Algumas reflexões sobre a eleição no Brasil, por Franklin Frederick

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Algumas reflexões sobre a eleição no Brasil

por Franklin Frederick

«Estamos todos sós, no coração da terra, transpassados por um raio de sol: e é de improviso noite.» – Salvatore Quasimodo

«O recado que trazem é de amigos,
Mas debaixo o veneno vem coberto;
Que os pensamentos eram de inimigos,
Segundo foi o engano descoberto.
Ó grandes e gravíssimos perigos!
Ó caminho de vida nunca certo: 
Que aonde a gente põe sua esperança,
Tenha a vida tão pouca segurança!»

Luis Vaz de Camões, comentário sobre o candidato Jair Bolsonaro –

(Os Lusíadas, Canto I, estrofes 105/106)

 

Ao invés de um Presidente da República, o Brasil acaba de eleger um administrador colonial. E como em toda administração colonial, as tarefas do Governo Bolsonaro serão simples:

  1. Supervisionar a transferêrencia, através de privatizações, das riquezas nacionais – recursos naturais como petróleo, minérios, água, etc. – e de  bens públicos – empresas públicas – para a metrópole, no caso o capital financeiro internacional e as grandes corporações privadas.

  2. Garantir a «segurança» na colônia para os interesses da metrópole – o mesmo capital financeiro internacional e as mesmas corporações privadas. Na prática isto significa, por um lado, a criminalização e a perseguição de movimentos sociais e de qualquer tentativa de defesa dos bens públicos e de propriedade pública dos recursos naturais; por outro lado, a imposição, através de fake news e narrativas fake, de um discurso totalitário que legitime esta política econômica de submissão à metrópole, atacando como «socialismo», «comunismo» ou «bolivarianismo» qualquer proposta ou visão econômica alternativa. Não será tolerada nenhuma resistência ou questionamento das privatizações e do controle da esfera pública por interesses privados.

  1. Garantir a supremacia dos direitos da metrópole sobre os direitos – sociais e coletivos – dos cidadãos e instituições da colônia, com a consequente erosão dos direitos humanos, trabalhistas, de leis e instrumentos de proteção ambiental; em resumo, de qualquer obstáculo à expansão predatória do capital.

Dito de outra maneira: o Governo Bolsonaro representa a imposição do novo colonialismo da ordem neoliberal no Brasil. Em Washington, capital internacional do neoliberalismo, deve-se ter festejado muito o resultado destas eleições. Imagino a euforia em Wall Street e a gana com que vão dilacerar o Brasil… Não foi a troco de nada o apoio e os conselhos de Steve Bannon, um dos grandes estrategistas da ordem neoliberal, à campanha de Bolsonaro.

E o fato de o candidato Jair Bolsonaro ter obtido, segundo as pesquisas, muitos votos entre os eleitores com formação universitária, apenas confirmou a minha antiga  convicção de que certos níveis de estupidez só se alcança depois de muito estudo. Não é fácil.

Mas confesso que é duro, muito duro, assistir impotente a esta combinação de mediocridade, vulgaridade e estupidez tomar o país e ser festejada.

A nós, que temos os olhos abertos e que procuramos manter nossa humanidade intacta e nosso espírito desperto, cabe agora a difícil tarefa de seguir em frente e continuar a resistência. Como nos versos do poeta italiano e anti-fascista Salvatore Quasimodo que coloquei na epígrafe a este texto, somos os portadores deste raio de sol que deve se manter brilhando na noite que, de repente, caiu sobre o país. Nossa responsabilidade é ainda maior agora e o espírito deve seguir atento.Busco refúgio e forças na poesia. Lembro-me dos versos de Jorge de Lima, no final de «Invenção de Orfeu»:

               « No momento de crer

                       criando

                    Contra as forças da morte,

                        a fé.

                  No momento de prece,

                      orando

                pela fé que perderam

                     os outros.»

Estamos neste momento de luta contra as forças da morte. Há que seguir. Muito do futuro depende de nós.     

 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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