Bispo de São Paulo sugere levante popular contra Reforma da Previdência

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Divulgação

Jornal GGN – O bispo diocesano Dom Reginaldo Andrietta, de Jales, em São Paulo, defendeu uma mobilização da sociedade contra a reforma da Previdência, da qual caracterizou como “ameaça a vida de milhões de brasileiros, de modo especial os socialmente vulneráveis”. “Que tal, então, levantarmo-nos em respeito às pessoas idosas de hoje e de amanhã? Que seja um ‘levante popular’, evidentemente pacífico”, sugeriu. 

“Que tal, por exemplo, distribuirmos ostensivamente, “santinhos” com nomes, fotos e partidos políticos dos legisladores que votarem a favor dessa reforma da previdência, denunciando-os em seus “currais eleitorais”?”, questionou, em mobilização. Leia a convocação do Bispo:

Proteção social sem lógica mercantil

Por Dom Reginaldo Andrietta
Bispo Diocesano de Jales

O projeto de Reforma da Previdência Social será votado na Câmara dos Deputados tão logo se concluam as negociações do executivo com o legislativo, na forma de “compra de votos” por meio de cargos e emendas parlamentares. Este projeto reduz direitos constitucionais e ameaça a vida de milhões de brasileiros, de modo especial os socialmente vulneráveis.

A Constituição de 1988, ainda em vigor, assegurou um sistema avançado de proteção social, conquistado a duras penas pela classe trabalhadora no bojo das lutas pela redemocratização do Brasil. A classe dominante jamais aceitou esse e outros avanços que, em última instância, apenas asseguram as bases para a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática e justa.

O congelamento por 20 anos dos gastos com programas sociais e a recente reforma trabalhista ferem gravemente nossa “Constituição Cidadã”. Agora, a Proposta de Emenda Constitucional 287, que reforma a Previdência Social, se for aprovada, dificultará o acesso à aposentadoria de milhões de trabalhadores, especialmente rurais, reduzirá drasticamente o acesso ao Benefício de Prestação Continuada, que é o benefício assistencial ao idoso e à pessoa com deficiência, e cortará pela metade as pensões de viúvas e viúvos.

Os argumentos utilizados para essa reforma previdenciária são enganadores. O déficit alegado é falso. Essa constatação foi feita pela própria Comissão Parlamentar de Inquérito, constatando que a Previdência Social é, na realidade superavitária. Causa espanto um dos argumentos utilizados pelo Presidente da República para essa reforma, que o brasileiro daqui a pouco viverá 140 anos.

Nossa Lei Magna está sendo, assim, mutilada. Em consequência, os pobres, já crucificados, estão sendo ainda mais sacrificados com o desmonte descarado do sistema de proteção social. Instaura-se a barbárie. Perde-se a civilidade. O governo de plantão quer que o Estado adote a política de Pilatos. Este “lavou as mãos” na condenação de Jesus. Trata-se da política do “Estado Mínimo” que se exime de sua responsabilidade de proteger sobretudo os mais desvalidos.

O grau de respeito à dignidade humana de uma nação deve ser também medido por seu sistema de proteção social. A Doutrina Social da Igreja é clara na definição do papel do Estado de salvaguardar os direitos sobretudo dos mais pobres, garantindo, por exemplo, acesso a um sistema de proteção social que não esteja submetido à lógica mercantil. Afinal, proteção social deve ser comprada?

