Brasil precisa de lockdown nacional, diz pesquisador de Oxford

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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O pesquisador aponta que, após bater 200 mil mortes nesta semana, "outras medidas não gerarão efeito suficiente no tempo que temos até a vacina ser implementada"

© AP Photo / Silvia Izquierdo

da Sputnik Brasil

Na avaliação do médico Ricardo Schnekenberg, pesquisador da Universidade de Oxford e do Imperial College, no Reino Unido, o Brasil precisa entrar em “lockdown” nacional.

Em uma entrevista ao jornal O Globo neste sábado (9), Ricardo Schnekenberg disse que a abordagem regional da pandemia tem problemas práticos, e não basta que estados apliquem restrições. Para ele, o lockdown é uma medida ruim, “que ninguém quer tomar, mas, diante da situação atual, é a única possível”.

O pesquisador aponta que, após bater 200 mil mortes nesta semana, “outras medidas não gerarão efeito suficiente no tempo que temos até a vacina ser implementada”.

“Não estamos na mesma situação de março, em que se falava em lockdown e não se tinha perspectiva de quanto tempo iria demorar. Agora (com as vacinas) temos um horizonte muito mais próximo. É uma medida de curto prazo, que não faz o vírus desaparecer, mas reduz o número de casos para que outras sejam implementadas e tenham efeito a longo prazo”, explicou Schnekenberg.

Manifestantes protestam, em terminal rodoviário de Brasília, contra demora para início da vacinação contra a COVID-19 no Brasil, em 23 de dezembro de 2020. © AP PHOTO / ERALDO PERES

Segundo ele, à exemplo do Reino Unido, o governo do Brasil deveria implementar o confinamento, com organização a nível nacional.

“Na situação em que o Brasil está, com transmissão comunitária em graus tão elevados, outras medidas de controle não são efetivas”, afirmou. O cientista acredita que autoridades regionais não têm a capacidade necessária de fiscalização.

“O poder público estadual e municipal não têm capacidade de fiscalização suficiente e não parece que a população realmente esteja aderindo de forma significativa”, afirmou.

O pesquisador enfatizou a importância do auxílio emergencial durante um possível lockdown. “Não tem como esperar que as pessoas percam o ganho e fiquem em casa sem ter nenhum suporte. Em outros países isso sempre vem acompanhado de pacotes de suporte financeiro, empréstimos a juros baixos e diversas medidas”, afirmou.

Movimento em frente a agência da Caixa Econômica Federal na cidade de Brasília, na manhã desta segunda-feira (14). A Caixa realiza o pagamento do auxílio emergencial e o saque emergência do FGTS. Benefícios tem o intuito de minimizar o impacto causado pela pandemia do novo coronavírus. © FOLHAPRESS / MATEUS BONOMI

O pesquisador acredita que o confinamento deve ser “intenso”, com o fechamento de todas as atividades não essenciais.

“Acredito que um lockdown extremamente intenso seja necessário, mantendo somente atividades essenciais e estabelecendo fiscalização forte para que as pessoas respeitem as regras. Cada domicílio deve conviver dentro de sua bolha familiar até o final do lockdown, com as únicas saídas diárias permitidas para compra de itens essenciais, consultas médicas e exercício físico ao ar livre respeitando o distanciamento social”, concluiu o pesquisador.
Críticas ao Enem

Ao ser confrontado com a informação sobre a data do Enem no Brasil em meio ao amento de casos da COVID-19, Ricardo falou em absurdo.

“Esse tipo de conduta é absurdo do ponto de vista sanitário. Nenhum país faz um evento como esse — que podemos chamar de evento de superdisseminação — em um momento em que está tendo 1.200 mortes por dia. O Reino Unido ia ter algo parecido, uma prova que os adolescentes fazem no final do ensino médio e conta para a entrada na faculdade, e foi cancelada em 2020 e em 2021 inteiro”.

Ainda com relação ao exame, o pesquisador de Oxford pergunta: “Qual pessoa vai realizar uma prova tão importante assim, vai acordar com tosse seca e cansada e não vai fazer o exame? Isso é absurdo. Fora o risco dos assintomáticos. E tem o lado das famílias, que podem ter idosos ou outros grupos de risco que estejam seguindo todas regras para se proteger: vão dizer para seu filho ou neto que tem que perder um ano porque não vai fazer a prova, ou vão aceitar o risco? Estamos colocando as famílias em uma situação imoral”.

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

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