Ato no Rio avança na criação de uma frente ampla pela democracia

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Público no Circo Voador anunciava em coro “vai avançar a unidade popular”; Mãe e irmã da vereadora Marielle também estiveram presentes. / Ricardo Stuckert

Público no Circo Voador anunciava em coro “vai avançar a unidade popular”; Mãe e irmã da vereadora Marielle também estiveram presentes. - Créditos: Ricardo Stuckert

do Brasil de Fato

Ato no Rio avança na criação de uma frente ampla pela democracia

Lula, Freixo, Boulos e Manuela D’Ávila estavam ao lado de Chico Buarque para impedir os retrocessos contra a democracia

Vinicius Mansur

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ)

Na noite desta segunda-feira (2) partidos de esquerda, como PT, PCdoB, PSOL, PSB, PDT e PCO, realizaram uma ato pela democracia e contra o fascismo no Circo Voador, na cidade do Rio de Janeiro. Impactados pela execução da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e dos tiros disparados contra a caravana do ex-presidente Lula, os representantes partidários deixaram de lado o debate sobre alianças eleitorais e defenderam o fortalecimento de uma frente contra o governo de Michel Temer (MDB) e suas medidas que retiram direitos sociais, contra ascensão das ações fascistas no Brasil e pela liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de seu direito de concorrer às eleições.

Enquanto o público anunciava em coro “vai avançar a unidade popular”, Lula, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) e a deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB) compuseram, ao lado de Chico Buarque, o centro do palco que, mais tarde, seria ocupado também pela mãe, Marinete da Silva, e irmã, Anielle Silva, da vereadora Marielle Franco.

A pré-candidata do PCdoB à presidência, Manuela D’Ávila, defendeu a formação de uma frente para impedir o processo de redução das liberdades que vem se acentuando no Brasil desde o impeachment de Dilma Rousseff, dando cada vez mais espaço para o fascismo.

“Marielle morreu porque se organizava e lutava contra esse fascismo. A nossa liberdade de organização é ameaçada. A liberdade de Lula circular e fazer sua caravana é ameaçada com tiros. O fascismo se expressa no Brasil buscando acabar com a nossa liberdade de sermos uma grande nação. A liberdade de sermos um país independente porque entregam as nossas riquezas, como é o caso do pré-sal”, disse.

Marcelo Freixo salientou que a morte de Marielle, assim como os tiros dados contra a caravana de Lula, ultrapassaram a fronteira que separa a democracia da barbárie. Para Freixo, a união neste momento é sinônimo de maturidade e uma atitude fundamental para impedir que a barbárie dispute uma eleição como se fosse uma alternativa normal.

“Estamos aqui porque não vamos precisar ter mais corpos para contar para estar junto no mesmo lugar. A gente as vezes demora pra aprender. O tema da democracia está acima de qualquer diferença que a gente tenha. E eu não estou aqui pra dizer que a gente não tenha diferença, claro que a gente tem diferença, mas sabendo que a nossa diferença, Tarcísio, seja qual for a diferença, ela é menor do que a luta de classes”, afirmou.

Já Lula afirmou que não foi ao ato para defender sua candidatura, mas sim a sua inocência. O ex-presidente disse ainda ser uma bobagem seus adversários acharem que tirá-lo do jogo eleitoral resolverá qualquer problema, pois seus pensamentos e sonhos continuarão presentes através de outros companheiros. Da mesma forma, o petista dirigiu-se à mãe de Marielle e disse que seu legado seguirá vivo.

“Eu quero agradecer de coração e dizer para a mãe da Marielle, naquele dia que eu conversei com você. Eu, depois, estava num ato público e eu falei: sabe qual é a bobagem dos caras que praticam violência? É que eles pensam que matando a carne eles acabam com a pessoa, mas eles não acabam com os sonhos, eles não acabam com as ideias”, colocou.

Lula classificou como um “luxo” o país poder ter jovens e diferentes candidatos à presidência como Manuela D`Ávila e Guilherme Boulos. Ele afirmou que a democracia “não é uma seita que todo mundo tem que falar a mesma língua, rezar o mesmo terço ou ler o mesmo livro”. Mas, alertou os candidatos para se preparem para uma longa luta.

“Se preparem porque a luta é longa, mas ela vale a pena. Por isso, companheiros, muito obrigado pelo gesto de todos vocês de virem a esse ato aqui. E eu espero que ele seja o primeiro de uma dezena, dezenas de atos, para que a gente possa consolidar a democracia. Não pensem que a luta é fácil. Lembrem da campanha das Diretas. A gente colocou muita gente nas ruas, mas fomos para o Congresso Nacional e fomos derrotados. Não tem problema que a gente perca uma luta, o importante é que a gente não perca a disposição de continuar lutando”, concluiu.

Edição: Luiz Felipe Albuquerque

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

8 Comentários

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  1. Na atual conjuntura a esquerda deveria ter uma única candidatura

    Na atual conjuntura a esquerda deveria ter uma única candidatura para vencer as eleições no 1º turno e afastar riscos de fraude eleitoral. Essa história de unidade com cinco candidatura é uma contradição!

