do desprezo da nossa sociedade pela Democracia

…do desprezo de nossa sociedade pela democracia…
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Qual a ligação mais forte e evidente entre a reação de nossa elite e classe média diante da crise de 64 e a de 2016? O desprezo pela democracia enquanto ÚNICO AMBIENTE POLÍTICO SAUDÁVEL PARA UMA NAÇÃO!
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O fator predominante para essa repetição dramática de comportamento é óbvio: o monopólio midiático concentrado em poucas famílias, desde sempre. Tangidos por artigos histéricos, propositalmente elevando a temperatura das “crises” tanto em 64 quando agora, vemos o mesmo processo psíquico atingindo as pessoas de um modo perverso, paroxístico.
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Os historiadores, no futuro, colherão fartas evidências da semelhança quase total em ambas as “ondas sociais” provocadas pela mídia. Inclusive, quanto a algo constrangedor: todas as crises foram inventadas, criadas, problemas pequenos que seriam corrigidos com mudanças de curso nos governos, transformados em “um país à beira do abismo!” – em ambos os momentos, a DEMOCRACIA teria sido essencial para que as coisas melhorassem. E foi ela justamente tirada de lado, para que os interesses dos golpistas prevalecessem sobre os interesses do povo brasileiro.
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Quais os pontos centrais dessa estratégia de manipulação e cooptação de nossa sociedade pelos poderosos?

1 – O medo! medo do “comunismo”, da perda de bens e renda, da perda da democracia (de um cinismo atroz, acaba-se com a democracia, por medo que a esquerda a destrua um dia….), e até conceitos que nenhum deles entende, como em nossos tempos, o tal do “bolivarianismo”