Um sinal muito particular de respeito humano é a proteção às pessoas idosas, a ser garantida, especialmente, por uma aposentadoria justa. Clamam aos céus o desprezo sofrido por elas. O Salmo 79,1 traduz, sabiamente, o clamor do idoso: “Não me rejeites na minha velhice; não me desampares quando forem acabando as minhas forças”. O livro de Levítico 19,32 exorta: “Levante-se diante de uma pessoa de cabelos brancos e honre o ancião…! ”

Que tal, então, levantarmo-nos em respeito às pessoas idosas de hoje e de amanhã? Que seja um “levante popular”, evidentemente pacífico. Que tal, por exemplo, distribuirmos ostensivamente, “santinhos” com nomes, fotos e partidos políticos dos legisladores que votarem a favor dessa reforma da previdência, denunciando-os em seus “currais eleitorais”? David venceu Golias com uma simples funda. A força dos fracos está nas ações simples e contundentes.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. Levante popular

    Saudo e aplaudo a coragem do Bispo Dom Reginaldo Andrieta, se todos os intelectuais, artistas e  formadores

    de opinião deste pais que tem acesso de alguma forma a midia tivessem a mesma coragem do Bispo Dom Reginaldo Andrieta,

    certamente estariamos em outro patamar

    Senhores temos que gritar de forma veemente e clara que somos contra todos estes desmandos e entreguismo deste

    governo corrupto e seus asseclas senadores e deputados. Temos que acreditar de verdade que ” o poder emana do povo ” que 

    não podemos ficar a merce ou acreditar em um salvador da pátria.  

    Pasmem que a proposta de um levante popular pacifico vem de um religioso, onde estão aqueles que se declaram ESQUERDA

    neste pais. Senhores Deputados e Senadores de ESQUERDA , intelectuais, artistas e jornalistas vamos sair dos gabinetes

    nossos escritórios encarar e convocar o povo a se levantar.

     

    Rubem Avila

  2. Acho que infelizmente este

    Acho que infelizmente este bispo não é nem de longe a voz da maioria do bispado brasileiro. O mesmo bispado que tem se calado constantemente  em momentos de trevas como o de agora. Como católico, queria ver este levante. Ver o povo ir às ruas e demonstrar pelo menos um pouco de indigançao em relação as safadezas que estão acontecendo toda hora neste país. Queria ver o povo gritando não somente fora temer, mas também  fora moro, fora lavajato, fora stf, fora gilmar fora globo… Mas isso dificilmente vai acontecer pelo simples fato de que, como o brasil é uma concessão da globo e não o contrário, ela não deixa. E não deixa porque teme que o levante da igreja possa se encontrar com uma caravana do Lula e o povo ungi-lo presidente mesmo sem eleliçao.

    1. Clero

      A prática confirma o que você disse nas duas primeiras frases. Minha impressão é  de que as notas oficiais da CNBB têm sido pró-forma, pois quase nenhuma diocese as repercute. Paróquias, então. Vejo declarações de sacerdotes nas homilias batendo na surrada tecla da corrupção política (só ela) que, como fica evidente para quem presta atenção à nossa conjuntura, é manobra diversionista da casa grande (mercado, como queira). Manobra para desviar os olhares, inclusive da Igreja, do maior escândalo.  O da concentração imoral das riquezas, inclusive a promovida pelo Estado (vide SELIC por exemplo), e o aumento galopante da miséria. 

  3. bispo dom Reginaldo.

    Aplaudo a atitude do bispo de Jales, assim como de tantos outros bispos da igreja católica que têm se pronunciado ao longo do ano.

    Acho sua idéia muito boa – vamos pacificamente fazer uma revolução distribuindo os “santinhos” Brasil afora, denunciando os deputados e senadores que estão fazendo do Congresso um balcão de negócios.

    Assim, eles não voltarão, com a graça de Deus.

    E contribuirei com muito gosto para a confecção dos tais  santinhos tão logo isso seja colocado na rede pra conhecimento de todos.

    Q Deus o abençõe, dom Reginaldo.

  4. Enquanto Dom Andrieta tem uma visão

    Enquanto Dom Andrieta tem uma visão humanística dos problemas da reforma da previdência, recomendando que todos os deputados que votarem a favor dessa  reforma maldita tenham seus nomes divulgados em “santinhos”, o cardeal da cidade de São Paulo, o “papável” Don Odilo Scherer aparece ao lado do prefeito João Dória dando aval ao projeto maluco e desumano daquele político de fornecer ração (ração humana) aos pobres daquela cidade.

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