    1. Barreira

      Oi Wilton,

      O problema acho que é a cláusula de barreira, que os partidos menores precisam cumprir, em diversos Estados e em quantidade de votos e eleitos. Não vejo problema nisso.

      1. Para essas eleições ainda valerá a regra das coligações. Ou seja

        Para essas eleições ainda valerá a regra das coligações (regra que será abolida em 2020). Essa regra faz com que se votam em coligações e não em partidos. Isso significa que aquelas coligações que tiverem mais partidos terão mais vantagens. Foi justamente essa regra que fez com que o PT não elegesse ninguém em Perambuco, mesmo o partido tendo o terceiro maior número de votos para deputado federal.

        Quem mais se beneficia com as coligações são justamente os partidos menores. Segundo estudo da Câmara, se as coligações não tivessem em vigor nas eleições de 2014 o PCdoB elegeria apenas 5 deputados ao invés de 10 (página 8). Ou seja, se fosse possível montar coligações amplas de esquerda quem mais se beneficiaria seria justamente os partidos menores como o PSOL e o PCdoB.

        fonte:

        http://www2.camara.leg.br/a-camara/documentos-e-pesquisa/estudos-e-notas-tecnicas/areas-da-conle/tema3/2015_4990_simulacao-das-bancadas-atuais-da-cd-fim-das-coligacoes-_raphael-carvalho

    2. Só me esclarece uma dúvida:
      Só me esclarece uma dúvida: faz parte de seu conceito de esquerda, Ciro e o PDT, partido que apoiou o golpe, além da PEC do teto dos gastos em saúde e educação ?

      1. Não Necessariamente, mas o Ciro tem um discurso ambíguo. No enta

        Não necessariamente, mas o Ciro tem um discurso ambíguo. No entanto muitas das suas pautas são de esquerda como a questão relacionada ao neodesenvolvimentismo, que critica a hegemonia rentista das políticas da equipe econômica dos governos petista, o papel das empresas estatais como indutoras do desenvolvimento social, o referendo revogatório, dentre outros fatores. Na questão econômica ele possui traços de centro esquerda sim.

        Além disso, muitos quadros importantes da esquerda estão em partidos como PSB como o governador da Paraíba Ricardo Coutinho, e no Amapá o Senador João Capiberíbe. Isso sem falar do Roberto Requião no PMDB. O Fato é que a chamada centro esquerda está pulverizada em muitos partidos. O ideal seria que as principais lideranças de esquerda estivessem reunidas em legendas homogêneas com discursos coerentes com suas bandeiras.

        Não faz sentido, por exemplo, o PT e o PCdoB apresentarem candidaturas separadas.

         

  2. Bonito ato

    Assisti pela internet.

    O Ciro nem apareceu e depois reclama para liderar a frente …..

    A esquerda está adquirindo maturidade e, se seguir assim, até o PSol vai parar de ser a esquerda carnavalesca que a direita gosta e logo começarão a ter respeito por este partido como opção real de governo, mesmo de uma ciade, logo de um Estado e etc..

    Além da defesa do Lula candidato e da sua inocência há um programa básico e comum de governo e a proposta é de encher o congresso de parlamentares progressistas. A conferir.

  3. Divisão Global do país

    A Globo já cuida de dividir mais uma vez o país divulgando no Globo.com que amanhã os espaços serão divididos os contra Lula e os favoráveis a Lula. Inacreditável.

  4. UNIDADE COM DIVERSIDADE

    Erro lapidar na história da esquerda foi tentar abafar as divergências no campo da esquerda a um partido ou corrente majoritária, em detrimento das minoritárias. Tanto em contextos em que a esquerda ( seja qual for a sua vertente) tomou o poder de Estado, como em contextos mais prosaicos como num sindicato.

    Os sovietes,por sua estrutura radical e diretamente democrática, foram no início a base da democracia socialista, com direitos de voz, voto e representação de todas as correntes. Lamentavelmente, as correntes de viés  autoritário tem se imposto ao longo da História às correntes de caráter libertário na esquerda mundial. Com os sovietes, infelizmente não foi diferente.

    Mas eis que estamos diante de uma nova oportunidade. Ainda que embrionária.

    O ato foi muito importante e deve avançar em futuro breve tanto em termos de público, como de agendas em comum.

    Mas precisa ser ampliado com a participação de mais e mais correntes, até chegarmos ao ponto dos comícios eleitorais serem também unificados.

    Num mesmo ato falariam todos os candidatos da esquerda, centro-esquerda, nacional-populares e progressistas. A presença do povo certamente seria maciça e se consolidaria uma tremenda força da resistência ao fascismo.

    Ao mesmo tempo, estaríamos democraticamente ouvindo todos os candidatos, avaliando melhor as divergências e aplainando o caminho para apoio ao candidato que passar ao segundo turno, ou criar as condições, (já que a História é dinâmica e recria rapidamente diferentes contextos – Lenin, entre outros líderes da esquerda, não muitos aliás, sabia identificar rapidamente estas alterações) para uma candidatura única já no primeiro turno, desde que haja evidentemente um programa com pontos em comum, também democraticamente discutidos.

    Seja como for é encessário preservar a diversidade dentro da unidade.

    Democracia Socialista e Libertária já!  Rumo aos novos sovietes! 

     

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