Cilene Victor: Imprensa precisa criar narrativa contra a “fadiga da compaixão” na pandemia

Com o País chegando perto das 100 mil mortes por coronavírus, a mídia precisará encontrar outras formas de sensibilizar e conscientizar a população, diz especialista em comunicação de risco. Assista ao Cai na Roda

Foto: Charlotte Borges

Jornal GGN – Com o Brasil se aproximando das 100 mil mortes por coronavírus, a imprensa nacional precisará surgir com uma “nova narrativa” para enfrentar o que os especialistas em Comunicação chamam de “fadiga da compaixão”, ou seja, a falta de empatia pela dor ou problema enfrentado por outra pessoa. Esta é a avaliação da jornalista, professora universitária, pesquisadora e especialista em comunicação de risco, Cilene Victor, a quarta convidada do programa Cai na Roda, pilotado pelas mulheres da redação do GGN no Youtube [assista ao final].

Na visão de Cilene, a imprensa tem feito um “excelente trabalho” na cobertura da pandemia do novo coronavírus. “Como em cenário de guerras”, acesso à informação, apuração de fatos, checagem de fake news, reportagens que orientem como a população deve agir em benefício de sua própria segurança é tão importante quanto o governo adquirir e distribuir insumos, por exemplo.

Mas essa cobertura precisa ir bem além da apresentação de dados. “Chega um momento em que as estatísticas, os números, eles vão se tornando muito frios. Do mesmo modo que a gente convive com o risco e somos tomados pela sensação de que temos controle sobre ele, do ponto de vista das estatísticas, (…) chega o momento em que a imprensa tem de pensar em outras narrativas. Porque a narrativa do 90 mil, 95 mil, 100 mil, 200 mil mortos, na academia, isso gera a chamada ‘fadiga da compaixão’. ‘Eu já não me solidarizo mais, não sinto empatia sobre esse problema. É o que Bauman chama de ‘véu da normalidade’. Se torna normal, nós perdemos o momento em que registrar mais de 1 mil mortes por dia era algo imoral, assombroso. Acabou isso. Vamos ter de adotar outras narrativas. A narrativa das estatísticas é importante pela transparência, mas as pessoas precisam ser informadas e orientadas além da estatística”, defendeu.

Ao longo da entrevista, Cilene explicou o que é comunicação de risco e analisou o papel de governos e de instituições referenciais – como a OMS ou Ministério da Saúde, por exemplo – numa crise sanitária. Ela também disse o que é preciso mudar no Jornalismo para que a comunicação seja menos “elitizada”.

Assista à entrevista completa:

 

Redação

5 Comentários

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  1. Projeto tributario esta sendo prepaado para o congresso aprovar. o Maia ja disse que apoia a destruicao do pais, programa do boso. O Guedes esta querendo destruir os trabalahadores e segue implacavel.
    Enquanto isso estamos buscando que a midia nos ap0resente uma nova narrativa. Estamos, supostamente canssados da compaixao.
    Compaixao so existe na classe media e classe media alta e elites, quando a merda atinge o ventilador e os rentistas perdem dinheiro. Fora disso e so conversa mole pa boi dormir.
    Muitos poucos destas classes abastadas se ocupam do pais, de sua soberania, de boas escolas/universidades/colegios/creches/ publicas.
    Covas quer privatizar os Centros de Estudos Unificados, Escola que treina tecnicos de Saude, etc…enquanto isso a midia se foca em si mesma.
    Acorda Brasil. acorda, pois o infeno esta esperando aqueles que estam indiferentes as miserias e sofrimentos do povo.
    Escute o audio livro do Pai Rubens Saraceni: “Dialogo com um Executor”auio feito por Refael Kircher.
    Se voce nao se endireitar, os Guardioes punitivos e os Guardioes, transformadores estaram a sua/ nossa/vossa/ (politicians, advogados, juizes, medicos, contadores, jornalistas, etc), pois nao vao, vamos ter colher e cha.
    Acorda enquanto estam na carne, pois apos a morte vao pagar ate o ultimo centil.

  2. O povo brasileiro é um povo idiotizado, o que se pode exigir dos meios de comunicação? Que eles tratem essa população como se ela fosse uma criança inconsciente dos cuidados que deve ter para consigo própria? A população brasileira vive num estado de demência e de entorpecimento.

  3. Nossa mídia é golpista.
    Basta comparar a cobertura com o “acidente ” ocorrido no Líbano e a cobertura realizada com a pandemia.
    As quase 200 mortes de lá causam muito mais impacto dos que as mais de 1000 que ocorrem todos os dias há quase 2 meses seguidos aqui.
    Nossa mídia golpista,com sua narrativa adocicada,conseguiu transformar mortes em números,nada mais que isso.
    Quem acha que a mídia está fazendo um grande trabalho precisa tomar cuidado,é muito provável que esteja sendo enganado.
    O mais importante não é o que dizem,mas como dizem e,sobretudo, o que não dizem.
    Essa gente prefere entrevistar os “coitados” muito bem cuidados e com ótima internet no Líbano a fazer um cobertura com os pobres que morrem todos os dias por causa da pandemia.
    Entende-se: ao mostrar nossos pobres,seu drama e sua realidade o risco de uma ruptura aumenta, e muito e,como sabemos,ainda tem muito o que ser saqueado em nosso país .

  4. Pertinente atual e necessária a referência de Cilene Victor ao conceito de “compaixão fatigada”. Pois é um discurso recorrente na mídia. Tratei do tema em artigo ” A longa noite de 50 anos”, de 2019, no Jornal GGN e no VIOMUNDO, por ocasião dos 50 anos do JN: “Esse desinteresse pelo ‘outro’ advém do ‘cansaço’ pré-fabricado pelos media apontado por Susan Moeller (em Compassion Fatigue, How the Media Sell Disease, Famine, War and Death. London: Routledge, 1999). A repetição das imagens de massacres e catástrofes banaliza o terror perante a ‘opinião pública’, que mantém uma relação distanciada com a tragédia que será sempre do ‘outro’, sem relação com a sua própria existência”.
    In https://jornalggn.com.br/midia/jn-a-longa-noite-de-50-anos-por-tulio-muniz/

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