentar o setor acadêmico. Sempre me pergunto como um sistema de qualidade acadêmica pode existir se os próprios pesquisadores, muitas vezes interessados em manter seus financiamentos de pesquisa, elegem quais revistas devem ser publicadas e quais projetos serão aprovados. É óbvio para qualquer pessoa “maluco beleza” que se eu escolho o que vou comer, eu escolherei a comida que me interessa ou aquela que gosto mais. É a reunião da santa ceita do suposto conhecimento produtivo para distribuição do pão e do vinho.
    Por outro lado ainda constamos muitos docentes Doutores, formados muitas das vezes com recursos públicos no Brasil ou no Exterior, que devotam sua vida acadêmica em dar suas aulas e retornam para suas atividades particulares dentro ou fora da universidade sem realizar pesquisa ou orientação; certo ou errado? Não podemos esquecer que o país paga uma fortuna para formar de doutores para realização de pesquisa e orientação, pois do contrário bastaria ser mestre.
    Precisamos criticar para evoluir sem a arrogância de que sabemos o caminho certo. Se os pesquisadores docentes das universidades reconhecerem que precisam mudar suas atitudes dentro da universidade já será um avanço. Não sejamos míopes, a Normose citada no texto não surgiu de fora para dentro, mas dentro para fora da universidade. Acho que o Raul Seixas era pesquisador ..Maluco beleza..

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador