# madiba
Como sempre fiel cumpridora do seu papel, eis que a grande mídia global resolve tucanar Nelson Mandela, um dos últimos dos moicanos.
(E, a propósito, daqui 40 ou 50 anos, para quem derrubaremos lágrimas e faremos funerais grandiosamente merecedores? Há alguém neste caminho? Ou esta minha solúvel e instantânea geração de facebooks, big brothers e mmas não será capaz de lamentar a morte de pessoas que significativamente mudaram o mundo?)
Bem, o que as donas da informação insistem em esconder é que o grande Mandela não foi este vovozinho de túnica branca e gestos papais que cavalgou África afora montado num pequeno pônei portando uma mensagem apolítica de axé.
Não!
Nelson Mandela só é Nelson Mandela porque foi um revolucionário, porque foi político, porque fez política!
Mandela enfrentou os poderosos e racistas nativos e confrontou os ricos donos do poder.
Mandela foi para a linha de frente contra os interesses das grandes potências brancas (e negras) que faziam vistas grossas ao apartheid sul-africano.
Mandela não admitia uma África pobre, desigual, separatista, antidemocrática, controlada por poucas famílias e sob o jugo europeu.
Mandela combateu o podre poder local, combateu os EUA e a intervenção cotidiana da CIA e foi preso, assim ficando durante 27 anos.
E foi por estas e outras que por décadas o seu nome foi proibido nos jornalões do mundo e que a sua figura era non grata nas grandes sociedades. Margaret Thatcher, por exemplo, considerava-o terrorista, comunista e comedor de criancinhas.
Antes da prisão, na clandestinidade, foi o grande líder e mentor do Congresso Nacional Africano (CNA), partido que reunia um grupo cada vez maior e mais competente de militantes com vistas a acabar com o racismo, a segregação sócio-racial e as injustiças de um país negro sob as rédeas de suseranos brancos.
E neste período todo de lutas e com Mandela já encarcerado, foi Cuba um dos poucos países do mundo que sempre esteve ao seu lado e ao lado do seu povo. Não apenas na retórica, Cuba por inúmeras vezes prontificou-se a se juntar aos revolucionários sul-africanos na guerra contra a opressão e o apartheid, tal qual fez, com sucesso, na batalha pela independência da vizinha Angola (v. aqui).
Mandela, assim, sempre teve Fidel e Cuba como seus parceiros históricos, deles recebendo total e incondicional apoio, com altruísmo e solidarismo ímpares – e todo esse heroísmo internacional mereceu, mais uma vez, a eterna gratidão do povo sul-africano.
Hoje, neste capítulo final da vida de Mandela, não por acaso o presidente cubano Raul Castro foi convidado a ser um dos cinco oradores no funeral do líder máximo do continente negro, ao lado de Dilma (o Brasil é o maior parceiro da África e o maior país negro não-africano), de Obama (que lá estava por razões de simbolismo racial) e dos chefes de Estado indiano e chinês.
E a mídia, claro, continua a insistir com borboletas e baobás, com adornos de carneirinhos em nuvens brancas e com a imagem de um Mandela alvejado, doce e fofo.
Embora sin perder la ternura jamás, o herói universal Nelson Mandela nunca quis ser Madre Tereza de Calcutá.
E nem poderia.
Ave, Madiba! Nkosi sikelel’ iAfrika!
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