2 – Colado ao medo, os preconceitos. Jango e Lula foram sempre vistos com extrema desconfiança por essa parcela da sociedade, reduzidos ambos a conceitos preconceituosos e de fácil assimilação. Jango mais como “o comunista”, Lula, nem tanto, a mídia sempre tentou colar nele, nos últimos anos, a pecha do “chefe da quadrilha petista”. Mas ambos SATANIZADOS, transformados na “essência do mal” – quando então, “não resta alternativa” aos “homens de bem”, a não ser “combater o “mal” e destruí-lo!.
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A lista seria mais ampla, mas paro por aqui. Qual a estratégia usada por esses brasileiros, diante do impasse criado artificialmente pela mídia, levando-os a um ambiente social de pânico, desespero e ódio por Jango e Lula? O GOLPE! Em 64, via militares, em 2016, via um Judiciário totalmente sórdido pela parcialidade total, uma politização jamais vista em nossas instituições antes e via o Congresso mais corrompido de todos os tempos, um impeachment comandado por ninguém menos que Eduardo Cunha.
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Portanto, há um elemento NARCÍSICO, extremamente perverso, autoritário, arrogante, no sentido desses brasileiros de classe alta e média arrogarem-se uma “supremacia natural”, e direitos idem, onde se sentem confortáveis em decidirem pela FORÇA o destino de um país que afinal, “é nosso!”, segundo o sentimento dessa parcela da sociedade.
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O povo, não conta, não é levado em consideração, e isso é tornado explícito pelo modo paternalista ou o desprezo com que são tratados. Lembremo-nos da reação nas ruas e redes sociais quando Dilma venceu Aécio: “nordestinos burros”, “pobres vendidos pelo bolsa esmola”, eram alguns dos epítetos concedidos pela Casa Grande aos brasileiros da Senzala.
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Como em 1964, os brasileiros de hoje posicionados no topo da pirâmide social trataram a DEMOCRACIA como um valor menor, era a última de suas preocupações, o importante era “tirar a petralha do poder”, fosse qual fosse o “preço a pagar”.
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Explica em grande parte sermos o país que somos, essa triste e vergonhosa mistura de misérias múltiplas, violência rural e urbana, recordistas em homicídios, detentores de índices indignos de qualidade de vida, corrupção desenfreada, a “meritocracia” mais cínica do planeta, onde o filho do favelado concorre com os filhos de nossa elite social – e programas de governo que tentaram minorar essa desproporcionalidade vil, foram sistematicamente atacados.
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Somos provavelmente um dos países onde nem há uma luta de classes, tamanha a desproporção das forças, do alcance da voz entre as classes. O que há é o esmagamento de uma classe pela outra, o poder absoluto de uma SOBRE O DESTINO DA OUTRA, e sem democracia, isso jamais será revisto, jamais será modificado.
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Diante de tamanho atraso, a primeira coisa que tínhamos que conquistar no Brasil, por incrível que pareça, é justamente A LUTA DE CLASSES, o que nunca houve salvo tímidas tentativas logo derribadas.
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Lula sintetizou em si, a GRANDE OPORTUNIDADE HISTÓRICA para que essa conciliação se desse sem lutas, sem guerra, sem ódio. Por isso, acima de qualquer outro fator, ENCANTOU O MUNDO, estadistas e intelectuais enxergaram o exemplo magnífico que poderíamos ter sido. Não deu tempo de concluir a obra. Os desastres iniciais do governo Dilma, o furacão IDEOLÓGICO promovido pela lava jato e a mídia, o fanatismo e o ódio dos brasileiros de classe média botaram tudo a perder, claro, com a omissão e ingenuidade do governo colaborando para esse intento.
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O que sobrou? Que país temos nas mãos hoje, um ano após o GOLPE contra Dilma, contra a democracia?
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Temos uma terra arrasada, um país governado por bandidos da pior espécie, temos o desprezo do mundo civilizado, temos a pecha maldita, do “país que não tem jeito….” – quando, durante uma década ao menos, nos foi concedido o direito ao sonho, à visão do que podemos um dia nos tornar. Temos uma mídia ORDINÁRIA, cínica, totalmente desprovida de civilidade, amor ao país, ao jornalismo minimamente honesto, empresas que quando dizem a verdade dos fatos, o fazem apenas porque isso COINCIDE com seus interesses. Temos um Judiciário torpe, POLITIZADO ATÉ A MEDULA, de direita extrema, fascista, excludente, capaz de levar à morte uma senhora humilde e digna, por ser a mulher do líder que eles odeiam e querem ver humilhado e destruído. Um Judiciário capaz de promover a quebra de grandes empresas, nos trazer de novo ao desemprego em massa, à fome, ao desespero, por obscurantismo, falta de visão ampla do que seja uma nação, fanatismo e ódio. Temos uma sociedade tosca, tornada em um rebanho desumano, cego, fanático, que prefere a destruição dos direitos mais fundamentais e da democracia, SE FOR O PREÇO PARA O EXORCISMO DO NOSSO “SATANÁS SOCIAL”..- Uma gente analfabeta de História, de Humanismo, de Política, que faz de si mesma a classe social com os direitos de comandar o país, impondo seus pensamentos, seus sentimentos, seus paroxismos, eles, os responsáveis diretos por todos os nossos horrores.
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Portanto, a DEMOCRACIA, sem a qual uma classe social não pode se fazer representar, é hoje nosso “santo graal”, nosso maior objetivo, motivo de uma luta que não pode e não deve medir métodos ou consequências, a democracia tem que ser nosso ar, é simples assim. Sem ela não existiremos enquanto povo, enquanto cidadãos, enquanto VOZ, enquanto seres humanos plenos.
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Os que desprezam a democracia, mídia, Judiciário parcial, classe média e alta, estão do mesmo lado, lhes será indiferente se virá Rodrigo Maia, Nelson Jobim, Carmen Lúcia, importa que venha alguém “do seu meio”, alguém que os represente e às suas ideologias, crenças, objetivos.
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Eles podem portanto, seguir em frente sem essa tal de democracia.
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Para nós, é apenas um primeiro passo ESSENCIAL, para que tenhamos de novo, um “campo de batalhas”, um terreno onde possamos lutar por nossos sonhos e ideais.
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(eduardo ramos)

Redação

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