Além da gafe do liquidificador, Onyx usa argumentos insustentáveis para defender armas

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Agência Brasil
 
Jornal GGN – No mesmo dia em que Jair Bolsonaro assinou o decreto que altera o Estatuto do Desarmamento para facilitar a posse de armas em todos os estados do País, Onyx Lorenzoni deu uma entrevista na GloboNews defendendo a medida. Para isso, despejou uma série de argumentos insustentáveis.
 
A entrevista e outras declarações de Onyx deixam claro que o governo Bolsonaro não se importa em manipular ou ignorar dados e estudos quando quer fazer valer seu ponto de vista.
 
O argumento mais fácil de ser desarmado é o de que o brasileiro quer a facilitação da posse de arma.
 
Segundo Onyx, em 2005, 64% da média nacional e 82% da população do Rio Grande do Sul votaram no referendo para “manter o direito à legítima defesa”.
 
Mas isso nunca esteve em xeque naquele referendo. A pergunta no referendo foi: “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?”
 
A maioria respondeu que não, e a comercialização foi mantida de acordo com as regras estipuladas pelo Estatuto do Desarmamento, que estava em vigor desde 2003.
 
O Datafolha publicou no mesmo dia do decreto de Bolsonaro os resultados da pesquisa mais recente sobre o assunto. E 61% dos entrevistadores responderam que não concordam com a “facilitação da posse de armas”, na contramão do que acredita o atual governo.
 
Outro dado lançado por Onyx foi o de que até 9 milhões de famílias brasileiras têm uma arma em situação irregular em casa. Segundo apuração da Agência Lupa, não existe estudo sobre isso. Em 2010, o Ministério da Justiça informou que 7,6 milhões de armas eram irregulares no Brasil. O número representava metade das armas no País. Mas não é possível dizer quantas famílias tinham a posse de pelo menos uma.
 
O Instituto Sou da Paz alertou também que o governo Bolsonaro usou dados de segurança pública apenas de 2016 para analisar quais estados seriam alcançados pelo decreto. O ano não foi escolhido à toa: naquele ano, todos os estados brasileiros atendiam ao critério de mais de 10 homicídios a cada 100 mil habitantes.
 
Outra ideia falsa propagada por Onyx é a de que mais armas erquivale a menos morte. Em 2013, quando o Estatuto do Desarmamento fez 10 anos, o Ipea divulgou um estudo que mostra o contrário: os locais que mais se livraram de armas são os que tem as maiores quedas nas taxas de homicídio.
 
Não suficiente, Onyx ainda disparou na GloboNews que a Declaração Universal dos Direitos Humanos garante a possibilidade de matar alguém para proteger uma vida. Confundiu, provavelmente, com o Código Penal brasileiro, que prevê que não há crime quando o homicídio se deu por auto-defesa. A Declaração da ONU não fala sobre isso.
 
LIQUIDIFICADOR
 
A cereja do bolo da argumentação capenga de Onyx foi a comparação entre uma arma de fogo e um liquidificador. Na visão do ministro, os dois artefatos expõem as crianças à risco – mas nem por isso alguém pensou em proibir liquidificador.
 
“A gente vê criança pequena botar o dedo dentro do liquidificador e ligar o liquidificador e perder o dedinho. Então, nós vamos proibir os liquidificadores? Não. É uma questão de educação, é uma questão de orientação.”
 
Segundo Onyx, para proteger as crianças, o governo Bolsonaro colocou no decreto a exigência de cofre ou local com tranca em casa, para armazenar a arma.
 
Mas é com pudor zero que Onyx admitiu aos jornalistas que a Polícia Federal não vai fiscalizar a existência do cofre nem exigir comprovação. O governo se dispôs a acreditar na boa fé do requerente. Basta declarar que tem o cofre em casa, mesmo que não tenha.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

9 Comentários

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  1. Num acidente com liquidificador, vai-se um dedo, fica a vida

    Num acidente com arma de fogo, vão-se os dedos, os anéis e a vida.

     

    Entre perder um dedo ou a vida, a Madalena Arrependida do $érgio Moro, isto é, o Onyx prefere perder o dedo ou a vida?

