Bolsonaro: o coringa dos “cidadãos de bem” revoltados.

Em pesquisa divulgada há um mês, a extrema-direita, representado por Jair Bolsonaro, do (Partido Social Cristão), atinge 11,3% das intenções de voto, tendo Lula à frente da pesquisa. 

Bolsonaro, que sempre foi uma piada na política brasileira, atinge um patamar relativamente alto de intenções de voto para um político com o seu perfil, no nosso contexto político conturbado.
O que explica que ele tenha atingido esse percentual? Seria pretensão minha dizer “eu sei” os motivos. Não sei ao certo, mas tenho algumas sugestões:
1º – Contexto internacional: a extrema-direita e todo o seu discurso racista, xenófobo, nacionalista, conservador, etc. tem se fortalecido pelo mundo e em tempos de crise, ideias mais extremas tendem a se fortalecer. Então, o que acontece no Brasil, é relacionado ao contexto externo.
2º – Decepção com a esquerda no Brasil: o PT, principal partido de esquerda do Brasil, ao chegar ao governo federal, se aliou aos partidos de direita (PMDB, PR,PTB,PSD, etc…) e se envolveu em casos de corrupção. Dando a impressão que “os políticos são todos iguais” e que “direita e esquerda é tudo a mesma coisa”. E Bolsonaro se aproveita da oposição aos políticos e se apresenta como “não-político”, fórmula recente de sucesso. Veja o Dória em São Paulo, um milionário que resolve “entrar pra política” e se elege com facilidade. 
3º – Massacre midiático à esquerda – Há estudos sérios e diversos “flagrantes” que mostram o quanto a mídia tradicional tem induzido a população a odiar a esquerda através da divulgação sistemática de notícias ruins sobre o PT e ocultação ou minimização de notícias ruins da direita, o que provoca o ódio ao PT e facilita o trabalho daqueles com discurso mais raivoso contra esse partido, e Bolsonaro é um dos que tem discurso mais firmes contra o PT. Então, o contexto midiático também lhe é extremamente favorável. 
4- A reação conservadora aos movimentos feminista e LGBT, liderado principalmente por grupos protestantes organizados politicamente, na figura de líderes como Samuel Malafaia e outras importantes igrejas protestantes, que tem um enorme poder de convencimento da população, em especial a mais pobre, que acusam esses movimentos de “destruir a família tradicional”.
O discurso conservador, divulgado por essas igrejas, ajuda também a criar um terreno fértil ao crescimento de políticos que se apresentam como representantes da “família tradicional” e dos “cidadãos de bem”.
No entanto, considero que tem um fator de extrema importância pouco citado, que são as características propriamente facistas de Bolsonaro, como o discurso simples, repetitivo, duro, defensor da ordem, da moral e bons costumes, militarista, machista, etc.
O discurso simples e repetitivo, se torna compreensível àquela importante parcela da população incapaz e compreender um discurso mais elaborado, ponderado, profundo. Sabe aquela pessoa que você faz toda uma argumentação e ela só escreve “Bolsonaro 2018!”, “Bolsomito” ou responde com um “meme” pronto que ele guarda na área de trabalho do seu computador? Estou falando deles. Eles são incapazes de argumentar com profundidade e Bolsonaro “cai como uma luva” para eles.
Ser militar (capitão do exército) ajuda muito, pois essa profissão tem uma ótima imagem perante a maioria da população, de seriedade, ordem, honestidade, etc. num contexto de crise econômica e de graves escândalos de corrupção, alguém que se apresente como honesto e que vai “por as coisas em ordem”, sendo um militar, tem grandes chances de ganhar simpatias dos “defensores da ordem”.
E, uma das coisas que mais tem me impressionado é que um dos principais motivos do voto em Bolsonaro é uma reação negativa aos movimentos feminista e LGBT. Os que acham que as feministas estão destruindo a família, espalhando a “sem-vergonhice”, são “abortistas”, etc. e que o movimento LGBT quer que “todo mundo vire viado”, “que ensine a viadagem na escola” tem em Bolsonaro o seu melhor representante, pois o seu discurso contra esses grupos é duríssimo.
Tenho a impressão, pelo que eu escuto em sala de aula e fora dela, que Bolsonaro é um coringa que serve para diversas situações. Você está “puto” com os políticos ladrões? Bolsonaro! Você é contra a desordem, a violência, os direitos humanos, que só defende bandido? Bolsonaro! Você é contra o fim da família? Bolsonaro! Você quer renovação na política? Bolsonaro! Ou seja, se você é contra “tudo isso que está aí”, Bolsonaro!
A escolha do eleitor não é somente por um cálculo racional do que é melhor ou pior para ele. É também emocional e os símbolos que ele tenta representar, caem bem para uma sociedade completamente decepcionada com os políticos e carente de um líder, forte, para por “ordem na casa”.
Como se combate isso? Não sei ao certo, mas acho que a educação é o principal. A maioria dos eleitores são pouco instruídos e informados. O grau de instrução é baixíssimo. Mais de 80% não terminou o ensino médio e esses estão mais suscetíveis ao discurso simplista de políticos como Bolsonaro.
Precisaríamos educar a população, mas com as reformas educacionais em curso, que enfraquecem as ciências humanas, sou cada vez menos esperançoso quanto a isso.
Sobra o diálogo cara a cara ou nas redes sociais. E aí, tenho uma certeza: a “esquerda lacradora” que só debocha e não dialoga com os bolsonaristas, não ajuda em nada. 
Parece que debatemos para “vencer o debate” a qualquer custo, sem se preocupar em convencer de fato o interlocutor.
Não acho que valha a pena discutir com pessoas propriamente facistas. Eu não debato. Mas a maioria dos eleitores de Bolsonaro sequer sabe o que é isso e nem sabe o que ele pensa de fato. Com esses, que acho que são a maioria, acho que vale à pena dialogar.
Bolsonaro, bem como Mussolini, Hitler, Franco, etc. não existem fora de um contexto que os produz. É inútil somente criticar, ridicularizar, um personagem, no caso, Bolsonaro, sem combater suas ideias de origem. Se Bolsonaro morrer, outro o substitui, prontamente, pois o terreno está fértil para as suas ideias. Por outro lado, se combatermos as suas ideias de origem e o contexto que facilita sua expansão, “Bolsonaros” desaparecerão ou serão somente uma piada.
Ou seja, podemos “lacrar” menos e dialogar mais.

Redação

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