  2. MUITA choradeira por nada

    Atenção, o texto abaixo foi submetido a CENSURA prévia, como na ditadura

    AQUI, parece-nos, adulto não é responsável por seus atos, e só quem teria bom senso seria o dono do pedaço

    “Não faça aos outros o que não queres que façam a ti” (disse um certo barbudo  ..crucificado)

    ..vamos ao texto  ..se a censura deixar

     

    TEM muito “especialista” falando BOBAGEM   ..especialista minhas bolas

    Vocês estão fazendo o jogo que o cara quer ..Os BOZONAUTAS querem ficar em evidência por suas amenidades ..estes psicopatas são como cáries, só se contentam qdo estão na boca do POVO, de preferência em polêmica

    O DECRETO NÃO FALA DE PORTE (na rua), mas de posse de arma (EM CASA)

    Ademais, pouco foi mudado do que já existe ..continuam os 25 anos ..o exame psicotécnico ..MUDOU a autorização da PF e a necessidade dum cofre pra casos especiais (sendo que o camarada tem que se responsabilizar por carta) ..e o doc que agora valerá por 10 anos (fora a qdade pra cada lar)

    Então, blogosfera, explorar este tema MENOR, já deu ..GRAVE MESMO foi o que aconteceu com os sindicatos, com as leis do Trabalho, o que se promete pra pré sal, estatais, previdência e retirada de direitos sociais ..gravíssimo é o que fizeram e farão com nossos direitos CIVIS, de greve, protesto, e a justiça, com LULA DA SILVA

    INFELIZMENTE os números de homicídios não tendem a diminuir (nem aumentar) ..aqui já se mata com pá, enxada, garrafa, faca, até a dentada ou com vaso sanitário ..nossas policiais, ao invés de protegerem e investigarem continuarão a executar os civis pobres e negros ..a justiça continuará com 2 recessos por ano e os juízes saindo pra fazer cursos e sentar nos processos a todo momento ..os presídios SUPERLOTADOS continuarão a ser escolas de aperfeiçoamento e de alistamento forçado do crime organizado ..as fronteiras e roubo de carga continuarão a dar lucro pra muita autoridade ..e as drogas e DESCAMINHOS dos jovens – pela falta e perspectivas – ainda vigorarão como uma praga

    O RESTO, pelamordedeus, é CHORADEIRA ..chega !!!!!!!!!

     

  3. Nunca esqueci o que me
    Nunca esqueci o que me disseram e é verdade: em todo ato político, os políticos sempre ganham algo. E só Deus sabe o quê é.

  4. Taí a solução onyxniana.

    Vamo liberar a posse de quatro liquidificadores por cidadão adulto, bem como o seu porte público. 

    Já repararam que o chefe da casa civil tem uma cara de copo de liquidificador? Até o miolo é vazio.

  5. Chuverada
    A posse de liquidificadores é assunto polêmico entre diversos espectros politicos e visões de mundo, sejam os primeiros de direita ou esquerda e os segundos reacionários ou progressistas.

    O que não deveria ser polêmica é o fato de que tal decreto é eivado de ilegalidade, ao permitir a alteração de uma lei por intermédio de um decreto. O combate a isso deveria, portanto, ser um consenso.

    O que também não deveria ser polêmica é o fato, observado por muitos, de que os argumentos utilizados pelo Bozo/Moro para justificar tal decreto não possuem qualquer amparo epistemológico, de acordo com diversos estudos estatísticos realizados sobre o assunto.

    Portanto, o senhor Onyx Lorenzoni faria melhor em cuidar dos chuveiros governamentais que não estão funcionando, haja visto o excesso de cascatas empregadas para dissimular o jogo sujo.

  6. Por que a implicância com os

    Por que a implicância com os coitados dos liquidificadores? Serão por ventura bolivarianos ou comunistas? E não vai nada contra as geladeiras, entes frios que só trabalham em silêncio? 

    Se perguntassem há dez como estaria o Brasil agora, NINGUÉM, absolutamente NINGUÉM, seria capa de projetar para o país um conjuntura tão inusitada como essa. Uma mistura de surreal com grotesco adoçada por colheradas de absurdos. 

    Um país em frangalhos em termos de oferta e manutenção de serviços públicos eficientes; economia estagnada com milhões de sempregados; enfim, problemas de toda ordem, inclusive na área de segurança pública, aí o “sábio” povo elege uma proposta de governo absurdamente desprositada e já fracassa a priori. 

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